insurge, desde o horizonte da zinesfera para o mundo, uma grandiosa personagem. grandeza esta por contribuir, com sua presença, com o impedimento das tiranias de uma classe dominante pós-letrada. contribuição cuja finalidade é colocar mais potência aos atos que visam destruir o novo coronelismo eletrônico. destruição cujo gesto criador grita: alienações da linguagem escrita, visual e informacional não passarão! alienações cuja tragédia anunciada é o viver a cultura, tão somente, assistindo e utilizando a linguagem youtubesta e fazendo dancinhas – a herdeira mais sutil e ardilosa da linguagem televisiva de espetáculos midiáticos. o analfabetismo digital, imagético e audiovisual não deve amplificar o analfabetismo propriamente dito. eis os esforços da mencionada grandiosa personagem: vencer todos esses analfabetismos de uma só vez em uma mídia de campo expandido.
logo blogs, redes sociais online, sites de mídias, formais, informais e tradicionais tratarão dessa personagem de modo a tentar reduzi-la à slogans e a palavras de ordem. logo a televisão, o rádio, o cinema, a indústria musical, o mercado editorial e as novas mídias tentarão instrumentalizar seus passos como se eles fossem o de uma artista de teatro de variedades de quinta categoria midiática. logo a educação formal terá consciência de que sua relação com ela é ambígua e, por isso, cautelosa, desconfiada e mantida a uma certa distância. pois ela sabe que há uma ameaça não dita que estremece essa consciência rumo a um transvaloração e mutação radicais: não há carreirismo possível aqui na zinesfera que se irradia para o mundo; seu funcionamento não se dá de maneira hierárquica e centralizada; aqui não reconhecemos a validade do dispositivo mandar-obedecer. e assim, quando a mencionada personagem se insurge na pedagogia, ela jamais será vista através de relatórios obrigatórios e através das deliberações de comissões burocráticas.
duas palavras internacionais se articulam para evocar tal personagem. articulação de risco pelo seu poder indômito. pois a pressa e o dever, que pretende que estejamos em permanente produção e entregando relatórios em prazos curtíssimos, são vistos como as duas maiores expressões do ressentimento ao prazer de queimar as pestanas lenta e cuidadosamente. intelectual no português e no espanhol; intellectuel no francês, intellectual no inglês, intellektuell no alemão, intellektuele no africâner, e fanzine, ou simplesmente zine, no mundo inteiro. o mercado, a militância, a política, o público, a mídia e a carreira desconfiam dessa articulação internacional, pois ela produz consciência! pois, quando articulada, não há mais espaço para apego a chavões, a meias e a pós verdades, muito menos a enfoques simplificadores de seu gesto, ação e colaboração.
não só colecionamos, lemos, decodificamos, catalogamos e pesquisamos fanzines – estejam on ou off-line. nós realizamos, com o que dispomos à mão, com as ideias que temos na cabeça, e com o ânimo e vontade que correm por nossos corpos, zines, perzines, fotozines, femzine, HQzine, artezine, sonhozine, htmlzine, arquivozine, tecnozine, biograficzines, anarcozine, etczine... este é o nosso modo de constituir nosso intelecto, nossa sensibilidade, nossa prática, nosso agir, nosso existir-com, nossa conversação zinesca e zineira.
nossa lógica é paratópica. estamos em lugares outros, por isso aqui nos encontram e nos encontramos. nossa economia é a dádiva. toda informação está liberta e livremente é distribuída. até mesma aquela mais indigesta e intragável. na realidade, principalmente estas gozam mais da liberdade de forma e de conteúdo. aqui os polos dos sabores mais sofisticados e da crueza mais visceral se encontram e dançam selvagemente. nosso lugar é amplitópico, expansotópico. tudo o que é atraído para dentro da zinesfera é recriado, como esses termos que acabamos de aqui criar, e a exemplo de tais, é ampliado e expandido de modo a alcançar horizontes jamais sonhados até então. daí é preciso sonhar novamente um pouco mais adiante. e assim, nossa subjetividade é múltipla. nunca falamos sós no deserto do real e, muito menos em uníssono na floresta do potencial. a autoria só é minha, porque em coautoria nos criamos mutuamente.
“somos ingovernáveis”! assim nosso intelecto e nossa sensibilidade nos convocam a tornarmos aquilo que somos. pois fazemos nós mesmas (D.I.Y.). feitos estes que anulam qualquer autoritarismo. por isso quando nos encontram ocupando algum cargo de autoridade, é certo que ali estamos para fazer desaparecer a própria autoridade que ali ocupou espaço um dia. e isso passa longe de ser um exercício da arrogância da ignorância. temos sede de conhecimento. amamos a sabedoria. portanto, também odiamos o par perfeito desse exercício repugnante, o intelectualismo. odiamos o ismo articulado ao intelecto. pois não queremos que pensar seja um substantivo abstrato. pois amamos conjugar verbos. por isso nossa sabedoria não é ensaística, nem dissertativa, mas sim poética, propositiva e zineira. enfim, é chegada a hora de revelar quem é que desponta no horizonte da zinesfera para o mundo. eis a grandiosa personagem que voz fala: nós, ZINtelectuais!
m[E]t[A]²rtist[A] tr[A]nsmídi[A] da inc[E]rt[E]z[A]
cerrado, inverno, 2021
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