MENTE
ENGATILHADA – fanzine punk (6ª edição – 2016)
:{aforismos
de pun[kXs]ofia desde uma mente engatilhada –
l[É]o:|:d[A]:|:h[E]r[E]sI[A] – 2017}:
a
escrita de um zine punk é como o estilo de som de uma banda punk: há
um rastro único, um estilo próprio. pois nele logo sentimos o toque
inspirado de alguém que o escreve, que o compõe. há sempre uma
pessoa, um corpo que espelha os laços humanos e lhes dá existência
concreta. ler um fanzine punk é reafirmar esses nossos laços. laços
sentidos na pele. pele: a mais própria entropia punk! como dito por
valeria mw no edital: “a nossa única e real certeza são as
cicatrizes deixadas pelo tempo e o aprendizado que acompanha cada uma
delas.”
valéria
mw é a escritora inspirada e ronaldo mw é o grafista inspirado de
mente engatilhada. é ela quem realiza os textos e quem formula as
perguntas das entrevistas. é ele quem realiza o desenho gráfico.
ambos corpos. ambos frutos do movimento entre natureza e cultura.
ambos finitudes mortíferas punks! “processos de permanente
construção e desconstrução”; “EU me modifiquei, e o que resta
de tudo isso é a capacidade de reinventar-se dentro da adversidade”:
assim fala valéria mw.
fazer
um zine punk, ler um zine punk, pensar sobre um zine punk: fragmentos
da história do lugar e do poder de nossos corpos e presenças em
relação com o que pensamos. coexistir, co-resistir e co-re-existir.
desse modo não farei aqui uma resenha do que li neste zine, mas sim
darei outra forma ao que me foi inspirado por ele. aqui porei ideia
com as ideias lá escritas, porei com, comporei: aforismos de
pun[kXs]ofia desde uma mente engatilhada.
§01.
ser
e estar punk não é uma tristeza sem causa e simples, muito menos é
uma alegria religiosa como constatação de verdades absolutas e
fechadas. diferente de um não-ter-causa, o combate e a contestação
são a causa: o comportamento vigente socialmente dentro de cada umx
de nós deve ser aniquilado. a cultura punk não está liberta dos
vícios e das perversões sociais: machismo, violência contra a
mulher, racismo, homofobia. é preciso que ela seja construída de
modo liberta. não basta simplesmente colarmos no rolê punk e nos
escondermos por trás de ideias revolucionárias e insurgentes. é
preciso que cada umx de nós sejamos autênticos atos de resistência.
(da
pluralidade e diversidades: construções e reconstruções dentro do
rolê punk)
§02
a
pessoa fofoqueira na movimentação punk mascara suas próprias
desordens afetivas. sua escolha pela fofoca é acompanhada pela
escolha também de sua cegueira. não vê e mas quer ser vista. quer
aparecer como solução ao lado de sua má-fé.
(da
entrevista com
accidente,
banda de punk rock anarquista de madri/espanha)
§03
os
rótulos são sempre cadáveres. mas, mortos-vivos. levantam-se da
morte para definir-se como niilismo. pois nos afunda na impotência,
nega qualquer gesto insubmisso e instaura um mundo estático, sem
movimento.
(da
entrevista com
accidente,
banda de punk rock anarquista de madri/espanha)
§04
o
movimento punk faz desmoronar o sentido absoluto de se ter um
discurso convincente, não se quer convencer todo mundo para ser
punk. o movimento punk é um discurso expressivo, se quer todo mundo
liberto para se construir uma realidade simples e realizadora.
(da
entrevista com
accidente,
banda de punk rock anarquista de madri/espanha)
§05.
o
rolê punk não pode esconder as perversões do poder patriarcal.
poder este cujo modelo de mulher socialmente aceita é a mulher
objeto inerte, ou a mulher a ser objeto inerte. o homem punk deve se
desprivilegiar enquanto macho para desarmar a armadilha sexista. os
espaços punks mistos devem destruir o falo e permitir-se uma espécie
de castração redentora – não podem ser ciclos de eterno retorno
da violência machista. é preciso espaços só de manas punks para
se criar desarticulações fundamentais e poderosas da vida
domesticada das mulheres dispostas às regras dos homens. o rolê
punk só se libertará do patriarcado quando cada mulher se sentir
confortável e segura nele. o rolê punk só será libertário e
realizador quando cada mulher realizar todas as suas potencialidades
nele. ter espaços só de manas não é jogar-contra, mas sim um
jogar-com.
(do
debatendo
as potencialidades femininas dentro do rolê punk)
§06
grupos
libertários podem oprimir a individualidade das pessoas que
participam dele. devemos estar atentxs e abertxs para perceber essa
possível opressão. há muito mais pessoas solitárias, mas
solidárias, do que há grupos. é com elas que devemos nos juntar.
daqui nascem belas e fortes ações. pois é a qualidade das
relações é que importa.
(da
entrevista com a distro/gravadora unleashed
noise records – sp)
§07
quem
disse que cada pessoa deve concentrar todas as sabedorias do
universo? quem disse que cada pessoa deve ganhar a vida sozinha e só
para si mesma? estamos todxs juntxs no mesmo barco. devemos nos
completar mutuamente. devemos nos gerir mutuamente. apoio mutuo
cultural e econômico, isto é viver a ampliação da liberdade de
cada umx de nós.
(da
entrevista com a distro/gravadora unleashed
noise records – sp)
§08
como
cortar as pernas do capitalismo? é só multiplicar uma infinidade de
microeconomias libertárias! distros punks são uma delas.
(da
entrevista com a distro/gravadora unleashed
noise records – sp)
§09
façamos
o que cantamos nas músicas e o que escrevemos e lemos nos zines! a
palavra é a extensão de nossa atitude. nossa atitude é a extensão
de nossa palavra!
(da
entrevista com a distro/gravadora unleashed
noise records – sp)
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