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bem vindo e bem vinda. este é um labirinto herege: um desafio para medir a astúcia de quem me visita; um convite à exploração sem mapas e vista desarmada. aqui todas as direções se equivalem. as datas das postagens são irrelevantes. a novidade nada tem a ver com uma linha do tempo. sua estrutura é combinatória. pode começar de onde quiser. seja de uma imagem, de um texto, de um vídeo ou mesmo de uma música. há uma infinidade de escolhas, para iniciar a exploração, para explorar esse território e para finalizá-la. aproveite.

o princípio do mundo (mitologia cybionte)




no princípio, este mundo estava em plena luz. da luz saía de tudo: computadores, televisões, videogames, eletrodomésticos; toda medicina, comunicação, segurança, economia e educação; o mundo inteiro nada seria sem a luz. no entanto, este mundo também estava na escuridão: petróleo! do petróleo também saía de tudo: estradas, plástico, pesticidas, batons; toda medicina, comunicação, segurança, economia e educação; o mundo inteiro nada seria sem petróleo. luz e petróleo eram os pilares da civilização. ou melhor, era o círculo motor da civilização. do círculo saíram três pessoas, uma chamada acaso e outras, que era sua filha e filho, um chamado artifício e outra chamada inércia. artifício tropeçou em um barril e repreendeu severamente com este. inércia, sua irmã, pediu ao pai acaso que desse um jeito no barril com que artifício havia repreendido. acaso cumpriu o pedido da filha, empurrou rolando o barril que em seu movimento começou a crescer. do tamanho de uma turbina hidrelétrica, ele disse ao filho:

– este barril já é potente o bastante.

mais crescia e mais potente então o barril e já acaso não podia empurrar. o barril continuou a crescer. foi aí que artifício decidiu ajudar seu pai. artifício começou a rolar o barril. este cresceu tanto e se encheu de poder em forma de turbina hidrelétrica que formou o cosmos. apareceu então depois luz. inércia curvou-se, vendo seu pai e seu irmão serem criadores de tão fantástica energia. artifício era inimigo da irmã, porque sabia que esta era mais sábia que ele. um dia artifício cortou a energia que gerava a luz e pediu a sua irmã encontrar a fonte do problema, para ver se seu pai acaso a matava. a irmã verificou os cabos de energia, reconectou a fibra ótica que logo se iluminou ficando bonita, e assim resolveu o problema. noutro dia artifício pediu à irmã ver o que tinha acontecido com a internet que estava fora do ar e contam que sabotou todos os servidores para matar a irmã. detonou então os servidores em cima d irmã, estilhaços de hardware foram lançados em sua direção, mas ela não morreu e saiu ilesa da sabotagem.

artifício saiu daí, pensando que a irmã tinha morrido. no outro dia voltou artifício e encontrou com a irmã perfeitamente boa.

quando artifício ia verificar o fluxo de megawatts da turbina hidrelétrica, mandou a irmã dar uma olhada no meio dela, para que morresse eletrocutada. artifício cercou a irmã de eletricidade. quando inércia, depois, viu a eletricidade envolve-la, entrou pela terra e quando a eletricidade foi descarregada, apareceu sem nada lhe ter feito a descarga. artifício zangou-se muito, vendo que a irmã não morria.
no outro dia, artifício voltou e foi para o laboratório de pesquisa. chegou. quando no laboratório, fez de energia solar um computador portátil e o carregou no bolso, deixando um plug de fora, na qual esfregou veneno. 

chamou a irmã e lhe disse:

– vamos navegar?

– vamos!

andou virando pelo cosmos e chamou a irmã:

– aqui está um computador portátil feito de energia solar, vem se conectar.

aquele plug ia ser conectado na glândula pineal de inércia: já estava pronta para a conexão.

inércia introduziu o plug, mas não pode sentir o veneno, porque sua anestesia se confundia com o frio do metal. 

conta, então, que a conexão envenenada a levou para uma realidade virtual incerta e sumiu-se. passava seu pai outro dia, por improváveis realidades virtuais, quando viu sua filha atravessar por uma porção delas. o irmão sabendo da notícia pegou um colisor de hádrons para criar um buraco negro que sugasse todas essas realidades juntas com a irmã.

inércia lhe disse:

– não adianta nem tentar, porque até mesmo nestas realidades virtuais improváveis também há como modificar o estado do movimento inicial de todas as coisas.

o irmão desistiu e não criou buraco negro algum. o pai enquadradou umas coisinhas e atirou no chão que cresceram transformadas em dados. inércia pegou os dados e arremessou por todas as realidades improváveis ou não. contam que pelos resultados dos dados muita coisa patética aconteceu, depois também aconteceu muita coisa trágica; dizem que, então, que os dados ficaram viciados e patética acontece mais que a tragédia.

artifício ficou furioso. contam que quando viu que os acontecimentos patéticos se darem em maior quantidade, tentou elaborar uma teleologia, pois se patéticas as situações, ela deveriam ao menos ter algum sentido. ao ponto delas se tornarem até mesmo a tragédia primordial de todas as coisas.

demorando muito a criar uma teleologia definitiva, ficaram umas científicas, outras religiosas e outras filosóficas. ao acaso e à inércia artifício disse:

– vocês são terríveis, tudo o que faço jamais deixa de ser arbitrário. não consigo me opor à aleatoriedade, indeterminismos e falta de finalidade de meu pai. 

à irmã que era sua inimiga e cuja crueldade tinha herdado do pai, lhe disse:

– toda ação de força e de conjunto delas que utilizo contra você, minha irmã, somente resulta em movimento nulo. não consigo te matar nunca. vocês são o princípio irreversível do fracasso da luz e do petróleo; noutros tempos, em breve, o colapso da civilização. o caos!

conta-se que depois, acaso olhando para inércia e lhe direcionando um sorriso que é retribuído, e ambos vendo o quanto artifício se esforça por fazer algo, lhe disse:

– ah, meu esforçado filho, você está a um passo de aprender que o caos é a única constância no cosmos. sim, a civilização é apenas mais uma forma do caos.

léo pimentel - 2012
reescrita cybionte do mito munduruku "o princípio do mundo"

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