e se numa comunidade hipotética freud tivesse nascido como um piaroa, depois tornado xamã, e enquanto tal, tivesse desenvolvido toda a sua teoria da sexualidade e, consequentemente, da libido, desde aí? o que essa realidade aberta nos diria sobre a realidade, supostamente a nossa, descrita pelo freud nascido na alemanha? para responder tais perguntas resolvi mergulhar na sopa metafísica de suor, excrementos, venenos, óvulos e sêmen do povo piaroa. com o auxilio inicial dos textos da antropóloga joanna overing, uma já mergulhada na sopa acima citada, mergulhei. mas claro, não podia depois, nesse meu nixpupima, em forma de mergulho, não ter realizado o puinkimei para com tal renomada antropóloga. pois bem, de bunda de fora mergulhei rumo ao meu experimento: quando monstruosos genitais governavam a terra – o futuro de um tesão.
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siga lendo o texto aqui mesmo ou neste link aqui:
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qUAndO mOnstrUOsOs gEnItAIs gOvErnAvAm A tErrA - O fUtUrO dE Um tEsÃO
iconofagia:
dami:
palavra/pensamento piaroa que
significa ‘exercício do “tornar-se outro”’.
damiain: palavra/pensamento piaroa
que significa “brincar de branco”.
katxanawa: ritual de fertilidade, na forma de poesia cantada, do povo
piaroa, onde há provocações
masculinas dirigidas às mulheres, chamadas xebi itxa (insultar a vagina) e
provocações femininas dirigidas aos homens, chamadas hina itxa (insultar o
pênis).
kaxinawa: palavra/pensamento piaroa
que significa “o pensamento que se encontra incorporado em um corpo pensante”.
kuin:
palavra/pensamento piaroa que
significa “eu”.
nawa:
palavra/pensamento piaroa que
significa “outro”.
nixpupima: rito de passagem da puberdade do povo piaroa.
pui’kwa:
palavra/pensamento piaroa que significa tanto “ejaculação” quanto aborto.
puinkimei: provocação masculina dirigida às mulheres que consiste em
mostrar a bunda no rito de passagem nixpupima.
tekoha: palavra/pensamento guarani
que significa “lugar onde realizamos nosso modo de ser”.
teko pyahu: palavra/pensamento guarani que significa “novo modo de
ser”.
yudawa: palavra/pensamento piaroa
que significa “fazer o corpo ir se acostumando com o ambiente”.
yudawa:
sou um relativista radical que não me deixo levar pelos
confortos das certezas últimas, principalmente, não me deixo levar pelos
encantos higienizadores do verbo “ser” e pelas belezas climatizadas do verbo
“estar”. no entanto, sou completamente maravilhado, ou melhor, abaçaiado[i]
pelo verbo “haver” – numa fúria encantada geradora de saborosos mundos
perigosos. isso por que, em meu relativismo radical, não escolho liberalmente
entre muitas possibilidades, como num hipermercado ou num self-service, pois
cada escolha minha tem mortal importância, já que se dá como possibilidade
única de vivência irreversível – vivência entrópica. minha escolha é da ordem
do “há de realizar” – fazer. todo sentido dessa entropia existencial é a
posteriori. e no caso de textos, minha linguagem jamais é serva das
dignificações contempladas pela rigidez de sistema ontológico algum. minha
escrita, neste texto, é teko pyahu cujo tekoha se realiza na combinação entre o
realismo grotesco obsceno, a epistemologia do ridículo e o riso provocador e
libertador realizadas pelo povo piaroa[ii],
no caso, molestando as ideias freudianas que podemos encontrar pelos textos “o
futuro de uma ilusão” e “três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. aqui as palavras, todas, são metáforas e
pequenas portas de acesso.
dami:
epistemologia do ridículo: os ridículos tropeços, ao estilo
“pastelão”, resultantes da prepotência, da insanidade e da ira dos deuses e dos
xamãs (os criadores de mundos) criam um espaço de imaginação social no qual as
lideranças, sem poder de coerção,
somente conseguem mobilizar as pessoas em trabalhos coletivos criando um
clima festivo e de zombaria.
