cInElíngUA e rEAlidAdE - fil0s0fAm os AUdi0visUAis?
prelúdio:
após mais de um século de história(s) de filmes , passando pelos mais diversos recursos de visualidade e de som, e chegando até a uma crise de roteiros, onde se abre mão de experimentos narrativos visuais em prol da consolidação de uma única forma de narrar histórias, o cinema, como conjunto abstrato onde estão contidos todos os filmes em sua(s) história(s), pode ser visto como uma representação imagético-sonora animada (tecnologia intelectual) de modelos mentais (composições cognitivas que visam ser análogas às estruturas objetivas) já criados por outros processos linguísticos (teatro, literatura, música, pintura, fotografia, etc.) e reinventados a partir de sues próprios processos (técnicas de filmagem, movimento de câmera, efeitos especiais, edição, etc.). sendo assim o cinema, enquanto um conjunto de modelos mentais pode ser pensado, ou como representação de um sistema ontológico, por exemplo, uma representação daquele fornecido pela tradição filosófica ocidental, cuja base do pensar é a língua verbal flexional, que divide as coisas entre imaginárias, reais e ideias, ou como um sistema ontológico propriamente dito que estabelece outra ordem das coisas por não mais pensa-las nem desde essa base linguística nem desde o campo filosófico ocidental. dentro desse nosso horizonte inicial, cada filme pode ser considerado tanto uma representação interna de informações que visa corresponder analogamente com aquilo que está sendo representado (obra de uma autora ), quanto à expressão de uma parcela de um sistema ontológico maior, como o anunciado anteriormente – quando história do cinema e filosofia do cinema o estudam apenas como linguagem, como regras de composição de ideias, sem que tal seja um modo de pensar independente da língua verbal flexional. o audiovisual emerge desse universo cinematográfico. no entanto, não se reduz a ele. na verdade, o audiovisual emerge como forma de compor pensamentos no qual torna possível o cinematográfico ultrapassar seu nível de linguagem e seguir rumo ao nível de uma língua mesma. ao estudar outra língua, de modo geral, logo mergulhamos nela, quando percebemos que o núcleo de uma ideia é quase sempre um verbo simples (ação/processo/estado) ou, quando reconhecemos à primeira vista que, certos verbos são a base dessa língua estudada (núcleo do sujeito e do predicado). interessante notar que, ao se mergulhar ainda mais profundamente na língua estudada são a poesia e as gírias de rua as expressões linguísticas mais ricas que nos fazem entendê-la melhor. isso pela curiosa situação de que, toda língua, se enriquece quanto mais são quebradas as regras de sua composição – seja gramaticalmente, seja na invenção de novas palavras ou mesmo mudando completamente o sentido original de uma palavra. o próprio vilém flusser em seu livro “língua e realidade”, que inspirou o título do presente artigo, escreve: “a palavra poiein (fazer, produzir) deve ter raiz comum com a palavra latina ponere (pôr). o poeta é, pois, um positor, que fornece a matéria-prima para os com-positores, isto é, os intelectos em conversação” (flusser, 2012, p.146). pois bem, por analogia, é na encruzilhada destes três caminhos [(1) verbo núcleo de uma ideia; (2) verbos bases da língua, e; (3) quebra das regras de composição], que podemos caminhar rumo a uma cinelíngua e, com isso, aprender a pensar por meio dela: como um cinepensador que me proponho ser, de forma ousada, digo que o verbo simples (1) por traz de toda ideia cinematográfica é o “pôr”, os verbos nucleares (2) que podemos ver à primeira vista são seus derivados (contrapor, dispor, depor, compor, etc.) e as expressões quebradoras de regras de composição linguística (3) são os audiovisuais – estes magníficos positores – que a todo tempo não deixam de se arriscar em experimentos visuais e sonoros. riscos estes que não só se põem a pensar em seus conteúdos, como também se põem em formas que pensam.
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