márcia,
esta tua carta me passou uma mensagem simples, mas muito potente: desenhar é uma defesa acirrada da personalidade contra os ativistas da cultura espetacular (estes/as que andam espalhados/as por aí ocupando pontos chaves na cultura, na sociedade e no estado). o desenho seria uma expressão combatente cuja missão é fazer quem desenha encontrar consigo mesmo/a para reconhecer aquilo que lhe seria mais próprio: sua personalidade. processo deliciosamente paradoxal: para se resessibilizar e tomar posse de si mesmo/a, a personalidade, é preciso se ver externado/a, ou seja, se ver com outros olhos (ver-se desenhando o desenhado) . alheiamento voluntário para fins de um em-si-mesmamento. uma luta possível apenas corpo a corpo: ato de retomada contra os/as parasitas de toda energia vital. um olho que ao ver o mundo também vê a si mesmo (negatividade que esvazia e interrompe o automatismo que domina o atual). é extremamente interessante pensar que no ato de desenhar (realizar-se enquanto obra), a questão central é o corpo manifesto enquanto personalidade (marcia, eis a política que você desenha). sua política é um combate frontal contra escolarização maciça (cristalização do real). guerra (nada mesquinha como as televisionadas) contra um dos fundamentos do projeto iluminista (metro que serve para medir) que você mesma aponta: “vasto projeto de institucionalização do conhecimento que orienta o olhar para esquemas prévios”. o traço desse projeto o conhecimento nada serve para nutrir e desenvolver personalidade alguma. nada contribui para a formação do caráter de ninguém. gosto de tuas verdades aqui: a escola da instrução maciça é ilusionista, proíbe o desenho para proibir o pensamento e a vontade mesma de cada criança (que tudo joga no aqui e agora). sim, uma ditadura que mudou de estratégia: não mais submete os corpos violentamente, submete sim, com violência, a personalidade (esta que não aceita a escravidão para evitar a morte – sacrifício da carne). [continue lendo aqui]
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