realismo grotesco obsceno: o aumento hiperbólico dos intestinos,
órgãos sexuais, boca e ânus como arte, humor e jogo experimental que brinca com
a realidade dos poderes xamânicos – já que o conhecimento mora no corpo e
quanto mais grotesco e obsceno, mais é visível a situação do pensamento estar incorporado/impregnado
em um corpo pensante;
riso provocador e libertador: desarticulador do poder coercitivo
das lideranças por meio do poder do riso. rindo se captura o modo de
conhecimento dos seres poderosos, dizendo o que de outro modo seria indizível,
para que, com o riso, se possa limitar os poderes do conhecimento, ou seja,
zombar de todo poder, antes que ele possa provocar qualquer tipo de medo.
damiain:
lendo sobre o modo de realização do katxanawa
uma inspiração me abriu uma possível realidade: e se numa comunidade hipotética
freud tivesse nascido como um piaroa, depois tornado xamã, e enquanto tal,
tivesse desenvolvido toda a sua teoria da sexualidade e, consequentemente, da
libido, desde aí? o que essa realidade aberta nos diria sobre a realidade,
supostamente a nossa, descrita pelo freud nascido na alemanha? para responder
tais perguntas resolvi mergulhar na sopa metafísica de suor, excrementos,
venenos, óvulos e sêmen do povo piaroa. com o auxilio inicial dos textos da
antropóloga joanna overing, uma já mergulhada na sopa acima citada, mergulhei.
mas claro, não podia depois, nesse meu nixpupima, em forma de mergulho, não
ter realizado o puinkimei para com tal renomada antropóloga. pois bem, de bunda
de fora mergulhei rumo ao meu experimento: quando
monstruosos genitais governavam a terra – o futuro de um tesão.
só para se ter uma ideia bem geral, e
portanto, corrompendo e a destruindo de certa forma, em “três ensaios sobre a
teoria da sexualidade”, o freud alemão amplia o conceito de sexualidade não a
restringindo somente ao genital. a sexualidade seria tanto a realidade, quanto
a própria formadora, a criadora e a propagadora desta. a libido seria sua
força, tanto de propulsão quanto de desgaste. e, enquanto tal, as leis que a
regeriam seriam as mesmas que regem nossas práticas em economia. ou seja,
agimos para com nossa libido tal como verdadeiros/as economistas: fazemos
investimentos aqui e acolá, a poupamos, somos mesquinhos/as, fazemos reserva de
mercado, não sabemos o que fazer com sua abundância, para com ela somos
corruptos/as, a desviamos, a utilizamos como moeda de troca, etc. o interessante
é que o freud alemão está em total acordo com a cosmogonia da parcela da
humanidade platônica-judaica-cristã na qual ele faz parte, e, portanto, sua
realização cosmogônica tem como princípio primordial, a pureza. neste sentido,
a sexualidade criada, formada, propagada e realizada na libido, seria a
impureza irreversível de nosso viver. tão irreversível e impura, que é a grande
causadora de nossos sofrimentos em não conseguirmos nos realizar plena e
puramente. e assim, o freud alemão luta por fornecer as bases de uma nova
terapêutica ao sofrimento humano. terapêutica que possibilite a libertação dos
fantasmas libidinais que impedem, cada um/a de nós, a autonomia e a liberdade
de escolha. o freud alemão, sorrateiramente, é uma espécie de otimista trágico,
onde a tragédia da impureza, portanto, da sexualidade, pode ser domada, já que
“todo indivíduo é virtualmente inimigo da cultura”, ou ainda “é preciso contar
com o fato de que em todos os homens há tendências destrutivas, ou seja,
antissociais e anticulturais”[iii].
a aspiração do freud alemão é mobilizar
a sociedade rumo ao aperfeiçoamento das formas de cultura até agora
desenvolvidas. mas sua proposta de mobilização é da ordem da administração da
saúde pública e do “serviço intelectual obrigatório”. e para tal, as ideias do
freud alemão deveria ganhar o mundo. queria que sua teoria alcançasse o posto
de ciência. e, desse modo, sua psicanálise deveria alcançar todos os rincões do
planeta. foi então que, por volta de 1910, o freud alemão resolveu conhecer o
alcance da psicanálise aqui na américa latina. passou pelo brasil, pela
argentina e seguiu para a venezuela, especificamente para a bacia do orinoco –
um fato que é, em nome do pudor e da mitificação ocidental, insistentemente,
ocultado de sua biografia, mas que chegou até nós pela cultura oral de algumas
etnias indígenas isoladas que se encontram na amazônia até os dias de hoje. mas
o que ele não contava era que ocorreria um mau funcionamento no teletransporte
desenvolvido por seu amigo albert einstein. tal qual o ocorrido no episódio da
série de ficção científica “star trek”, chamado “mirror, mirror”[iv].
