O DiA Em qUe O t[E]mpO [A]r²U[A]c[E]1r0
s[A]bIn[A]m[E]nt[E] mE sUsp[E]nd[E]u
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resenha criativain
[A]n[A]rqUIsmO_f[A]nt[Á]stIcO do
ep “tempo arruaceiro” da banda “maria sabina e a pêia”
ep “tempo arruaceiro” da banda “maria sabina e a pêia”
l[É]O.Π.:|:[A]m[A]nt[E]:|:da:|:h[E]r[E]sI[A]
c[E]r²[A]d0, 0Ut0n0 2017
c[E]r²[A]d0, 0Ut0n0 2017
1.
tempos, alto lá! brindemos o fim desta eternidade! o fim dos confins
da suspensão da terminalidade entre a morte e o nascimento;
2. e
depois do sobreviver; e depois, ainda, do negar-se a fazer nascer: do
que sobrou dos futuros entrelaçados pelos ventos da imaginação
póstuma e pelos ventos das memórias abortadas.
3.
respirem! sintam os aromas e sabores destes vinhos extraídos de cada
zona erógena em gozo de todx viajante que por aqui passou!
4.
brinde como eu, no crepúsculo dessa aurora, sobre esse adorável
cinza do cerrado pós-brasília, nu encharcado de vinho de buriti!
5.
mas tempos! dê um passo diante de mim aquele cujas curvas são da
mais impura impostura!
6.
sim! perdoe-me a simulação de acaso. pois era você mesmo que eu
aguardava um brinde. ah… tempo arruaceiro, com o que me brindas?
7.
“eis aqui uma bela mistura entre cores para os ouvidos, sabores
para os olhos, perfumes para o paladar e belos sons para o olfato!
maria sabina e a pêia!”
8.
então, fluíram azeite de baru pelas minhas articulações,
lubrificadas para a dança sobre qualquer abismo, até cair-me nele
para retornar-me a esta minha última jornada.
9.
pois bem, tempo arruaceiro, anuncie-se! e assim foi, pela doce e
estremecedora voz de maria sabina e pelos poderosos e dóceis
instrumentos da pêia!
10.
tempo arruaceiro: és um saci anárquico que viaja no meio de
belos e fortes redemoinhos tombadores de viaturas e caveirões? sim!
és tu! ninguém consegue prendê-lo em garrafa alguma! fuck all
sistem!
11.
ah... saci anárquico brincalhão, amigo de travessuras
antissistemas! sinto o perfume de suas arruaças! já me sinto tão
cheiroso! obrigado! seguirei originalmente seus passos dentre deste
redemoinho que me presenteaste!
12.
“vá em frente, destrua qualquer rédea. não se esqueça de comer
daquele fruto proibido que aquelas belas, fortes e geniais árvores
lhe darão!”
13.
herdeiras de antônio conselheiro: ah… que belo fogo rodeia
aquelas árvores! elas se movem? sim! suas raízes são aéreas! que
frutos suculentos! e que folhas mais encantadoras! sim! que grande
festa! são elas! as herdeiras de antônio conselheiro dançando com
caiporas molotovs!
14.
“toma! coma deste fruto em chamas! queremos você grávido de nós!
adoraríamos esta sua última ousadia! seja arrebatado por nós! seja
multidão! esqueça o horizonte de ser um. seja árvore frutífera
também!”
15.
e assim, grávido destas herdeiras segui até o alto de uma duna onde
ouvi o sussurro de um juramento irrevogável. a voz me pareceu muito
amigável. pareciam palavras sussurradas desde o lascivo e inocente
amor de amigo…
16.
amor de amigo: “desobediência mútua… muito amor mas com
um pouco de guerra… seja criança, embrião amoroso do esquecimento
e do novo começo… esse é o nosso segredo: domamos o boitatá
institucional dos afetos… o sonho é nossa zona autônoma
temporária, nosso quilombo autonomista… ah… amor mútuo… amor
em progressão fractal… transbordante… desobediência mútua...”
17.
transborda minha libido. tais sussurros são fatais para qualquer
tipo de ciúme – este maldito assassino, controlador e feminicida.
sussurros como flechas envenenadas que despedaçam qualquer coração
ciumento. obrigado intensa consciência feminista. limpaste-me e me
libidinaste.
18.
quando as plêiades surgiram no céu, sou suspenso de meu redemoinho.
o vejo de cima. curiosamente ele parece me esperar. acaso foi algo
combinado antes? quem me suspende? seus ganchos em minhas costas não
estão frios.
19.
eu, você e os garçons: onde está todo mundo? cadê toda
arquitetura, urbanismo, civilidade? hum... tem algo selvagem,
primitivo no ar! hum… sinto vários aromas! sim! são diversos
tipos de álcool! álcool de araticum! álcool de murici! álcool de
magaba! álcool de pequi! quanta cachaça de cerrado pós-apocalípse!
20.
hahahaha vocês de novo! curupiras molotovs! mais uma vez vocês são
nossos garçons! sim, para nossos paladares de fogo só vocês mesmxs
para nos servir estas pêias! obrigado a vocês e a você sabina por
me oferecer esse banquete etílico!
21.
ali, eu em suspensão, maria sabina em pêia e os caiporas molotovs
em libertinagem libertária com nossa embriaguez. um reino-limbo de
uma rainha anarquista e de súditos insubordinados.
22.
que zona crepuscular temporal és! tempo arruaceiro! pois teus véus
cinzas são policromáticos! erguem-se por sobre mim, meu redemoinho
e por sobre esse abismo como se fossem colunas de um templo. o que
pretendes? espiritualizar um sem espírito?
23.
igreja mundial da transpiração: evocas o exu-anarca que
habita minha ausência de espírito. evocas e acolhe sua
insubordinação replicante. reforças seus livramentos. livrar-se-á
de tudo o que é hierarquia e autoridade. livra-te mas com muito
suor. pois é preciso arregaçar as mangas e meter a mão na massa
imaterial.
24.
sim, despregação de fé para nossos pés! despregação de fé para
que possamos dançar! belo samba profanamente sagrado para o
desencantamento!
25.
sim, para que nos encantemos é preciso desencantar todo
encantamento! trans-piremos! piremos em transe! trans-tornemo-nos!
tornemo-nos trans!
26.
no fim da eternidade seguinte, era como se vitórias-régias
queer-punks fossem beber de uma cerveja aromatizada com mururerana;
27.
e eu, embriagado com tal pêia temporal arruaceira de maria sabina,
nas dobras mais tortas do cerrado pós-brasília, fosse recolocado
outro, de volta a minha última jornada… o
:(){cEm!tÉr!O:|:dE:|:ElEpUnkEs};: ainda me espera...
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