§ único:
há dois modos de se estar em manifestações, um modo simbiótico, outro simbólico. o primeiro se dá enquanto partícipe de uma sociedade civil organizada, enquanto ação indireta do agir. o segundo modo se dá enquanto autenticidade no agir, ação direta.
o modo simbiótico, organizado e indireto é supostamente revolucionário, já que reside na habilidade de assimilar papeis e desempenha-los com maestria de acordo com normas oficiais. por exemplo, avisar à secretaria de segurança da cidade para garantir a preservação da ordem, a livre manifestação e o direito de ir e vir das pessoas. é simbiótico por manter e zelar os papéis e as funções preconcebidas, garantindo a especificidade de cada um/a na manifestação: o/a líder, a massa, o/a policial, o/a repórter, o/a ativista, etc. é organizado por distribuir os papéis e funções preconcebidas como modo consciente de preparar uma retórica revolucionária para ocultar o que se pretende conservar, uma política cega e estéril. e, é indireto por agir apenas em prol de um futuro que se pretende viver dentro de um dever de rotina no presente. para o modo simbiótico de se estar em manifestações, cada pessoa deixa de substituir a ordem social vigente em prol do mesmo ordenamento só que, desta vez, pelo o que se manifesta, torna-se agenda demagógica de governantes, mídia corporativa e carreiristas políticos de todo tipo que assumem que as outras pessoas nada estão fazendo para mudar suas vidas.
o modo simbólico, autêntico e direto é insurrecional, já que sua morada é a habilidade da desobediência civil e da ampliação da radicalidade. é simbólico por que não pretende uma mudança quantitativa (mais pessoas, mais causas), mas sim, pretende uma mudança qualitativa: ir além da reforma e desabilitar os modos normais de agir. por exemplo, “queimar o palácio dos bandeirantes” em são paulo, significa reapropriação dos símbolos de luta: o fogo foi o modo de manifestação mais utilizado por indígenas no século xix, tanto que passaram a ser chamados de “kayapó” [1], o que traz fogo nas mãos; o palácio é o símbolo da coroa portuguesa que invadiu estas terras; e bandeirante foi a personalidade genocida privilegiada da instauração dessa nação. é autêntico por não personificar nenhuma grande causa de nenhuma cosmologia religiosa-política, como a neoliberal ou a marxista. e, é direta por agir sem se auto substituir por um grupo político, partido, ou pela “melhor das causas possíveis”; é não se deixa ter representantes; é ser ingovernável. para o modo de agir simbólico de se estar numa manifestação, cada pessoa e cada pequeno grupo de afinidades, destrói para abrir caminho para o fim do império da mercadoria e para a desestabilização do terrorismo de estado; destrói para que não haja nada que governantes, mídia corporativa e carreiristas políticos de todo tipo, possam utilizar em suas agendas oportunistas e despolitizantes.
léo pimentel (junho-2013)
[1] silveira bueno (1967) em seu livro vocabulário.
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