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bem vindo e bem vinda. este é um labirinto herege: um desafio para medir a astúcia de quem me visita; um convite à exploração sem mapas e vista desarmada. aqui todas as direções se equivalem. as datas das postagens são irrelevantes. a novidade nada tem a ver com uma linha do tempo. sua estrutura é combinatória. pode começar de onde quiser. seja de uma imagem, de um texto, de um vídeo ou mesmo de uma música. há uma infinidade de escolhas, para iniciar a exploração, para explorar esse território e para finalizá-la. aproveite.

stirnerianas - últimas: "excentricidade-do-próprio"

[iii]. excentricidade-do-próprio

[iii.i]. não é liberdade se não apropriada por mim – a liberdade nada tem a ver com abstrações ou idéias fixas. se assim o for és escravo. vives atormentado. sufocado. ser livre é a mais própria representação desse sufocamento. é doutrina apoiada na autoridade. não tem conseqüências práticas. no entanto, estar livre é sua oposição mais radical. apropriação e se ver livre disso e daquilo.  poder livrar-se de. relativização abismal. liberdade total que insurge contra qualquer estabelecimento de uma nova dominação. só há liberdade se liberdade desmedida: auto-liberação. um caos sem luz e sem estrela que guie. júbilo arbitrário de se livrar da nostalgia, do lamento romântico e da esperança no futuro e no além. a liberdade não é um bem. não pode ser dada nem imposta. a escola obrigatória e o voto obrigatório são da mesma ordem do serviço militar obrigatório. o mercado, a imprensa, um povo, o pensamento, a ação somente são livres se eu e tu formos excêntricos cada um a seu modo. se eu e tu formos experimento de nossas próprias liberdades. 

[iii.ii]. eu levado às últimas conseqüências – minhas loucuras e opiniões pessoais são suficientes para ti? este eu de carne e osso? cheio de coisas privadas? ou para ti sou mero conceito? sei que sim, vês em mim um ser irreal. buscas em mim um princípio de igualdade. prestas mais atenção a apenas uma de minhas qualidades e a apenas um de meus múltiplos vícios. metes em mim um espírito. metes em mim uma humanidade. tornaste-me um ser imortal. algo de transcendente. algo estranho à meu poder. me atribuis uma vocação; uma nacionalidade; uma religião; um gênero. um camarada de manicômio. seres humanos atuais não são seres humanos. apenas pálidas correspondências conceituais. espectros inumanos. no entanto, eu me levo às últimas conseqüências. não me relaciono na qualidade disto ou daquilo. me apresento como ruínas do estado, da sociedade e do humanismo. me apresento egoisticamente. a religião e eu somos inimigos. o estado e eu somos inimigos. o humanismo e eu somos inimigos. tudo o que faço nunca é in abstrato, mas sempre próprio. sempre às últimas conseqüências. não sou finalidade nem resultado de nada. sou transitório. não um produto do pensamento. rebelde e nada subjugado. Inimigo confesso de tudo o que é superior e inferior. meu poder sou eu próprio. dá-se enquanto sou poder de minha propriedade. empoderamento.

[iii.iii]. desfruta-te e terás direito a desfrutar-se – não há tribunal no mundo habilitado por mim para decidir se tenho ou não razão. nenhum direito estabelecido por mim será defendido por mim como direito de todos. somente minha força e poder estabelece meus direito. se tenho poder, tenho direitos. sou eu quem decido o que é justo para mim. eu que me defenda. até a impunidade é meu direito. aquele que se ponha a dispor de mim como se eu fosse sua criatura é meu inimigo. trago a razão e a desrazão para o mesmo nível; às minhas regras de conduta. tudo o que é coletivo tem a duração de uma vontade dominante. não conheço lei alguma que domine minha vontade própria. nem mesmo sou escravo ou senhor de mim mesmo. minha contravontade está livre. exercício de rebeldia e desobediência. meus crimes contra todos os crimes do estado, da religião e do humanismo. ruptura radical de velhos laços. infidelidade, deserção, perjúrio, coisas ímpias e criminosas. por isso tanta atenção policial sobre eu e sobre tu. todo nasciturno é um criminoso. goza de todas as suas forças. é sua graduação negação que o torna agradável, utilizável, cordial. caso contrário: vingança e direito se confundem. os castigos da lei. assim não reclamo direito algum. aquilo que não desfruto não tenho qualquer direito. autorizações e legitimações são obsessões produzidas por espectros que nada tem a ver comigo e contigo.

