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bem vindo e bem vinda. este é um labirinto herege: um desafio para medir a astúcia de quem me visita; um convite à exploração sem mapas e vista desarmada. aqui todas as direções se equivalem. as datas das postagens são irrelevantes. a novidade nada tem a ver com uma linha do tempo. sua estrutura é combinatória. pode começar de onde quiser. seja de uma imagem, de um texto, de um vídeo ou mesmo de uma música. há uma infinidade de escolhas, para iniciar a exploração, para explorar esse território e para finalizá-la. aproveite.

cYb!053 al-5u1uk - mi m0v!m!3n70


qualquer viajante que trilha, errantemente, pelo planeta terra, sabe que, a partir de uma certa distância, seguir em frente é retornar ao ponto de partida:a trilha mais distante é um círculo. o mesmo acontece com o tempo. chega-se a um momento da distância em que, seguir para o futuro é um retornar ao passado. não que isso signifique algum tipo de retrocesso, comumente pensado. significa sim que, nas trilhas circulares do espaço-tempo, seguir em frente é ir à origem e, assim, abri-la novamente, pois muito já se percorreu até aí. em termos de ancestralidade, este seguir-voltar significa restabelecer, a qualquer que seja a raiz ancestral, sua constitucionalidade histórica criativa original: toda raiz é constituída historicamente a cada momento. desse modo, chega o momento decisivo para qualquer que seja o/a descendente: seguir em frente na linha do tempo, para trilhar os passos originais, do mesmo modo que o fizeram seus ancestrais. se num movimento passado criaram-se etnias, este processo nunca se fechou. criar etnias nunca foi um privilegio imemorial. criam-se etnias a cada instante da história, inclusive neste momento está nascendo alguma etnia que logo se fará ver. podemos chamar esse processo em aberto, de etnogênesis permanente. porém, por todos os lados encontramos resistência violenta que tentam suprimir etnias nascentes. do mesmo modo que etnias antigas insistem em aniquilar etnias contemporâneas a elas. no entanto, é preciso tanto um revisionismo insurgente quanto um lançar-se ao ainda não colocado para existir. e isto exige outras sensibilidades. a minha está a meio caminho. meus sentidos são pontes. assim, toda minha arte.

neste horizonte batizei meu auto-movimento de seguir em frente no círculo de cybiose al-suluk. movimento de seguir em frente como retorno para ser outro. pois, as ferramentas intelectuais e geradoras de sensibilidades, a formas de auto-organização e gestão não são mais as mesmas; os afetos e as idéias são outras. até os instintos são outros. a luta se metamorfoseou. cybiose é o híbrido simbiôntico tenológico de um futuro primitivo. al-suluk é o estado de ânimo dos antigos heróis e poetas desgarrados de suas tribos pelos desertos da antiga arábia. juntos, cybiose al-suluk é a sensibilidade combatente e rebelde de uma etnogênesis permanente.

para melhor esclarecer o parágrafo acima, vejam a baixo, o e-mail que enviei ao wilson sukorski

olá wilson sukorski. meu nome é léo pimentel. fui amigo da sabedoria (filósofo) de formação, no entanto, ao fazer de minha vida um experimento, e abandonando o meio acadêmico em prol de uma liberdade maior de ser e pensar, tornei-me amante da heresia. nesse processo de tornar-me algo próprio, fiz uma série de viagens míticas buscando uma ancestralidade que foi, de descobertas genealógicas até fragmentos de culturas em mim que eu não percebia (textualidade e musicalidade principalmente). essa tentativa foi de muito proveito, pois tive a oportunidade de ter contato com culturas passadas e voltar ao hoje e ser outro. carrego comigo, e as valorizo radicalmente, tudo o que há em mim de africano, indígena, cigano e também do leste europeu. para minha pretensão se completar eu precisava de um upgrade profundo, pois minha sensibilidade era outra. foi então que, assistindo a uma entrevista que a tv cultura fez contigo, lá pelo ano de 2004, não sei bem ao certo, que o upgrade me foi oferecido. sukorski, você falava dos instrumentos que tu inventaras e da música que fazias: “novas sensibilidades precisam de novas musicalidades, portanto novos instrumentos”. bom, acho que eram mais ou menos assim suas palavras. mas o importante é que essa tua idéia me morde os calcanhares até os dias de hoje. já fazem uns bons seis anos de mordidas. 


