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bem vindo e bem vinda. este é um labirinto herege: um desafio para medir a astúcia de quem me visita; um convite à exploração sem mapas e vista desarmada. aqui todas as direções se equivalem. as datas das postagens são irrelevantes. a novidade nada tem a ver com uma linha do tempo. sua estrutura é combinatória. pode começar de onde quiser. seja de uma imagem, de um texto, de um vídeo ou mesmo de uma música. há uma infinidade de escolhas, para iniciar a exploração, para explorar esse território e para finalizá-la. aproveite.

ab-orígenes

(do latim:
ab=desde
+orígenes=
ablativo de
origo=origem)

que é originário. pois bem.

no outono de 1976, fui parido, sem me perguntarem se queria ou não, na ilha abstrata que é brasília. por sorte este plano cartesiano, com pretenções à piloto, não engoliu os afetos, as vitalidades e as consciências de tudo o que é vivo em meu corpo.

desde cedo, dado aos feitos caóticos de idéias cruéis infantís, de idéias anarquistas da adolescência, uma grande política do acaso me delineou e me conduziu à universidade de brasília, em 1994. por lá estudei filosofia. da graduação ao mestrado. paralelamente à uma vida celebrada ao som de bandas punks, festas eletrônicas, literatura ciberpunk, ficção científica, viagens aventureiras de carona e saborosas conversas metafilosóficas com o brilhante logodramaturgo e imagem-pensador julio cabrera. até sentir que, para ser um amante da sabedoria, eu teria que seguir uma longa carreira acadêmica. tão longa que a hiperexposição à hierarquia e ao status da titulação poderia dobrar meu corpo, tornar-me um corcunda dócil e até assexuado. toda a força  vital seria canalizada para um ser competente. algo brilhante de futuro promissor. tranquilamente senti que o canto dessas sereias universitárias jamais me seduziriam.

após ter defendido minha dissertação de mestrado (2004), elementos de uma genealogia do gesto geométrico - que foi mais um ataque do que uma defesa de tese - orientada pelo geurrilheiro da filosofia, da geometria, e da epistemologia do romance,  wilton barroso. parti para uma meteórica experiência profissional na área. fui professor numa faculdade particular até  a primeira metade de 2007. por lá tive a oportunidade de pensar a tarefa impossível de educar, ao mesmo tempo em que fui aprender a arte do kenjutsu (espada samurai) de miyamoto musashi no instituto niten. nauseado em relação às pessoas que expressavam um sentimento profundo de lealdade à tribo da educação institucional e, fortalecido com a sabedoria da harmonia entre a "pena e espada" de um magnífico ronin, decidi abandonar qualquer dever de ter que vingar o sangue dos parentes de profissão. foi o momento da virtude da juventude, a coragem, tornar-se virtude da maturidade, a estratégia.

o que movia meus pensamentos sempre foi considerado, pelos meus pares ditos filósofos, ora como criminoso, ora como aviltante. assim voluntariamente rompi qualquer possibilidade de vínculo tribal institucional. passei a viver pelas margens transversais dos princípios que regiam essa sociedade que, em momento algum, me enviaram algum de seus representante para que me perguntasse se eu gostaria ou não fazer parte dela. a maior quebra da dignidade humana - se isso existir - é um apátrida ontológico ser obrigado a viver sobre a tutela de alguma nação. mesmo que esta seja em um sentido metafórico: "estado dos filósofos" e "filósofos do estado", ou "corporações de filósofos" e "filósofos de corporações", dá no mesmo.

não perdendo mais tempo com pessoas que querem, o tempo todo, discutir, montar grupos de estudos e parir produtos acadêmicos para a indústria da titulação, estreitei e cultivei - confesso que houve muita negligência minha em ambas - relações com pessoas que já estão abertas para tudo o que está por criar. aqui estou. sem ambições inúteis de ser padre, professor ou político - também em seus equivalentes - ou, em outras palavras, sem as pretenções impossíveis de curar, educar e governar. portanto, eis me aqui: ecce bestia!

léo pimentel souto - primavera 2009

1 Comentário:

Carlos Almeida disse...

'a indústria da titulação'... às vezes tenho esse mesma impressão do que seja a Academia. Me corrói porque a filosofia não compactua com isso: "que queres que te faça? - com licença, o senhor está tapando a luz do Sol"...

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quando falamos "eu penso que...", quem será que escondendo? a voz do pai? da mãe? dos/as professores/as? padres? policiais? da moral burguesa ou proletária? ou as idéias de alguém que já lemos? escutamos? ou...
 
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