[iii.iv]. minhas relações são sempre um atentado contra a majestade do estado, a santidade da igreja e a inviolabilidade da humanidade –  os membros de uma sociedade determinam o caráter de sua sociedade. povo é uma sociedade enganosa. interesses generalizados de membros enganosos. abstração universalizada. ponta extrema da negação do meu bem; da minha emancipação. minha liberdade não é a liberdade do povo. cada indivíduo é inimigo irreconciliável de toda a universalidade. pois cada uma de suas capacidades, se desenvolvidas de modo independente, perturba a harmonia de qualquer povo. somente ao povo à soberania. agrupamento que nos tem em si. ação de um terceiro. entrelaçamento de uma rede de dependências e adesões obrigatória. da família ao estado. necessidade imposta de adaptação de uns aos outros. sociedades independentes de nossos feitos. sociedades que me educam enquanto ferramenta útil; membro útil. as questões da família são as mesmas questões do estado. toleram os inofensivos e os inócuos. aos isolados, libertos das superstições do amor familiar, da fraternidade ou do sentimento filial, a fogueira e a fúria popular. vox populis, vox dei. meu atentado contra tudo isso é a associação. sem princípios ou obrigações. sempre é preciso quebrar a fidelidade e o juramento. associação viva entre hereges, culpados de alta traição; entre aqueles que receberam as penas eclesiásticas, as penas criminais; entre aqueles que sofreram processos inquisitoriais e fiscais. associação viva entre criminosos sem crime que riem de tudo o que considerado sagrado.

  • [iii.iv.i]. pauperismo: a manifestação da minha impossibilidade de me valorizar – o maior dos problemas sociais é definir o meu próprio preço. o maior temor dos governos e de seu respectivo sistema econômico é o levante dos indivíduos. pois isso elevaria os preços de cada pessoa. contra isso, a polícia. pacificadora por tal natureza: “decidam o que quiserem somente não atravessem o meu caminho”; “tenham e valorizem suas idéias, mas somente enquanto minhas idéias forem as suas”. assim, se comportando generosamente lhes é concedido, diplomas, legitimidade e passaporte. como não compartilho as idéias do estado, sou seu inimigo número um. meus pensamentos são sancionados apenas por mim. apoderar-me. ter minha própria força e poder sob meus interesses. ser eu mesmo raiz – radical. não coloco meus poder nas mãos de nenhuma coletividade abstrata. fim da miséria. o miserável continua miserável enquanto não definir um preço muito alto para si; enquanto não sublevar-se para elevar-se. sublevado, sou possuidor de tudo aquilo de que necessito. vou lá e pego simplesmente. o que pego não tem nada de sagrado. no entanto, para saber o que farei enquanto rebelde, revoltado, sublevado, depois de ter quebrado as prisões, teremos... de preparar.


  • [iii.iv.ii]. ricos, responsáveis pela miséria; pobres, responsáveis pela riqueza – eis a cachaça do povo: o que possuímos não nos torna felizes; permanente corrida e concorrência. eis a champanhe do rico: desprezo, ganhar dinheiro e vigilância policial. coresponsabilidades. pois não existe poder em si. muito menos direito em si. para tais enquanto não respeito ambas forças sociais, me autorizo a fazer o que bem eu entender. tudo o que falo, escrevo e faço somente é livre enquanto estou livre. me é próprio. nada se liberta daquilo de que eu não me libertar. apenas um pode ser livre, ou eu ou a legalidade ou a lei moral. enquanto há essa tensão permanente eu prefiro ser falso para com o inimigo. ter a coragem da mentira. livre da ilusão de que as palavras entre amigos e entre inimigos têm o mesmo valor. reciprocidade. livre de qualquer amor que pede tributos. livre de qualquer falta de coragem, a humildade. assim todos os poderes se reduzem ao meu poder. todos os poderes que me dominam serão rebaixados à condição de me servir. mártir? apenas de mim mesmo e em meu nome apenas.


