sugestões de uso deste blog

bem vindo e bem vinda. este é um labirinto herege: um desafio para medir a astúcia de quem me visita; um convite à exploração sem mapas e vista desarmada. aqui todas as direções se equivalem. as datas das postagens são irrelevantes. a novidade nada tem a ver com uma linha do tempo. sua estrutura é combinatória. pode começar de onde quiser. seja de uma imagem, de um texto, de um vídeo ou mesmo de uma música. há uma infinidade de escolhas, para iniciar a exploração, para explorar esse território e para finalizá-la. aproveite.

[A]UdIOzIn[E] I do [A]n[A]rqUIsmO f[A]nt[Á]stIcO

toda ficção é uma tomada de posição política. no gods, no masters! pois, alienar-se é deixar que o niilismo conveniente das histórias fantásticas de visão nostálgica de uma sociedade ocidental idealizada ocupe nossa imaginação. ah... que nossas ideias voltem a ser perigosas? não, nós é que devemos ser o próprio perigo. pois não deixaremos aberta uma brecha sequer para que consigam nos impedir de vivermos a anarquia que queremos agora! se nosso realismo é anarquista, que nosso anarquismo também seja fantástico!

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este é um resgate insurgente da contação de histórias, da oralidade e do colar o ouvido no radinho.

é um audiozine com múltiplas vozes (10 convidadxs), nascido do m[A]nIf[E]stO do [A]n[A]rqUIsmO f[A]nt[Á]stIcO escrito por mim em 2016. é um chamado à luta de defesa de nossa imaginação. assim como damos importância ao que comemos em todas as suas implicações e dimensões políticas e existenciais, como no caso do veganismo anticapitalista, faço o mesmo em relação à imaginação. mas é um chamado irregular, pois já está contido nele elementos do fantástico.

nele criei um universo ficcional cujas entidades insurretas, eu as libertei de seu contexto original, no caso o folclore brasileiro e, a partir de tal liberação, recoloquei-as em novos contextos fantásticos revolucionários – no caso, nas diversas manifestações políticas anarquistas.

para a criação desse universo ficcional, experimento caminhos que são verdadeiros processos de hibridação quimérica triangular entre cultura popular, onde o povo é o agente criador, a cultura pop, onde o povo é receptor de “artes” mediadas, e a cultura acadêmica, onde há uma necessidade de se posicionar diante das imagens.

este audiozine é composto por 11 faixas. sendo elas, um 1ntr0r1Al, o m[A]nIf[E]stO, sete nanocontos, um microconto e os créditos. acompanhando os áudio, há um material gráfico para impressão: label para o cd e o encartezine. são quatro os locais de acesso a ele. para cada qual há uma disposição e razão de porque está ali disposto:

[02] para quem quer apenas ouvir pelo youtube:
https://youtu.be/BfQ5fpULEBU
  
 
[03] para quem quiser ouvir, baixar e interagir pelo telegram:

[04] para quem quiser ouvir, baixar e montar seu próprio cd (material para a impressão):
https://drive.google.com/drive/folders/18ufQFyasUfoeJ6d8r2zamnfbx4HiMIkM?usp=sharing

 






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ficha técnica

AUd10z1nE I do AnArqUIsmO fAntástIcO
(cerrado, outono, 2021)

[00] todos os textos lidos são criações de
AmAntE da hErEsIA (léo pimentel
https://amantedaheresia.blogspot.com/);

[01] trilha & efeitos sonoros do nanoconto
"cUrUpIrAs blOck" por frEdÉ
(frederico carvalho felipe)
https://mealuganao.blogspot.com/;

[02] todas as demais trilhas & efeitos sonoros
por pUnk[A]l_sUlUk
https://soundcloud.com/punk-al-suluk;

[03] 1ntr0r1Al lido por m1stÉr1A cYb3r 
(glacy andrade) https://www.facebook.com/glacy.andrade.54

[04] mAn1fEst0 do AnArqUIsmO fAntÁstIcO
lido por AmAntE da hErEsIA;
https://amantedaheresia.blogspot.com

[05] nAn0c0nt0s:

