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bem vindo e bem vinda. este é um labirinto herege: um desafio para medir a astúcia de quem me visita; um convite à exploração sem mapas e vista desarmada. aqui todas as direções se equivalem. as datas das postagens são irrelevantes. a novidade nada tem a ver com uma linha do tempo. sua estrutura é combinatória. pode começar de onde quiser. seja de uma imagem, de um texto, de um vídeo ou mesmo de uma música. há uma infinidade de escolhas, para iniciar a exploração, para explorar esse território e para finalizá-la. aproveite.

hOrIzOntE ErrAntE – Um cAmpO dE ArmAdilhAs p/ filÓsOfOs



§1. o desenho de nossas certezas e verdades, como a chama de uma vela, é conduzido, continuamente, em novas direções por diversos eventos aleatórios, incertezas e dúvidas. o drama frente a esse desenho é que juntamos nossas reações aos eventos aleatórios, incertezas e dúvidas para determinar modo(s) de (mal)estar(es) num mundo. como resultado, as verdades e as certezas se tornam, ao mesmo tempo, fáceis de serem estabelecidas, mas difíceis de serem interpretadas e demonstradas. tal facilidade se realiza mediante nossa tendência de independizarmos as certezas das verdades. ou seja, facilmente vemos exatamente o que esperamos ver, tornando-nos presas fáceis das expectativas. assim, tornamos a linha que une a certeza da verdade de frouxa e elástica para absoluta e cristalina: as verdades não garantem certezas e as certezas não são proporcionais às verdades. por exemplo, quando estamos diante ou de uma ilusão, ou de uma ideia nova, tentamos a todo custo provar que estão corretas, e nada fazemos para tentar ver se estão erradas. e aqui entra a tal dificuldade mencionada acima: assimilamos as coisas preenchendo suas lacunas com padrões que façam sentido previamente dado por nossas noções preconcebidas – insistimos que as conclusões diferentes a que chegamos lutam entre si para determinar qual delas dominará as demais. ou seja, criamos estratégias e mecanismos de defesa e ataque, como numa guerra, para ocultarmos o importantíssimo e entrópico papel do acaso nos acontecimentos (eventos aleatórios, incertezas e dúvidas) que estabelecem a conexão/linha entre certezas e verdades: dificultando ao máximo a lida com as incertezas e com as dúvidas (acasos, eventos aleatórios). por exemplo, interpretamos indícios ambíguos de modo a favorecerem nossas ideias reforçando nossas crenças (certezas) mesmo que nelas estejam ausentes dados ou ideias convincentes (verdades). desenhamos um alvo em um papel em branco depois que atiramos nele. 

§2. há um confronto fundamental entre nossa necessidade de sentir que estamos certas (subjetividade) e nossa capacidade de “reconhecer” a verdade (intersubjetividade). o sentimento de certeza é a motivação primeira para observar o que observamos: a realidade é mais um ato imaginativo do que uma consequência direta da realidade. e tal ato se realiza mais em termos de vinculação a uma espécie de ilusão laplaciana subjetiva a priori (psicologia do controle) do que em termos de vinculação a inferir a probabilidade de verdades a partir de observações intersubjetivas a posteriori (teoria das probabilidades). ou seja, tendemos a pensar que, não sendo determinístico o universo, significa que “sou eu” quem o está controlando. é importante lembrar aqui que a dita “objetividade” não entra nessa equação entre necessidade e capacidade. já que dela foi retirada a maleabilidade, a incompletude e o indefinidamente. pois bem, voltando à necessidade aqui tratada, é preciso se insurgir contra ela. caso contrário as verdades permanecem reduzidas a importância privadamente dada às memórias mais vívidas, pois serem mais fáceis de serem recordadas. essa insurgência nos conecta diretamente à intersubjetividade, ou seja, à capacidade de reconhecer a verdade para além do sentimento de certeza – é à experiência e à experimentação que devemos ter em conta, para que, com isso, o “reconhecer” adquira seu significado mais rico e expressivo: imunização contra os erros da intuição; alfabetização ceticista; desconfiança na capacidade de prever acontecimentos; abandono de nosso arcabouço determinístico automático. 

