O MURO ANCESTRAL
Aquele muro era um furo no hipercortex da galáxia. Em um quase beco desimportante de outra megalópole sufocante durante o colapso da espécie parasitária. Mas quem saberia que a chave cósmica para a transmutação pós-humanista só poderia ser aberta com os sigilos hieroglifos cubais corretos? Chegar à complexa imagem certa era muito mais difícil do que resolver aqueles cubinhos mágickos tolos das configuraçõezinhas de lamentinhos dos cenobitinhas do Clive.
Ninguém sabia, ou se lembrava, que quando o primeiro nativo brasileiro caminhou naquele sítio já estava ali um muro. Quando os desbandeirantes chegaram para destruir, o muro não caiu, e quando os candangos vieram pra sofrer, o muro seguia lá no meio do cerradão planalto centralino. Um muro monolito muito mais misterioso que o MONOmito de 2001, e mais estranho que o desmuro de Berlim. Como ninguém explicava o muro, incorporaram-no às suas construções, chapiscaram, rebocaram, pastilharam, maquiaram o muro ancestral que era feito de um material inexpugnável. Mas só o muro sem os hieroglifos de nada valia, era como espermatozoide sem óvulo, bUchecha sem claUdinho, desse jeito aí.
Pois bem, um dia a tampa encontrou sua panela, e ela reluzia azul em uma cabeleira pós-sereia. A sacerdotisa transumana com sua rebeldia suburbana pré-apoKAliptiKa teve um sonho invoKado com um exu transgênico lhe desenhando um treco estranho. Quando ela acordou viu uma mariposa preta revoando na sua cabeça, pegou suas armas-sprays e seguiu a mariposa pelas ruas encardidas da cidade desfalecida. E a sacerdotisa viu o muro e sua espinha arrepiou-se. Assim, em um impulso selvagem, iniciou sua dança cósmica borrifando a força da arte soprada pelo tal exu na face tenra do muro ancestral.
Quando a dança da criação concluiu o seu intento e os sigilos hieroglíficos estavam concluídos, do muro nasceu o vortex primal boitatá que engoliu o mundo em um milissegundo, regurgitando-o cem trilhões de anos depois de uma forma diferente, de um jeito que nem sei explicar, indizível, infalável (não infalível) – no estilão do Lovecraft. É isso que virou, um mundão novo inominável, ou quase isso!
(Ciberpajé)
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maravilhoso micro.conto escrito pelo grande Ciberpajé (aka. edgar franco) inspirado no grafite de nathália brito (inner trips) à convite de cYb1053.[A]l_5UlUk registrado em vídeo aqui:
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