para
começar, o empréstimo não deve ser concebido como forma ou como objeto, mas sim
como pensamento. no entanto, um empréstimo não condensa apenas um pensamento,
pois não é o pensamento nem de quem empresta, nem de quem recebe o emprestado:
são os pensamentos entrecruzados de ambos/as. quem empresta e quem recebe o
emprestado cria uma relação que pensa: pensamento plástico. a relação de
empréstimo pensa.
o
empréstimo não produz objetos, realiza sujeitos. realizações pensantes que não
pensam burocraticamente. realizam significações. quando o que é emprestado
produz uma obra, tece uma rede de elementos que constituem pensamentos
concretos somente possíveis dentro da relação de empréstimo: o conjunto das
realizações pertence a um pensamento genérico de um todo orgânico, de um todo
que o ultrapassa. não é quem empresta e quem recebe o emprestado que exprime
esse todo orgânico, esse pensamento geral: é o conjunto da obra e a relação que
exprimem esse pensamento – unidade genética.
quando
se realiza/pensa dessa maneira surge uma interessante política entre autorias.
surge a impressão de características originais de criação-em. temos uma relação
criadora que se dá como espécie de conjunção abstrata, porém afetiva, de uma
série de elementos que se encontram nas realizações diferentes dos/as mesmos/as
de quem empresta e de quem recebe o emprestado. o empréstimo está na gênese da
obra: demiurgo/a da criação de um universo instaurado para somente viver de
modo relacional.
o
empréstimo é um médium realizador no qual o/a artista se encontra nele e se
identifica com ele. o/a artista realiza sua autoria de modo acidental, não
exprime nada, a não ser pela relação. não podemos conceder mais valor do que
deve ao/à artista. pois estes/as buscam assegurar seus poderes materiais e
objetivos sobre a obra. é preciso desenvolver uma evidenciação das questões
imateriais ligadas ao empréstimo. porque não, desenvolver um belo misticismo
fetichista em sentido erótico? assim, a obra realizada por tal médium, não é a
obra mesma, mas sim uma compreensão silenciosa e amorosa da relação.
num
estudo de história do emprestado, as realizações por meio de tal nunca são
primárias, destinadas à independência. elas são orbitas, já que emprestar é o
núcleo que carregam em si mesmo o próprio processo da criação e da realização.
seus princípios não regidos pelas relações intuitivas e expressivas do
criar-em. não existe tabula rasa no emprestar. este nasce num fundo vazio,
viaja para o visível, volta ao afeto, e a uma abstração, e renascem dentro das
criações/realizações. tudo importa, já que se inspira na realidade vivida da
relação: nada simples, nem mecânica.
o
realizado/criado pelo emprestado encontra-se na realidade vivida da relação
anunciada acima, ou seja, encontra-se nesses horizontes interiores, onde se
constrói uma vivência superior à da experiência imediata do uso, mesmo que seja
alimentada por ela. o uso se torna único, torna-se capaz de fecundar todas as
experiências que lhe orbitam. o uso se acha fora de sua utilidade material, se
torna jogo de fusões entre substâncias artísticas tornando-se mais precioso por
incorporar-se à eternidade da obra de arte realizada. emprestar e usar criam
uma substância artística maior do que seus limites materiais.
obrigado larissa!
léo
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