> b0nEqUInho v00d00, lido por InArAI nArA
https://www.facebook.com/rebeldiaincontida;

> cUrUpIrAs bl0ck, lido por frEdÉ
https://mealuganao.blogspot.com/;

> b0ItAtArrIcAdA, lido por lEtÍcIA rEsck
https://www.facebook.com/lets.resck;

> mApIngUApIrIrÍ, lido por CIb3rpAjÉ
(edgar franco https://ciberpaje.blogspot.com/);

> sAcIOlOtOv, lido por AvElinO rEgIcIdA
https://www.youtube.com/user/anarcopunkregicida;

> cOrpO $Ec0, lido por AnA pAUlA sAntAnA & AndrÉ bEckER;
https://sucogastricosp89.blogspot.com/

> f0I o b0t0, lido por rApOzA sUjA (cássia cavalcanti)
https://www.instagram.com/rapozasuja/;

[06] microconto:
> mAldItAs crIAtUrAs do dIA, lido por fÁbIO shIvA
https://www.facebook.com/fabio.shiva.

[07] crÉdItOs
lido por AmAntE da hErEsIA
https://amantedaheresia.blogspot.com

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textos:

[01] 1ntr0r1Al:
o que fazer diante da indústria da imaginação? o que fazer diante do monopólio do imaterial? de dia, ou de segunda a sexta-feira, em horário comercial, militamos, fazemos nossos profundos estudos dos clássicos anarquistas e organizamos manifestações; de noite, ou nos finais de semanas, nos entretemos? dentro dessa agenda, quais seriam os momentos em que nos dedicaríamos às nossas mais profundas criações de universo? quais seriam os momentos em que nos dedicaríamos a refundar nossa gestalt e cosmos anarquistas, a refundar nossa realidade imaginativa? quando deixaremos de ser reféns da literatura, das histórias em quadrinho, dos filmes, das séries que insistem no niilismo do mais do mesmo? todo mundo está com seus interesses voltados às mesmas construções de enredos e narrativas de pseudo-neutralidade, pseudo-realismo, pseudo-imaginário. toda ficção é uma tomada de posição política. no gods, no masters! pois, alienar-se é deixar que o niilismo conveniente das histórias fantásticas de visão nostálgica de uma sociedade ocidental idealizada ocupe nossa imaginação. ah... que nossas ideias voltem a ser perigosas? não, nós é que devemos ser o próprio perigo. pois não deixaremos aberta uma brecha sequer para que consigam nos impedir de vivermos a anarquia que queremos agora! se nosso realismo é anarquista, que nosso anarquismo também seja fantástico!

[02] m[A]₦ᴉʄƎ₴tø dø [A]₦[A]rqUI₴mØ f[A]₦t[Á]₴tIcØ

1. a anarquia é pré e pós anarquismo; é ancestral e futurista; nossxs antepassadxs se realizaram nela e em breve seremos antepassadxs realizadxs deste mesmo modo. assim, como serão, antepassadas anarquistas, as pessoas do futuro.

2. a anarquia é nadir e zênite; nosso horizonte cíclico, ao mesmo tempo projetado sob nossos pés e acima de nossas cabeças. que se insurge de modo não linear para além da racionalidade moderna – nossa racionalidade é pré e pós histórica.

3. nosso realismo está em rebeldia e, por isso é tão distópico para ativistas do realismo conformista.

4. acredita-se demasiadamente na normalidade, ou pior! fazem da “normalidade” um espaço demasiado de crenças.

5. somos compas do curupira. pequeno black bloc peludo das florestas que compartilha o fogo de seus cabelos rubros para acendermos nossos molotovs. eis a chama de nosso iluminismo!

6. iara, nossa trans ancestral, que nascera ipupiara, homem-peixe, e tornara mãe-d’água para nos ensinar a guerrear com a tática de guerrilha da beleza e dos encantos da sedução. eis o nosso “renascimento”!

7. conosco, o saci abandonou seu gorro vermelho. hoje seu gorro é preto. com ele aprendemos a saltamos juntxs por sobre as fronteiras e nacionalismos. com ele aprendemos a sabotar a indústria farmacêutica e suas patentes. eis os nossos ideais progressistas!