e assim, o freud alemão foi trocado pelo seu duplo piaroa. e assim, a
compreensão do sujeito erótico foi trocada pelo erótico da compreensão. ou
seja, só haveria como pensar a sexualidade, em todas as suas realizações, se existisse
antes um gesto primordial fundador de que aquilo que é proibido é na verdade a
necessidade da transgressão obscena primordial: assim se o corpo é proibido
anteriormente a qualquer sujeito erótico na cultura platônica-judaico-cristã
(também estendida à islâmica), é preciso restabelecer a ligação pré-gesto
primordial; é preciso reestabelecer a pulsão erótica grotesca.
pois
bem, a partir daqui, desde as margens da bacia do orinoco, quem assumiu o
desenvolvimento da psicanálise foi o freud piaroa. desde aqui a realidade foi
reescrita e assim se tornou:
kuemoilibi, criador e dono original da cultura e
da natureza, era um enorme pênis canibal de duas cabeças. suas bocas eram
vaginas com dentes muito afiados. uma cabeça, cuja aparência era a de uma anta,
comia carne cozida. a outra, cuja aparência era a de uma anaconda, comia carne
crua. avô/á do sono e mestre/a da escuridão. antes dele/a tanto o mundo
terrestre quanto o mundo celeste, ou seja, todas as forças do universo estavam
contidas no mundo subterrâneo do ânus-primordial, casa de tal ser mítico. a
cabeça-anta é a mestra das selvas. criadora de toda a topografia da terra –
montanhas, pedras, rios, cachoeiras – e do seu céu – sol, lua e estrelas. também criou os/as piaroa, conterrâneos/as do
duplo de freud. a cabeça-anaconda é mestra das águas. criadora das plantas
cultivadas, do curare, dos artefatos e das habilidades de suas respectivas
utilizações. ou seja, enquanto uma das cabeça de pênis com vagina dentada é
responsável pelos elementos naturais, a outra é responsável pelo conhecimento e
pelas capacidades culturais. no entanto, as criações da cabeça-pênis-anaconda
são “venenosas” e “selvagens”, já as da cabeça-pênis-anta são “neutras” e
“domesticadas”.
a cabeça comedora de carne crua cresceu à base
de um alucinógeno poderoso e venenoso. tal lhe deu a habilidade de criar a
caça, a pesca, as roças e a cozinha. por sua vez, a cabeça comedora de carne
cozida, passou todo o seu tempo mítico roubando os conhecimentos da outra
cabeça. mas. ao roubar tais conhecimentos, acabava por se envenenar também. no
entanto, nada conseguia criar. e por tal motivo, cometia atos violentos contra
os/as piaroa conterrâneos/as do duplo de freud, já que passava a vê-los/as como
animais comestíveis. se por um lado o alucinógeno poderoso e venenoso era
criador de conhecimentos, por outro, o uso do conhecimento era poderoso, no
entanto envenenado, mesmo que roubado por quem suas criações eram “neutras” e
“domesticadas”. não tinha jeito, todo uso de conhecimento tornara-se tanto
poderoso, quanto envenenado e selvagem. e numa incrível dialética sem síntese,
kuemoilibi, esse enorme pênis de duas cabeça e de bocas-vaginas-dentadas,
torna-se um/a caçador/a canibal implacável.
e
aqui entra nosso freud xamã piaroa. vendo que kuemoilibi capturava jovens em
armadilhas para comê-los/as, freud piaroa, mesmo tendo afinidade com tal ser
mítico, tenta inverter os valores de suas ações para, com isso, atrair
consequências dessa inversão: o canibalismo, conduta típica desse ser mítico
com relação à humanidade, deve ser rearticulada em sexualidade, e assim,
“comer” deve adquirir o significado de “trepar”.
kuemoilibi gostou da ideia. achou assim a
humanidade muito mais saborosa. mas, para essa inversão, nosso xamã propôs um
pacto: kuemoilibi deveria abrir mão de sua existência no tempo mítico e passar
a existir somente no tempo histórico, no tempo da humanidade. e assim,
aconteceu: o pacto foi firmado. no entanto, kuemoilibi era duplamente inteligente
e assim não aceitou tal pacto sem inserir uma clausura ambígua: kuemoilibi
passaria, não só a existir no tempo histórico, mas também passaria a viver
dentro de cada pessoa; ele/a seria a própria sexualidade humana. isto até a
chegada do próximo ciclo de tempo mítico. assim foi. assim está. nosso freud
xamã piaroa foi celebrado por todos/as.
