
tudo ia bem no diálogo, se não fosse, mais uma vez... a outra parte... sim, ao fim de minha leitura do livro, acabei por preferir somente as cartas de marcia – femme sauvage. e, em meio a esta preferência, ele novamente saltou em minha frente, intrometido, impulsivo, sorrateiro e dançarino. quem? o diabolus! sim, o diabolus! ele voltou! um brinde de rum com chá preto, eu o saúdo!
de imediato, apaguei de minha memória todas as cartas que luiz achutti tinha respondido. amnésia voluntária e interesseira. em seguida me coloquei em seu lugar. e assim, foram inventadas estas páginas, estas segundas respondências, as quais nomeei de "o retorno do diabolus: missão fotográfica"!
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[primeira (cor)respondência]
assim falou marcia: “a morte da fotografia teria que ser compreendida como a morte da técnica junto da morte da arte”.
marcia, gosto muito de pensar a morte das coisas. a terminalidade de cada coisa que um dia foi iniciada. e falar sobre isso é como contar histórias de fantasmas para adultos. desse modo, começar a falar sobre a fotografia a partir de seus aspectos noturnos me interessa muito. chego a pensar, tal qual schopenhauer em seu “ensaio sobre as visões de fantasmas”, que a fotografia pode ser uma espécie de condutora ao reino telúrico, obscuro e tenebroso da psique, um reino sempre eclipsado pela claridade da razão, luminosa e solar, que de vez por outras, deixa escapar uma obscura beleza à luz dos pálidos raios lunares, origem de toda arte. a fotografia em seu lado noturno. a fotografia em sua morte. então vamos lá:
morte da fotografia: morte do inconsciente óptico em seu constructo técnico que veicula um pensamento, um pathos, um agir;
morte da técnica: morte do como das coisas em seu circuito total que inclui ferramenta, ao menos duas pessoas e um ambiente;
morte da arte: morte de uma quimera mitológica que aprendemos a chamar de “eu”.
três mortes do despertar e do promover ideias, ideações, movimentos do pensamento, formas que pensam, que nos põem a pensar – no entanto, morte de nossa suspeita de que elas nos formatam. história(s) morta(s) da imagem, da imaginação, do saber olhar. continuemos...
na arte e na técnica da fotografia parece que, em seu aspecto diurno e auroral, nos importa o que elas, enquanto sistema, pensam ou o que nós podemos pensar sobre elas. no entanto, em nossa história de visões de fantasmas, nossa opção pelo aspecto noturno e crepuscular, nos importa mais, o que com arte/técnica/fotografia, contra arte/técnica/fotografia ou a partir de arte/técnica/fotografia somos capazes de pensar/sentir/agir – ver em direção ao desconhecido, para além de uma hermenêutica do visível. nesta morte anunciada por marcia, que neste momento de anúncio adquire a imagem de um corvo, há um desmonte dos pressupostos hermenêuticos da conservação da tradição, da constituição de uma comunidade e da formação dos indivíduos. um anúncio de um para além da formação [forma(t)ação] e do sujeito [(as)sujeitamento]. marcia anuncia que a arte/técnica/fotografia morre cada vez melhor. porque sua(s) morte(s) continua(m) produzindo visões novas, visagens nunca vistas. assim como há ressurreições do mesmo cada vez piores, como por exemplo, a “retomada” (1995-2005) do cinema brasileiro – mas esta é uma outra história de fantasmas para adultos...
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