para melhor mergulhar em minha imagem faça-se o seguinte experimento: seja no meio de uma planície ou em pleno oceano, nossa visão é limitada. um imenso planalto circular é nosso alcance. seu limite é chamado horizonte. o futuro, como o sol, parece surgir do mesmo ponto - leste. após um determinado percurso, ele atinge sua mais alta posição - tal qual o presente. em seguida, para outro mesmo ponto, em movimento descendente, o sol se põe, eis que se apresenta o passado - oeste. deste modo vemos o tempo passar. da direita para a esquerda. nessa planície ou oceano do presente, terei o norte à minha frente, e o sul às minhas costas. se olho para o ponto mais alto sobre minha cabeça, tenho o zênite. e no ponto mais profundo sob meus pés, tenho o nadir. observando o tempo desta maneira, percebo que a memória ancestral e a imaginação futura é questão de posição e gesto.
para melhor insurgir sobre minha imagem faça-se o seguinte: cada momento fugaz do percurso do presente há o limite de meu horizonte ao mesmo tempo em que há sua implosão. como assim? sendo observador situado no polo temporal sul posso imaginar como é a observação de alguém que observa do leste do horizonte e assim sucessivamente. minha vivência presente se dá como todas as posição possíveis e impossíveis de memória e imaginação. ambas compondo uma imensa cordilheira círcular dos andes, na qual não se sabe onde começa ou termina uma e outra.
seguindo avante, as gradações dos lados, do zênite e do nadir imaginemos:
- indígenas, educadas/os ao longo de sua vida, com toda a sabedoria ancestral do alto-xingu, trazendo no corpo todas as marcas da luta contra os conquistadores; quilombolas, cuja sabedoria foi cunhada no fervor da luta, não por melhores condições de escravidão, mas por existir enquanto forças não cativas; ambas misturadas, tendo que escolher, em votação, um representante cuja vida e força de seus interesses foram esculpidas pelas estranhas razões de estado, da sabedoria moderna do cimento, do concreto e do asfalto.
- um discurso latino-americano mestiço, onde o modo de narrar a vida tenha esquecido sua ancestral fluidez oral; que tenha esquecido que seu corpo, enquanto sua máxima expressão, tenha que optar pela ideografia estática do alfabeto latino e pela gramática cujo uso das regras é a própria cristalização do pensamento.
qual seria a verdade eterna da direção do movimento? alguém nú, alguém ornamentado com pemas, com búzios ou vestidos com gravata ou mini-saia? vivemos em que posição do tempo? na era da comparação? na era de uma nova cultura que concientemente mata a cultura antiga? vivemos no frescor pois reagindo ao "progresso"? na era do desejo, impulso e anseio pela vingança contra a perda da inocência ou na sua aquisição ou escolha?
pois bem, é preciso ser personalidades múltiplas nos tempos. é preciso ser estilos não escolhidos, porém, longe de tudo o que é autêntico. é preciso livrar-se do desgosto. é preciso aprender nas antigas pegadas imaginadas como explodir o horizonte. avançar insurgindo contra a liberdade de escolha. avanças insurgindo contra o livre-arbítrio. avançar insurgindo contra as cautelas da liberdade. é preciso seguir à leste, à oeste, ao norte, ao sul, ao zênite e ao nadir. a floresta indiferente está a um palmo de nossos narizes.
pois bem, é preciso ser personalidades múltiplas nos tempos. é preciso ser estilos não escolhidos, porém, longe de tudo o que é autêntico. é preciso livrar-se do desgosto. é preciso aprender nas antigas pegadas imaginadas como explodir o horizonte. avançar insurgindo contra a liberdade de escolha. avanças insurgindo contra o livre-arbítrio. avançar insurgindo contra as cautelas da liberdade. é preciso seguir à leste, à oeste, ao norte, ao sul, ao zênite e ao nadir. a floresta indiferente está a um palmo de nossos narizes.
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