Para fazer uma arqueologia política de Brasília é preciso a capacidade de se desprender da Brasília atual e adotar pontos de vistas distintos e distantes dela. Desprendimento, de alguma maneira estranha a seu tempo próximo como condição necessária desse tipo de arqueologia. Sendo assim, podemos nos desprender de Brasília e retroceder até o início do século XVIII, onde temos registro da primeira menção a uma possível capital brasileira no interior do país. Essa escavação política na história nos permitirá uma avaliação filosófica sobre a invenção desta cidade, considerada, ao mesmo tempo, tanto paraíso pós-histórico do desenvolvimento e de bem estar, quanto incubadora de descontentamento, e inferno de violência arcaica e repressiva.
Este é um olhar para trás, pelo mirante da história, que acompanha uma visão adiante, até outro futuro social. Mas até lá, as demandas e os ocultamentos deste tempo, deste atual que pertence à Brasília, têm, como pano de fundo, os anseios de elites conservadoras que se apropriam de identidades, que não lhes são próprias, como por exemplo, a de protagonismo social, para destituí-las como representação política e, para encobrir as práticas de exclusão mais sutis e implacáveis de uma cidade idealizada, planejada e construída conforme os ideais políticos da invasão colonial militar-religiosa-industrial: cultura política profundamente excludente, monocultural, monolinguista e urbanocêntrica.
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