não se evita uma floresta; vive-se dentro dela. - porque antes a tradição escrita e não a tradição oral? porque antes a palavra e não a imagem? porque antes a moral e não o experimento? porque antes a dualidade e não a sutileza de gradações? arrisco uma resposta geral e, portanto, só para começar a esmiuçar, sem montagem ao final: é porque a mais alta valoração parte do há de menor. tudo é feito com moderação. não há os jogos da razão. não há a espirituosidade sujeita às contingências. há sim o ideal às avessas: um nível humano médio derramador de lágrimas frente pessoas, portadoras de deficiência, realizando banalidades. espirituosidade em baixa. espiritualidade em alta. por isso: tédio, hiperdisciplina, deserotizações e moralistas de plantão.
na desligião que me conduz, a floreta! não sua versão literária - como subterfúgios morais. não sua versão política - como uma "criatura" inocente e inepta que precise de defensores. sim, a trilha refeita do instinto de êxtase do levante e da criatividade. uma vida não como produto artístico. sim como relação de artesanato: ao mesmo tempo sentida, vivida e contemplada. a vida enquanto experimento dos princípios da insurreição e da invensão - a retomada de outros cotidianos.
encaminhamentos:
nela a tradição oral: o fixado mutante; o fixado para que alí se viva. assim, uma narrativa que brota como instinto - raríssimo à escrita. jogos das causas - diálogo dinamico e não-linear. saber como o outro vive - porém o outro sendo nós mesmos/as: indígenas, escravo-descendentes, ciganos e migrantes. como podemos, nós híbridos e híbridas, resignificar em ato, o mundo e nosso "cotidiano moderno", ignorando voluntariamente nossas narrativas orais ancestrais?
nela a revivência da imagem não como catarse: um artifício de memória e amor da revivência. não faz sentido levá-lo para depois voltar com ele como herói. artifício de memória e amor para que se viva tudo. a superfície é o que mais aproximamos da essência. a imagem é transfiguração em beleza dos horrores da floresta. no momento em que não se confia mais nos sentidos e, portanto não mais, se vai com eles, refazê-los é possível. faz-se as coisas bem e isso nada tem a ver com moderação.
nela o experimento sem resignação nem esperança: o princípio do contínuo é regente. não há momento para ser e estar isto ou aquilo. é o não limite; o não estar dentro. é o contingente de que um dia vamos morrer. causa contingente. o tempo não é uma linha entre dois pontos, o aqui e o além. o niilismo e o demasiado entusiasmo do otimismo não são fundamentos. nem a tragédia nem a sátira são a priori. é o carnaval visto do ponto de vista do malandro e não da perspectiva do turista. artifício natural do fazer que não produz artefatos para contemplação.
nela as matizes e cores diversas: tudo vem a ser dentro de uma genealogia até os instintos. cada fragmento é traço único em vida participativa. sistema orgânico de reações. reagir sem reagentes. o próprio movimento é reação pulsante que contrai e expande: formas de expressão do reacionário (contração absoluta), do reativo (ativista da contração), do revolutivo (ativista da expansão) e do reinsurgente (expansão absoluta).
já que por esses lado os abismos nos são importados, por vezes tragos à força, somos um hiato entre duas florestas. quanta fauna humana e não-humana é capaz de se reproduzir dentro de minha espirituosidade desleixada - condição primordial do deixar-ser das florestas?
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