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bem vindo e bem vinda. este é um labirinto herege: um desafio para medir a astúcia de quem me visita; um convite à exploração sem mapas e vista desarmada. aqui todas as direções se equivalem. as datas das postagens são irrelevantes. a novidade nada tem a ver com uma linha do tempo. sua estrutura é combinatória. pode começar de onde quiser. seja de uma imagem, de um texto, de um vídeo ou mesmo de uma música. há uma infinidade de escolhas, para iniciar a exploração, para explorar esse território e para finalizá-la. aproveite.

made in brasília: um curta-metragem ciborgue

made in brasília: um curta-metragem ciborgue
léo pimentel – [A]m[A]nt[E]:|:da:|:h[E]r[E]si[A] &
m[E]t[A]²rtist[A]:|:tr[A]nsmídi[A]:|:da:|:inc[E]rt[E]z[A]
cerrado, inverno, 2021


made in brasília” é um curta-metragem experimental/artesanal cyberpunk. sua narrativa, de estilística não descritiva, mas poética, mostra o fragmento de um futuro distópico pós-humano – bem mais próximo do que imaginamos. é fragmento porque acontece em um específico local, brasília (não por acaso, mas por identificação simbólica e conceitual – cidade planejada); é fragmento mas que não abre mão de suas pretensões globais – vulgo “universais”. o resultado dessa narrativa poética, nos é bela, no entanto, bastante desconfortável. pois, de repente, sua poesia nos obriga a concordar racionalmente com a distopia ali exposta. já que, de certa forma, e em algum momento de nossas vidas, já nos pegamos pensando nela como se ela fosse uma utopia pós-humanista. aqui é preciso marcar que “pós-humano” e “pós-humanista” são duas coisas completamente diferentes. ambas convergem à problemática do que é ser humano, mas se distanciam nos caminhos que abrem: a primeira segue pelo caminho biológico do desamparo e da fragilidade. pois assim somos lançadxs no mundo. a segunda segue pelo caminho ético/moral de acolhimento e cuidado. pois estão, sob nossa restrita responsabilidade, os modos de como devemos e queremos agir, para com as outras pessoas, também desamparadas e frágeis.

no conteúdo desse curta-metragem há várias questões em aberto e outras que se dispõem de modo ambíguo. as abertas estão assim mesmas dispostas. são fendas pelas quais convido quem o assiste, a atravessa-las. isso se tiveres coragem. encontre-as e se aventure por conta e risco. já as ambiguidades estão ali para que o entendimento audiovisual da narrativa seja mesmo um tanto fugidia para a compreensão imediata. é preciso ir e voltar algumas vezes sem ansiedades para se compreender as nuances da trama. eu mesmo fiz esse exercício de idas e voltas. parti da empolgante proximidade de realizador do curta; fui à mais fria e necessária distância de uma audiência crítica, e retornei como realizador. o que me custou bons sete anos. confesso que gostei muito desse meu retorno. eram dois eus meus que se reencontravam para um cara a cara, mas que logo se viram com um terceiro.

foi então que me veio à criatividade duas questões de made in brasília. senti que eu amaria acrescentar alguns elementos à sua narrativa poética. em certa medida, acrescentar elementos literais, para que, com eles, eu pudesse proporcionar uma visão mais precisa acerca desse meu microverso experimental/artesanal cyberpunk. elementos literais, sim, mas não tão menos poéticos e irônicos, como os que já estavam dispostom nesse curta de 2013 – que eu o considero devidamente finalizado. desse modo eu não faria, nem uma correção, nem uma reedição especial, nem o acréscimo de situações novas à trama, e nem mesmo a realização de desdobramentos outros ao já disposto. mas sim eu amaria realizar acréscimos para fins de funcionar como pequenas expansões significativas e simbólicas dessas duas questões anuncias. que são elas:


  1. o convite que a boneca barbie faz, no início do curta, ao mostrar a entrada do museu nacional honestino guimarães, onde a agonista de made in brasília tem seu “desembarque”, só que saindo pela parte de traz do museu. o que mais pode significar e simbolizar esta saída pelas portas dos fundos?
  2. os modos da nossa agonista de estar e de se locomover pelos locais por onde a narrativa da história acontece. o que mais pode significar e simbolizar, a situação da agonista tocar as coisas dos locais por onde ela passa, tocar a si mesma, e só seguir em frente quando ela tira um peça de seu vestuário?


foi então que, com essas questões na pele, resolvi criar dois outros curtíssimos – ou próteses para um curta-metragem prestes a se tornar um cyborgue audiovisual. cada um para corresponder a cada questão acima disposta. são eles: INTRATUR (2021) e s3ns[E]rr[A]nt3s (2021). o primeiro, ou a primeira prótese, tem 01’:07” de duração e é todo criado a partir de colagens. nelas utilizei trechos de uma cena do filme zabriskie point (1970) do cineasta italiano michelangelo antonioni, onde há bonecos numa peça publicitária, cenas aéreas de brasília que baixei da internet, e cenas originais da barbie que utilizei originalmente no made in brasília. o áudio foi um remix meu do hino brasília, a capital da esperança. e o segundo, ou a segunda prótese, tem 03’:20” de duração e é toda realizada por mim mesmo – filmagem, direção, edição e som. o áudio é todo ele de um antigo projetor e uma sirene no final.

mesmo que essas próteses audiovisuais gozem de uma autonomia entre si, por serem bastante diferentes um do outro, tanto em suas formas quanto em seus conteúdos, ambas foram pensadas para compor um conjunto. as realizei de modo a parecerem fragmentos de documentos maiores, ou resgatados ou encontrados, mas recatalogados para fins de estudos. INTRATUR foi criada como se fosse o fragmento de uma antiga peça publicitária turística para estimular a visitação, ou a moradia, em brasília. e, s3ns[E]rr[A]nt3s, como o fragmento de um documento audiovisual científico mais extenso. para conectar essas duas peças-fragmentos-expansivas, fiz uso de um de meus personagens-coletivos de hacker[A]punk, o b[A]l[E]i[A]_pr[E]t[A]_h4ck3r.club3 (/baleia preta hacker clube/). clube este que é um grupo de hacker e makers de várias culturas e etnias, cuja finalidade é guardar os conhecimentos, as sabedorias, as artes e as técnicas da humanidade para que esta consiga ser reconstruida após a onda destruidora incentivada, institucionalmente, pelo “ministério anti-ciência degenerada” e realizada pela população fanatizada em suas “fogueiras pela paz”.

sugestão: assista primeiro ao cyborgue-curta-metragem made in brasília (https://youtu.be/gELVUanabGM), e deixe sua sensibilidade fluir por ele. depois assista, do mesmo modo fluido, as próteses audiovisuais INTRATUR (https://youtu.be/hZSbTzq4Fic) & s3ns[E]rr[A]nt3s (https://youtu.be/Z8kkSRLrWm0).

atenção: é muito importante que, ao final de cada prótese audiovisual (ou curtíssimo expansor), se pause o vídeo para poder ler, tranquilamente, a legenda que o segue. daí é só fazer as conexões entre todos os três e divertir-se com esse microverso cyberpunk.



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