o
tempo agora é o tempo histórico. a fertilidade venenosa dos fluidos corporais
deixa de ser assunto só do ser mítico. agora o conhecimento mora no corpo
humano e se concretiza por meio dele: é através da corrente sanguínea que a
psique circula pelo corpo, provendo cada membro e órgão com inteligência e
libido para agir; ao mesmo tempo em que, viver com os outros é estar sujeito/a
a absorver os venenos emitidos pelas excreções corporais das outras pessoas com
quem se vive. outra psicanálise deve ser pensada desde essa sífilis primordial:
por um lado, deve ser pensada a partir das relações corpos-pessoas, e por
outro, a partir das relações corpo-pessoa e mundo; corpos grotescos que
sofreram o aumento hiperbólico dos intestinos, órgãos sexuais, boca e ânus por
terem-se tornados a nova morada de kuemoilibi. a vagina e a língua que sangram, o ânus que
defeca, que sangra e que peida, a axila que transpira, a pústula que supura, a
boca que vomita, o pênis que ejacula e urina, cada apetite e processo
corporal gera as formas de conhecimento, pois são nossas aberturas ao mundo, e
tudo o que for fruto do poder criador de kuemoilibi (natural e cultural) deve
ser cuidadosamente purgado de seu veneno antes de se tornar benéfico para o
viver humano. ou em termos epistemológicos, conhecer é interagir com o
monstruoso (portanto poderoso e venenoso) tornando-o ridículo (o modo de como
simplesmente estamos no mundo) para a boa realização da sexualidade
(fertilidade e perversidade): corpo e conhecimento participam do mesmo eterno
inacabamento (funções sensoriais/intelectuais frágeis) e do mesmo princípio de
degeneração sem fim (excreções).
kuin-nawa
nosso
freud xamã piaroa é tanto o pai dessa nova psicanálise kuin-nawa, quanto é o
realizador de outra forma muito particular e inédita de produzir ciência e
conhecimento: a psique humana é o efeito fértil da excreção por orifícios
inadequados. seus estudos sobre essa
outra vida inconsciente tornaram-se referência obrigatória para a filosofia,
para as artes, para as teorias políticas e para as neurociências. vejamos um
exemplo, no campo da teoria política.
o aborto como origem da
democracia
(baseado no cântico de
freud piaroa, do baixo cuaos, em 1913)
a cabeça-pênis-anta queria obter um pouco de
caiçuma fermentada da louca cabeça-pênis-anaconda, o/a criador/a dos frutos e
do milho para o preparo dessa bebida, mas não conseguiu. mas a
boca-vagina-dentada da cabeça-pênis-anaconda consegue pegar um pouco da caiçuma
fermentada para dar à cabeça-pênis-anta. mas o/a criador/a dos frutos e do
milho para o preparo dessa bebida descobre que sua boca-vagina-dentada tinha
lhe roubado. e assim, no meio da caiçuma fermentada, ele/a colocara um cisto
venenoso para atingir a psique da pessoa que a bebesse. a pessoa morreria e
viraria um michê eunuco para a cabeça-pênis-anaconda trepar! a
cabeça-pênis-anta ficou louca/o só de segurar a cuia com a bebida! alucinada/o,
ela/e resolveu fazer sua própria caiçuma fermentada saindo à caça do papagaio –
o conhecedor da matéria prima para fermentar . ela/e afia os dardos da
zarabatana, e em suas pontas coloca um potente e venenoso alucinógeno. ela/e
sai para caçar e vê o papagaio num milharal comendo milho alegremente. o
papagaio é atingido pelo dardo envenenado. entorpecido e ferido, o papagaio voa
sem destino pelo mundo, apontado todos os outros frutos que podem ser
fermentados para fazer a caiçuma. em todo o lugar que ele defeca e vomita,
nascem milhos para a caiçuma. depois ele volta para onde comia milho
alegremente e cai morto.
