Saudações transanárquicas!
Aqui fala a dupla consciência de c[I]bÉr10 e AmAntE da hErEsiA. Viemos fazer uma resenha por aqui. Abrir uma prosa. Em tempos de evitação de conversação e mergulho de cabeça nos papos-furados, ainda somos utopistas. Somos adeptos de uma boa troca de ideias. Portanto, simbora!
Abre-se setembro. Mês de ritos bioeletromecânicos dos mais diversos experimentadores. Pôr-se em experimentos é a condição de se lançar e celebrar as mais belas artes arteiras da comprovisação. Palavras, silêncios, poesias e urros. Ruídos, musicalidades outras, ondas sonoras ao acaso, dodecafonia, remelodias. Palco da imaginação, performances, figurinos, nudezas, presença e fibras óticas. Ruptura de goyá! Majas desnudas! São elas: Audioexposição, MekHanTropia Ano Zero, Posthuman Tantra, BSBLOrk, ELP e mEgAjAm!
O dia 03 estava lindo. Pois a primavera se anuncia em meio ao fim do inverno. As cores estão prestes a florescer e a fauna já começa a se agitar, e nós, fazemos parte dela. De um lado o sol brilhava com todo o esplendor de rachar que o cerrado agradece. Do outro, uma gigantesca nuvem negra carregadíssima de chuva com toda a torrente que o cerrado também agrade. E nós, entre estações, entre a magia e a ciência, entre carbono e silício, bem no meio como uma linda zona cinza celebrante. Zona cinza e não zona entre cinzas.
Mas antes, 5 pr0v0x criam a atmosfera deste nosso festival de música experimental por vir!
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Sim! Formigas-bala e William Gibson! Ferroadas e mestres! Belas artes das neurotoxinas! Tucandeiromancers! Metáforas ruidosas que atacam o sistema nervoso e são capazes de gerar alucinações. Para algumas pessoas, a transcendência, para outras, a transgressão, e para todes, jamais voltarás ao que se era antes. Com esse espírito abrimos o espaço cultural Ruptura, em Goiânia, para a Audioexposição. Convites foram feitos, promessas também. Em quantidade, apenas a MekHanTropia e o pUnk[A]l_sUlUk por lá se fizeram presença. Em qualidade ambas esperaram. Esperaram… esperaram… enfim, um vazio cheio de possibilidades…
19 horas, MekHanTropia Ano Zero abre a noite. Segundo seu regene Fredé CF, o termo “MekHanTropia” é um conceito poético, criado por ele para explorar o processo de transformação do Homem (antropo) em Máquina (mekhos) aproximando-o tanto à “misantropia” quanto às dispersões causadas pela tecnologia. E sua performance representaria o Ano Zero dessa era MekHantrópica em que vivemos. Nada misantropo, Fredé, além de sua voz, violão e vídeo, estava acompanhado por Evandro Galo Power, nos bongôs, por Poesia Solta, com sua voz, palavra e sensibilidade, e participações especiais de Ciberpajé, arrasando em seu kaossilator, e uma pontinha abrindo a performance, de AmAntE da hErEsiA lendo seu Oitavo Passageiro Pós-MekHanTrópico.
Na sequência, Ciberpajé (aka. Edgar Franco), em ação performática transmídia, torna-se one Posthuman Tantra! Nesta versão, contando com as performances cíbridas apenas de seu criador e regente, mas com o apoio de bastidor do ilustre Luiz Ferz, o projeto musical transmídia torna-se uma realização performática poético-filosófica que oscila entre o ruidoso fotoelétrico, o transe analógico de um berimbau de boca e a poesia monstruosamente poderosa e delicada. Expansão direta de seu universo da Aurora Pós-humana.