8. mineração e agronegócio destroem os espíritos do solo e do subsolo. no entanto, contra este desenvolvimentismo predatório, temos como aliado um mapinguari ciborgue criado a partir da natureza tentando se reerguer sobre o lixo tecnológico jogado sobre ela. eis nossa tecnologia e cibernética!

9. um continente inteiro construído sobre cemitérios indígenas; assim, nós, poltergeists, insurgimos! tais nações jamais dormirão! as faíscas de nossas manifestações, as chuvas de pedras, o aparecimento e desaparecimento de seus amados objetos, nossos barulhos, nossa pirogenia e luzes os assombrarão enquanto existirem!

10. temos festas de inspiração kuarupiana. nelas, nossxs mortxs são representadxs no lixo espacial que retorna à terra. dançamos em volta de todo o fogo que ateamos nas forças policiais primordiais. homenageamos as memórias de nossxs mortxs em atos vandalistas místicos. também temos uma luta de inspiração huca-huqueana.

11. utilizamos um tipo de patuá cujo equivalente ao orixá específico para cada um/a de nós é um tipo de anarquismo. o carregamos ora bordado em nossas vestimentas, ora estampado, ora tatuado em nossos corpos. também o distribuímos em adesivos, zines, panfletos e broches. ou simplesmente o pixamos com o intuito de abençoar ou de amaldiçoar o local.

12. ocupamos o fantástico, o maravilhoso e o mágico. federalizamos o fantástico, o maravilhoso e o mágico. pirateamos o fantástico, o maravilhoso e o mágico. hackeamos o fantástico, o maravilhoso e o mágico.

13. a imaginação anárquica e libertária “é, antes de tudo, uma fato social”. a imaginação anárquica e libertária “de cada pessoa”, independente de sua localização no espaço e no tempo, expande “a minha ao infinito”.

[03] ₦₳₦Ø¢Ø₦tØ₴

b0nEqUInho v00d00
sua fortuna vinha do solo e do subsolo. agronegócio e mineração lhe garantiam uma bela aposentadoria já aos seus 30 anos de idade. no entanto, mal conseguia enxergar. sem explicação alguma. nem mesmo as doces carícias da mais bela modelo lhe excitava. enquanto eu assistia ao telejornal que dava a notícia, eu alegremente continuava a espetar o boneco vodu que eu havia lhe preparado.

cUrUpIrAs bl0ck
desesperado o major grita:
– há pegadas indo pra todo lado! pra onde foram esses malditos black blocks?
enquanto isso, ouve-se um coro de risadas de um grupo mascarado de curupiras.

b0ItAtArrIcAdA
ah... aquela noite... que noite linda! é sempre inesquecível o momento em que a beleza nos arrebata. arrebatamento que faz nossas pernas bambear e nosso estômago dar aqueles tremorezinhos. sim! foi maravilhoso! ver a grandiosidade daquelas sensuais labaredas, brilhantes e dançantes, contrastando com o verde da floresta e o céu azul escuro estrelado. não! não era uma queimada não! era o boitatá dando aquele caloroso abraço, de seus 1483º célsius, nos invasores de terra indígena.

mApIngUApIrIrÍ
viu-se um mapinguari correndo, desesperado, pela floresta amazônica. sabia-se que saíra assim de um acampamento de madeireiros e mineradores clandestinos. por lá ouviu-se urros de raiva, gritos de pavor e tiros á esmo. queríamos saber o que aconteceu para que nosso peludo ciclope vermelho corresse tão desesperadamente. até que ouvimos estranhos barulhos. em seguida, sentimos um forte odor que subiu como fumaça densa por entre a mata fechada. odor de arder os olhos. de repente, uma risada estremeceu o céu. era o grande pajé insurgente rindo do grande piriri que o mapinguari teve por ter devorado gente tão podre.

sAcIOlOtOv
acordei... um tanto ébrio. literalmente no fundo de uma garrafa. arrumei meu gorro negro na cabeça. orgulhoso por não ter sido pego por uma peneira em meu redemoinho. orgulhoso por estar rodopiando dentro de um molotov rumo a um caveirão.

