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bem vindo e bem vinda. este é um labirinto herege: um desafio para medir a astúcia de quem me visita; um convite à exploração sem mapas e vista desarmada. aqui todas as direções se equivalem. as datas das postagens são irrelevantes. a novidade nada tem a ver com uma linha do tempo. sua estrutura é combinatória. pode começar de onde quiser. seja de uma imagem, de um texto, de um vídeo ou mesmo de uma música. há uma infinidade de escolhas, para iniciar a exploração, para explorar esse território e para finalizá-la. aproveite.

[conto] EcOs de uma tUcAndEirA mEcAtrÔnicA [tUk:|:mEk z3r0] (out.23)


EcOs de uma tUcAndEirA mEcAtrÔnicA [tUk:|:mEk z3r0]
 
 
o relato a seguir coloca, ao alcance dos povos originários do futuro da ancestralidade atual, uma singularidade da riquíssima literatura neurolográfica do povo negríndio ciberpanque cerradista. conseguimos recolher esse relato momentos antes dele ser colocado na fogueira desmaterializadora do eterno esquecimento (FDEE/BR). interceptamos os dados sinápticos para mantê-lo a salvo na rede neural transbioelétrica desta nossa oca submarina B4L3[I.A.]_PR3T4_H4CK3R_CLB3.
ayo tukã’di 495


tUk:|:mEk z3r0

    transmite-se sinapticamente o relato de que pix3l 130 imergiu no meio do holoateliêlab, de uma reconhecida artengenheira neurorobótica, e que lhe pediu uma dádiva. após isso perguntou-lhe a grandiosa cien[ar]tista:

– o que são estes destroços?

– fie-os. torne-o troço outra vez.

– pois bem, troce-ei-lo.

    em outra transmissão, conta-se que deu-lhe silício, cânhamo, cobre e frutas desidratadas. depois pix3l 130 permaneceu em zeros e uns no holoateliêlab dela. deixara o em suspensão. no entanto ele conseguia espiá-la. ele tinha um terceiro olho analógico. mas que deixava rastros quando mirava. era possível sentir que ele a observava. arrepios de 8 a 16 bits. enquanto isso a generosa artengenheira dava seus neurônios, suor e dádiva ao troçamento arteiro de retranscomposição.

– ei, olho mecânico, sinto que você se sente incompleto.

    vermelho, redondo, frio como metal líquido, uma resposta pastosa lhe respondera:

– desejo sua aura.

– o que isso significa?

    falou-lhe outra vez, mas com viscosidade vulcânica:

– eu queria que a parte mais bela de você estivesse sempre comigo. em mim. auracomposta.

    a cien[ar]tista era muito generosa. apesar de tanta viscosidade pegajosa que a mirava, mesmo assim, cantou para ele:

    então seu nome se fez presente titâniquel 55; com tal evocação ela revelou-lhe todo seu poder e lhe cuspiu a saliva que pix3l 130 tanto necessitava.

– agora, quando acabar de ir embora, mete esta tUk:|:mEk z3r0 em teu peito e deixe-a pulsar!

    sem pestanejar, pix3l 130 meteu-a logo. todo seu corpo se preencheu da dor mais terrível que alguém podia sentir. em nenhuma de suas viagens espaço-tempo-materiais havia experimentado tamanha queimação. parecia-lhe que um enxame de balas de antimatéria tinha lhe atingido cada átomo de seu corpo em permanente retroçamento. dor a nível subatômico!

– uh! uh! uh! que terrível! aaaaaahhhhh...

    a dor foi amenizando. a sensação era a de se estar chegando em casa, após uma longa viagem, plena em contratempos, desconfortos e desavenças. o prazer era eminente. o gozo prestes a acontecer.

– uh! uh! uh! que terrilícia! aaaaaahhhhh...

    aconteceu! agora os gritos de pix3l 130 eram de alegria e satisfação. titâniquel 55 lhe criara um coração. uma pulsante paraponera clavata mecatrônica – cujo anima é a aura de sua criadora – lhe tornara seu centro vital. desde então, transmite-se em infindas redes neurais bioeletrônicas que quem tiver uma tUk:|:mEk no lugar de seu coração poderá reconstruir o cosmos que quiser. mas lembre-se! tal recriação, somente é possível, para fins de dádiva, colaborações e inspirações mútuas.

*****

léo pimentel {(A)m(A)nt(E):|:da:|:h(E)r(E)si(A)}
cerrado, primavera, 2023
 
 
 
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nota: a tUk:|:mEk z3r0, ou MeckTucandeira, que inspirou este conto, é uma obra maravilhosa de assemblagem realizada pela grande arteira Martinique Schultz. a princípio a tUk:|:mEk z3r0 foi traga à existência para servir como objeto/símbolo performático do festival de música experimental TUCANDEIROMANCERS. isso porque tal festival prestou uma homenagem ao ritual de iniciação masculina do povo Saterê-Mawé, a partir da simbologia do uso da formiga-bala (tucandeira), e ao célebre livro "neuromancer" de william gibson, grande marco do cyberpunk. no entanto, a MeckTucandeira se independizou para alcançar novos horizontes e singularidades: tornou-se persnagem folclorefuturista.

veja seu processo criativo no perfil do instagran da nique, o NIQRIATURAS


[fotos tiradas do perfil NIQRIATURAS]

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