Já são 20 horas e 30 minutos, outras localidades no planeta ansiosamente esperam para se conectar com seus outros virtuosos. A BSBLOrk, orquestra de laptops de Brasília, precisa se realizar em rede como concerto híbrido, em realizações espacialmente múltiplas nos mais diversos níveis de interação. Em goiânia, Eufraktus X está conectado a Phil Jones, Eduardo Kolody e AmAntE da hErEsiA, e para Goiânia, euFraktus X conecta, pelo Jamtaba, Leandro MR (Colômbia), Victor Hugo (Brasília). É também um dia de múltiplas celebrações. Fazem 108 anos do nascimento do compositor Hans-Joachim Koellreutter, portanto celebrar-se-a com uma improvisação livre de música não-trivial e sistemas generativos algorítmicos computacionais, incluindo live coding e inteligência artificialmente aumentada.
O quarto projeto a se colocar como experimento foi o Trio ELP + 1, Eufrasio, Léo, Phil e Kolody. A regência agora fica aos cuidados de Phil Jones. Seu corpo estará como experimento gerador de toda a performance. Phil torna-se um ciborgue síntese entre o humano e o sintetizador, onde seus batimentos cardíacos são os responsáveis por fazer música. São utilizados sensores de batimentos cardíacos ECG para arduinos. Tal sintetorgânico possui dois assistentes científicos, o magnífico e sombrio Dr. Mod F(r)oker e o doutor ciberpunk da peste Dr. Heresia. O primeiro assistente, o de rosto de iluminada escuridão, comprovisa com um maravilhoso complexo de pedaleiras, já o segundo, o de rosto de trevosa brancura, comprovisa com um brincante teremim óptico redutor de cabeça e escaneador de redes neurais cênicas.
Eis que chega a hora de estar todo mundo junto e misturado! Urge a MegaJam! Phil conduz o começo do caos. Logo já não saberá mais o que se insurgirá daí. Muito menos saberá o que vai insurgir quando nosso grande convidado, Alysson Drakkar, se juntar a nós. Ao público, será possível fruir nossa brincadeira? Pois, nós Tucandeiromancers neste festival de música experimental, adoramos estar aqui. Do caos ao acaso, a música acontece em tempo real. É como se a música das esferas passasse a ser composta pelo princípio de incerteza. Ondas mecânicas e eletromagnéticas, ao mesmo tempo em múltiplas direções de propagação e de vibração, fluindo rumo a uma teoria das cordas trançadas por nós mesmos.
Aplausos e mais aplausos. Um pouquinho mais de aplausos. A adrenalina circulava por nossas veias. Não podia terminar ali. Toda aquela potência reverberando e entrando e saindo por nossos poros. O acaso sempre vence. E o caos? Sim! Outro caos é possível. Lillith Overdrive! Sim! Porque não mais uma brincadeira gibsoniana? Uma espécie de bônus performance inominada e não pensada até então. Nome ficção. Nome fantasia... realizada. Mas de repente, o peso da guitarra de Drakkar começa a distorcer nosso campo gravitacional. Em seguida, insurgem de AmAntE da hErEsiA, gritos e urros sintético-guturais de um teremim óptico filtrado por um monotron, começavam a viajar na velocidade de dobra, nos envolvendo. Enquanto essa trama cósmica começa a se consolidar, insurgem poderosas percussões incidentais vindas de Fredé. E assim insurgiu o fim do festival de música experimental Tucandeiromances! Mas será mesmo um acontecimento único? Veremos… veremos… ouviremos...
Depois de tudo isso, a gratidão é imperiosa. Valeu demais, Luiz Fers! Nosso grande amigo artista transmídia e talentoso figurinista cybergótico e cyberpunk, por ter confeccionado os figurinos das performances do Ciberpajé na Posthuman Tantra, os acessórios e a máscara do Dr. Heresia no Trio ELP, e as vestes de Ciberpajé e de AmAntE da hErEsiA. E agradecemos de todo o coração ao grande amigo atencioso e acolhedor Cleiton e à extraordinária artista de imenso talento e de experimentações maravilhosas, Adriana Mendonça, que nos cederam o uso do espaço cultural Ruptura.
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