cOrpO $Ec0
sim! estava ele ali. pleno. sem amarras nem impedimentos. completamente livre diante todas as possibilidades. enfim, liberto! um segundo após seu ato mais heróico, gritou:
- alto lá! seu meliante vagabundo! mãos na cabeça!
e assim, aquele pretenso revolucionário foi pego em sua trapaça libertária. ele havia nutrido em segredo o seu policial interior. em seguida, todos o viram tornar-se o corpo-seco.

f0I o b0t0
lembro ter estado de penetra na festa junina dos figurões duma construtora de barragens... lembro que levei para um lugar seguro, todas aquelas moças. eu estava elegantemente de preto, com meu lindo chapéu. mas, estranhamente... minha pele estava rosa! agora, estou aqui. sem roupas. diante tanta destruição, me banhando nesse gostoso rio amazônico... onde em suas profundezas, vejo todas aquelas engenhocas gigantes, e em suas margens, um povo ribeirinho gritando vivas para as peripécias de um boto desconhecido.

mᴉ¢Яø¢Ø₦tø
m₳ldᴉt₳₴ cЯɨ₳tUR₳₴ dø dᴉ₳
(\malditas criaturas do dia\)

intimei! 
 
̶  tirem essas malditas criaturas do dia daqui! mandem esses asquerosos seres iluminados de volta à luz de onde vieram! 

o inquisidor do telejornal pinga-sangue ficou surpreso. pela primeira vez em sua vida não vociferava mais. estava paralisado. mudo. a baba gosmenta, pegajosa, pútrida e malcheirosa de seu ódio desumanizador, de que bandido bom é bandido morto, ainda escorria pelo seu paletó. pois, eu estava ali. bandida para seus olhos e audiência, diante das câmeras. viva ao vivo. vivinha da silva! orgulhosa e de peito aberto diante da mais perigosa milícia neo-pentecostal anti-republicana que já surgiu desde o asfalto classemediano e de centro. pela primeira vez em suas vidas, desde a ascensão à governança parasita-militar da familícia boçal, esses neo-caçadores de bruxas, neo-bandeirantes e neo-bugreiros, viram um corpo abjeto desafiar o poder de seus símbolo de tradição, família e propriedade. dava para sentir no ar a turbulência das vibrações provocadas pela velocidade em que percorriam os gritos de seus milhares de memes por segundo: 

̶  quem ela pensa que é? coloquem já ela em seu devido lugar! nossa bandeira jamais será preta! 

e, com o bater de minhas asas, eu, MATINTA PEREIRA, mais empoderada que a coruja de minerva, com o meu exuberante voo ao anoitecer, desci o morro. descida triunfante pois antecedeu a maior revolta popular destas terras que renomeamos com o nome de “nova pindorama negra”. foi uma belezura que só vendo! imaginem comigo a cena: 

eu ali, diante todas aquelas câmeras, cobrando o nosso devido bem viver, conseguindo paralisar toda aquela investida do tamanho poder autorecolonial, há uma fração de segundo de: 

centenas de molotovs, com diabinhos nas garrafas, lançados por black blocs de pelos vermelhos montados em seus porcos-do-mato, contra os caveirões desses faladores de línguas estranhas; 

grandes boitatás, que serviam como impensadas barricadas, evocadas pelas almas das crianças mortas por bala perdida vinda da PMilícia, para que seus olhos flamejantes derretessem todo o armamento dos verde-oliva; 

e, gorjalas, que em terreiros indômitos, receberam o espírito de toussaint louverture, e com esse poderoso kelê, desceram morro abaixo, colocando debaixo de seus braços, para irem comendo aos pedacinhos, todos aqueles abutres pinga-sangues que negociam a carne negra como a mais barata do mercado canibal de colarinho branco.

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quando falamos "eu penso que...", quem será que escondendo? a voz do pai? da mãe? dos/as professores/as? padres? policiais? da moral burguesa ou proletária? ou as idéias de alguém que já lemos? escutamos? ou...
 
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