§3. a certeza (subjetividade) sempre se quer sem o “reconhecer” a verdade (intersubjetividade), já que se vê como tautológica. tautologia como resultado mágico capaz de acalmar nossas inquietudes, de aniquilar a incerteza, de sanar qualquer dúvida, de controlar a aleatoriedade. é propriamente uma fobia em pensar que usa certezas como remédio e que também funciona ética e politicamente como um niilismo seletivo conservador – atribui o nada como um valor desqualificador. pois, confunde o não-valor de um processo e a atribuição do não-valor ao resultado desse processo. por exemplo, existe uma diferença abismal entre o não-valor da vida e o não-valor atribuído a uma vida vivida. para a certeza o acaso sempre é responsabilidade de alguém. inabalável perpetua e conserva preconceitos. desqualifica as diferenças (resultados), principalmente as pequenas (efeito borboleta). desqualificação que trata a causalidade como sendo mais fundamental que o acaso, mantendo, com isso, uma ilusão da inevitabilidade (tendo o passado como algo fácil de entender seletivamente, trata o futuro como algo também fácil de prever). 

§3.1. há uma peculiar pergunta identificadora da certeza: o quanto gastamos de tempo na busca de “provas” de que estamos em erro e o quanto gastamos de tempo na elaboração de razões que demonstram o quanto estamos certas? no entanto, antes de calcularmos individualmente tal gasto de tempo é importante levar em consideração que para o “reconhecer” a verdade (intersubjetividade) tanto o “certo” quanto o “errado” também não são absolutos – como o “verdadeiro” e o “falso” também não o são. intersubjetivamente ambos fazem parte de um campo, de um horizonte incompleto que é preciso percorrer coletivamente – não há verdade alguma nascida desde o isolamento. por exemplo, pensemos na macro história das línguas e suas relações com a realidade (formação, criação e propagação), ou ainda pensemos nas micro histórias dos números, cuja historicidade passa pelo planeta inteiro (o zero hindu, o algarismo indo-arábicos, etc.) ou mesmo na história da concepção ocidental da forma da terra [plana (aristóteles), esférica (eratóstenes-newton), esferoide oblato (satélite vanguard i)]. 

§4. o “reconhecer” a verdade (intersubjetividade) somente se realiza comunitariamente e em meio a um campo sistêmico (de ideias, métodos, experimentações, experimentos e técnicas) ao qual se dispõem um número infinito, por incompletude, de graus de liberdades – a percepção individual (subjetiva) necessita da imaginação comunitária (intersubjetiva) porque os dados que encontramos (objetividade contraída, dita acima) nunca são completos, são sempre ambíguos (objetividade expandida). individualmente temos o costume de avaliar equivocadamente o nosso papel enquanto acaso dentro na construção intersubjetiva do reconhecimento da verdade. pensamos que há verdades que podemos descobrir solitariamente (como  geralmente a filosofia nos faz crer). assim nos equivocamos pensando que isoladamente temos acesso a dados privilegiados que descrevem completamente um sistema de interesses, de modo a conseguirmos impedir a ocorrência de influências imprevistas – mecanismos da certeza. pensamos que, individualmente, temos um papel decisivo dentro das ilusões e sabedorias coletivas – necessidade em estar certa. no entanto somos, ao mesmo tempo, ilusões de padrões e padrões de ilusões. nosso papel na intersubjetividade e, portanto, no reconhecimento de verdades, se realiza dentro de uma distribuição anômala para descrever a variação de muitos fenômenos e acontecimentos ao redor de constelações de valores que representam o resultado mais provável. ou seja, nosso papel enquanto isolamento ou solidão se realiza como um conjunto estatístico (por observações passivas, como na astronomia) de ações e pensamentos atuando aleatoriamente (diferentes graus de liberdade), mas que produz padrões quantificáveis e previsíveis (a ordem no caos). para tentar visualizar um bom exemplo para ilustrar esse campo (inter|ativo e inter|passivo) tentemos responder as seguintes perguntas: quando é que pronunciamos um “nós” sem pensarmos em um “eu” e um “outro”? quando é que nos engajamos em tentativas de encontrar meios para melhorar a condição humana mediante a expansão e propagação da diversidade? porque tendemos nossos interesses ao “ser-humano-médio” e a pensar a sociedade como um fenômeno governado pelo desvio padrão da média? é mais rico em expressividade e em poder ideário reconhecer a verdade dentro do nosso horizonte errante (onde nem o certo e nem o errado são absolutos) do que viver na miserável e mesquinha certeza, onde o certo e o errado são valores absolutos de (mal)estar(es)-num-mundo.

léo pimentel, outono de 2015 

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