ao procurar o papagaio morto, a
cabeça-pênis-anta fica completamente louca/o e abaçaiada/o desejando matar a
humanidade inteira. então ela/e prepara uma armadilha para cada pessoa. ela/e
transforma o papagaio num espermatozoide-monstro subterrâneo, pavoroso, para
ser instrumento para matar a humanidade. o plano fracassa. a humanidade
consegue escapar à sua fome canibal, mas fica loucamente aterrorizada. a cabeça-pênis-anta
então pega a cabeça-pênis-anaconda e a/o transforma no papagaio morto, e assim,
com sua zarabatana bate em sua cabeça. quando ela/e segura cuidadosamente, como
sinal de respeito, sua boca-vagina-dentada que a ajudara anteriormente, escorre
sangue pelo ânus do papagaio-cabeça-pênis-anaconda. quando ela/e se vira de
cabeça para baixo para ver o que aconteceu, já que compartilham o mesmo ânus,
ela/e mesma/o vomita sangue.
assim falou a cabeça-pênis-anta: “todas as
pessoas que viverem depois de mim, sofrerão disso. quando os homens treparem
com mulheres, sem estarem de acordo democraticamente que ambos/as estão
condenado as futuras gerações à essa minha maldição, vai escorrer sangue de
suas bocas, cus, bocas e vaginas.”
ao ferir o papagaio com o veneno na ponta de seus dardos,
a cabeça-pênis-anta cria o aborto. o que a morte do papagaio criou foi a
democracia. pois obriga homens e mulheres a agir de modo consciente sobre a
situação de que, gerar a vida é tão cruel quanto tirá-la.
pui’kwa
fertilidade e morte são simétricas. o odor anuncia ambas. entre a merda, o peido, o mijo, o suor, a menstruação, não há hierarquia. cada qual com seu odor. cada qual com seu poder sutil de “impregnação”. cada qual como realização da psique humana. na lógica piaroa, cuja expressão aqui foi exacerbada pelo freud não-alemão, essas excreções se permutam, seja por violência, seja por excesso, ou por inabilidade de dominar os processos corporais. por exemplo, o peido soltado em público está para o pensamento falado ou escrito, ou seja, “impregna” o/a outro/a que não o soltou. ou ainda, homens e mulheres menstruam e fertilizam entre si. a diferença entre esses dois tipos de menstruação é a fertilidade dos pensamentos dirigida de um/a para outro/a: cânticos e bebês. a língua do homem sangra da mesma forma que a vagina da mulher. ambos são, de certa forma, venenosos, mas ao mesmo tempo apontam para a fertilização e para a morte. é no sangramento e nos outros tipos de excreção que se purga o veneno de kuemoilibi numa estranha tragédia cósmica cujas forças se mostram inseguras por se realizarem em seres humanos que vivem, comem e fornicam.
pui’kwa
fertilidade e morte são simétricas. o odor anuncia ambas. entre a merda, o peido, o mijo, o suor, a menstruação, não há hierarquia. cada qual com seu odor. cada qual com seu poder sutil de “impregnação”. cada qual como realização da psique humana. na lógica piaroa, cuja expressão aqui foi exacerbada pelo freud não-alemão, essas excreções se permutam, seja por violência, seja por excesso, ou por inabilidade de dominar os processos corporais. por exemplo, o peido soltado em público está para o pensamento falado ou escrito, ou seja, “impregna” o/a outro/a que não o soltou. ou ainda, homens e mulheres menstruam e fertilizam entre si. a diferença entre esses dois tipos de menstruação é a fertilidade dos pensamentos dirigida de um/a para outro/a: cânticos e bebês. a língua do homem sangra da mesma forma que a vagina da mulher. ambos são, de certa forma, venenosos, mas ao mesmo tempo apontam para a fertilização e para a morte. é no sangramento e nos outros tipos de excreção que se purga o veneno de kuemoilibi numa estranha tragédia cósmica cujas forças se mostram inseguras por se realizarem em seres humanos que vivem, comem e fornicam.
léo pimentel – amante da heresia
[i] na mitologia tupi, abaçaê é o
nome de um espírito maligno que se apossa de um índio deixando-o enfurecido,
logo quem está enfurecido é abaçaiado.
[ii] povo indígena da floresta
tropical que vive atualmente ao longo da bacia do orinoco – principal rio da
venezuela, abrange 1/4 do território da colômbia, desemboca no rio negro que é
o maior afluente do rio amazonas.
[iii] frases de freud em “o futuro de
uma ilusão”.
[iv] quarto episódio da segunda
temporada.
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