[iii.v]. o gozo do mundo faz parte de meu gozo pessoal – as misérias da vida são todas as preocupações constantes em apenas viver. preocupado se esquece de gozar a vida; qualificá-la. não há qualidade de vida, há vida qualificada; vida consumida; usar a vida. me uso e me gozo. sem preocupações perco o medo. daí, a esbanjo. dissolvo-me a viver até que a vida se esgote por completo. a busca, seja ela qual for, é o estado terminal da vida do vivente; romantismo, nostalgia e esperança. até o suicídio é um gozar a vida. não dever a minha vida à pátria, à deus, à vida em si. nenhuma missão. nenhuma destinação. nenhuma tarefa. apenas usar minhas forças até onde posso. sou o que posso ser. minha arte, filosofia, postura e ações são as que posso ter. tudo me pertence. tudo me é suficiente. se algo me foge, logo o recupero. as culturas me tornam mais poderoso. a ciência e a arte me permitem poder. não renuncio a nada. e quero mais. assim sou mais que carne e mais que espírito. arbitrário e caprichoso. meus pensamentos às últimas conseqüências. puro movimento da interioridade. movimento que também se auto-consome. consome-se até a aotinção. somente assim deixo de ter crenças. loucura furiosa. pensamento próprio não pensamento livre. este último é tão vazio quanto digestão livre. pensamentos não se libertam, no entanto, eu me liberto de pensamentos. este expressos por uma língua. minha propriedade, a uso. 

  • [iii.v.i]. qualquer hierarquia somente durará enquanto se acreditar em princípios – enquanto houver verdade, pressupostos, crítica em ti, és um servidor. todas elas são instrumentos. sirvo-me delas sem me deixar ser usado por suas exigências. verdade própria. pressupostos próprios. crítica própria. para todas critério. nenhuma delas é livre. pois nenhuma delas está livre de mim. não são elas que se desevolvem. eu e tu é que desenvolvemos. não viso combater idéias paras as substitui por outras. pretendo apenas me valorizar. assim mudo subitamente, pois já não me adiro a nada. meu fim e de todas as minhas coisas estão em minhas mãos. nenhum pensamento é sagrado. verdade, pressupostos, crítica são pensamentos. me livro delas quando eu quiser. eu e tu somos perfeitos. não há faltas nem falhas que nos afetam. pecado e crime são pura imaginação. assim como virtude e lei. eu não sou um eu dentre outros eus. sou único. desenvolvo-me a mim próprio enquanto eu único.


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eu único

nem oposição, nem pólos, nem dialética – qualquer maniqueísmo só pode ser superado se se destruir os dois – o um e seu duplo. tanto a matéria quanto o espírito jamais tornar-se-ão algo em mim. apenas corporeidades terminais podem ser algo em mim. o divino, as idéias, a matéria são o que menos importa. nenhuma delas é capaz de ser carne. jamais estarão presentes. jamais serão algo atual. suficiente. apenas grande nostalgia. somente um próprio pode desenvolve-se a si próprio. vive a sua vida até seu fim sem preocupação alguma em saber se o vivido é bom ou mal para a humanidade. minha vida é muito curta para perdê-la cumprindo missões. nenhum conceito me serve para me dar expressão. nenhuma essência que me é apresentada me esgota. são meros nomes. sou criador mortal e perecível. proprietário do meu poder. a minha causa é a causa de mim mesmo; de nada.

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quando falamos "eu penso que...", quem será que escondendo? a voz do pai? da mãe? dos/as professores/as? padres? policiais? da moral burguesa ou proletária? ou as idéias de alguém que já lemos? escutamos? ou...
 
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