no final do ano de 2010, adquiri um programa para fazer música eletrônica. foi nesta data que me vi numa sinuca. eu tinha que fazer algo com tudo isso. minha única formação musical é um ouvido curioso de anos e anos de antropofagia. curioso e de calcanhares mordidos, estudei o básico desse programa de fazer música. comecei a fazer uma serie de experimentos. até que uma música que fiz me intimou. foi irreversível. fiz mais 12 músicas de mesma inspiração. só para você ter uma idéia conceitual dessas criaturas: para minhas pretensões demiúrgicas, elas expressam toda minha ingenuidade e sinceridade musical. as considero músicas tribais de uma tribo extinta de um futuro primitivo na qual, tranquilamente, eu seria o primeiro e último representante, sem a menor humildade. as compus como as futuras sociedades de florestas e desertos farão sua comida: fogo em uma fogueira (cujo combustível é todo o lixo tecnológico que não funciona mais, pois combustíveis fósseis já não existirão mais), música reproduzida em um velhíssimo laptop (com baterias solares e ornamentado com ossos, sementes coloridas e cascas de árvores) acompanhada por músicos-arqueólogos que acharam em escavações alguns fragmentos musicais com a assinatura wilson sukorski. bom, após todo esse cenário sci-fi noir de pretensão e composição musical, cheguei a um resultado final que o batizei de as “sukorskianas”. pois é Sukorski este foi o meu modo de lhe agradecer e homenageá-lo pela sua involuntária, e também fantasmagórica orientação musical. 


é com essa estranha carta-manifesto-cyberpunk-primitivo, que espero abrir um proveitoso diálogo entre nós. em anexo lhe envio uma das 13 Sukorskianas. Ingênuas, porém sinceras.
desde já lhe agradeço,


um abraço,
léo pimentel
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a flor e a palavra - letras insurgentes

após compor as sukorskianas me foi necessário escrever letras para elas (no entanto que jamais serão cantadas, mas estranhamente recitadas). assim, o fiz. escrevi letras hardcore para elas: ciganias cyberpunks. a interação entre ambas as expressões se deram de modo independente, aleatório e autônomo, no entanto, simbiôntico. tanto que, a cada momento em que ambas interagem, algo diferente acontece. vivendo isso, fez-se necessário não gravar letra sobre música. pois isso mumificaria a maravilhosa relação simbiôntica aí existente. salvaguardando isso ei-las aqui com um dos mundo possíveis de relação entre elas.


instruções: escolha uma das "ciganias cyberpunks" e faça a correspondência que desejar com uma das sukorskianas que escolher, leia a letra enquanto vc ouve a música. por exemplo, uma variação possível:

letras                                                               músicas
hiper-anarkia transcontinental              para              sukorskiana 01
passos de insurreição                              para              sukorskiana 02
grande deserto da realidade                   para              sukorskiana 03
hardcore entre real-vitual                        para              sukorskiana 04
etnogêneses, eu e você                           para              sukorskiana 05
criemos novos instintos                          para              sukorskiana 06
além do hiper-real                                      para               sukorskiana 07
desligue e venha                                        para              sukorskiana 08
o dever de morrer do brasil                     para              sukorskiana 09
divididos, perdemos                                para             sukorskiana 10
à morte, com carinho                              para             sukorskiana 11
eutanásia à pátria                                    para            sukorskiana 12
sukorskiana 13                                       para filosofia cinza de marcia tiburi
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caixa preta - tempo-espacialização imagética 

mas não termina por aí. há um terceiro elemento! vídeo! isso mesmo, um triângulo. o vídeo está montagem como um espaço para o acontecimento da relação simbiôntica entre letras recitadas e música hardcore-eletroacústica. o vídeo tem duração de 45 minutos, tempo-espacializado em imagens para a apresentação aconteça.

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mitologia cybionte

"o princípio do mundo" (leia o texto aqui)
"a lenda da inundação geral" (leia o texto aqui)
"vou-me embora para cyborgânia" (leia o texto aqui)

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release
para conhecer a operacionalidade do projeto, veja aqui.

rElEAsE: cyb!053 al-5u1uk (2013)

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vocabulário:

cybiose: união metamorfa das palavras simbiose (relação entre dois organismos na qual um ou ambos beneficiam-se.) e cyber [abreviatura do inglês – cybernetics (cibernética: significando condutor, governador, piloto) é uma tentativa de compreender a comunicação e o controle de máquinas, seres vivos e grupos sociais através de analogias com as máquinas cibernéticas (homeostatos, servomecanismos, etc.)]

hardcore: comumente conhecido como um estilo de punk rock. suas características são: tempos extremamente acelerados, letras de protesto político e social e revolta, e cantadas de forma agressiva.

música eletroacústica: música criada ou modificada através do uso de equipamentos e instrumentos electrônicos, tais como sintetizadores, gravadores digitais, computadores ou softwares de composição.

al-suluk: palavra árabe que significa aqueles/as que perderam os vínculos tribais e por tais passam a viver à margem da sociedade tribal. vagam pelo deserto em busca de hospitalidade ou vivem de pilhagens. também são considerados heróis/heroínas já que sobrevivem sem a proteção dos laços de sangue.

léo pimentel, amante da heresia
julho de 2011 | fevereiro de 2012 | outubro de 2013

1 Comentário:

Unknown disse...

...DEPOIS DO DEPOIS SEMPRE VEM O ANTES..

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quando falamos "eu penso que...", quem será que escondendo? a voz do pai? da mãe? dos/as professores/as? padres? policiais? da moral burguesa ou proletária? ou as idéias de alguém que já lemos? escutamos? ou...
 
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