sugestões de uso deste blog

bem vindo e bem vinda. este é um labirinto herege: um desafio para medir a astúcia de quem me visita; um convite à exploração sem mapas e vista desarmada. aqui todas as direções se equivalem. as datas das postagens são irrelevantes. a novidade nada tem a ver com uma linha do tempo. sua estrutura é combinatória. pode começar de onde quiser. seja de uma imagem, de um texto, de um vídeo ou mesmo de uma música. há uma infinidade de escolhas, para iniciar a exploração, para explorar esse território e para finalizá-la. aproveite.

[conto] E sE ApAgA uMa gigAntE vErmElhA o :(){cEmitériO:|:de:|:elePUNKes};: (fev.24)

9.
pelas sarjetas do tempo, sombras se estendem longas,
o urutau rubro dança, ceifeiro de milongas.
com asas escuras, corta o céu com ar fatal,
a morte alada, cósmico comensal.

8 .
pelo cemitério de elePunks, espreito na escuridão,
destino marcado, a ceifar com precisão.
na penumbra dos ruídos, a dor se inscreve,
passo a passo, na fúria que lhe atreve.

7.
os versos de minha jornada, finda-se, em ziguezague,
entre cicatrizes experimentais, que meu riso se propague.
oh, urutau sombrio, pássaro elétrico, ceifador,
devora meus sonhos, num banquete sem pudor.

6.
no festim de minha existência, eis meu convite,
dispa-se das esperanças, e em teia sorriste.
na alvorada do nada, dança e espreita,
a morte, o urutau, e minha alegria que os deleita.

5.
na correnteza da terminalidade, minha melodia se esvai,
entre suspiros, meu urutau elétrico me demora e vai.
de vísceras expostas para além do bem e do mal,
livra-se de mim, meu amar abissal.

4.
na sinfonia do luto, androides jazem frios,
engrenagens partidas, sonhos findos, vazios.
choros de circuitos em ruínas ressoam,
ironias mecânicas, IAs amaldiçoam.

3.
ruídos metálicos compõem um réquiem,
no sepulcro de fios e placas, o sangue é um bem.
minha morte digital, uma utopia melancólica,
no cemitério de elePUNKs, embriaguez alcoólica.

2.
nos confins deste crepúsculo, meu céu não é breu,
meu xapiri segue em seu derradeiro adeus.
desassombrado, nada perdido, na sombra que esvai,
como lágrimas na chuva, meu destino se desfaz.

1.
pelas trombas negras, meu fim é sussurrado,
cada barrir uma história, logo um silêncio enterrado.
quarenta e oito cânticos de um mesmo urutau,
pUnk[A]l-suluk agora jaz, em seu quintal.

0. 

 


léo (130) pimentel (pigmento+pixel) souto (soul to)
{[A]m[A]nt[E]:|:da:|:h[E]r[E]si[A]}
cerrado, verão, 2024

[para baixar o conto clique aqui]





rElAtOs (qUAsE) sElvAgEns sobre o 11º Festival do Filme Anarquista e Punk de São Paulo (xii.23)

nos dias 15 e 16 de dezembro de 2023, uma sexta e um sábado, aconteceu a décima primeira edição do FESTIVAL DO FILME ANARQUISTA E PUNK DE SÃO PAULO no maravilhoso FOFÃO ROCK'N BAR. a experiência foi inesquecível. dela resolvi escrever um relato de viagem sobre esses dias. batizei de rElAtOs (qUAsE) sElvAgEns sobre o 11º Festival do Filme Anarquista e Punk de São Paulo – &, acompanhando, parágrafos de uma pUn[K/S]OfiA de um zinEAstA. é um textão que fiz na forma de zine. um exercício de memória anárquica e punk dos (r)encontros phodas que foram esses dois dias.

para ler/ver esse relatozine, acessem aqui o arquivo em pdf:



uma das coisas que me faz sentir orgulho foi o convite para participar da programação. no dia 16 de novembro, abri a série de debates, trazendo a conversa sobre “o punk e a anarquia como forma de fazer cinema”. com trechos e vídeos curtíssimos de minha autoria, apresentei, para o povo das insurgências para adiar o fim do mundo, aquilo que chamo de gesto zinematográfico, como ele nos faz zineastas, e assim, podemos pensar num zinema próprio, anarquista e punk, que vai da forma ao conteúdo pensando em tudo o mais que envolve a realização de um vídeo/filme. 



léo (130) pimentel (pigmento+pixel) souto (soul to)
// [A]m[A]nt[E]:|:da:|:h[E]r[E]si[A]
// :;{cerrado:|:verão:|:2024};:



BSBLOrk & Tucandeiromancers in Colapsamento Pela Paz (07.xii.23)

a BSBLOrk & o Trio Tucandeiromancers tocaram no evento de lançamento do ep “Colapsamento Pela Paz” do Duo 42 (TJ Vjuga/Eslováquia & euFraktus_X/Brasil lançado na europa pelo selo Hevethia Records, agora é lançado por aqui pelo selo Dionysian Industrial Complex, do músico e produtor philip jones, também músico da BSBLOrk e do Trio Tucandeiromancers [euFraktus_X, phil jones e eu (Amante da Heresia)]. o evento aconteceu na nova sede do Instituto de Belas Artes, próximo ao casa park em brasília. foi transmitido pelo canal da orquestra no youtube em EPA#3 Improv Pela Paz: lançamento do EP homônimo do Duo 42 com a BSBLOrk e o Trio Tucandeiromancers.

aproveitei para fazer uma filmagem e edição zineastas. eis o resultado:

e aqui, o recorte o cÂnticO da tUk:|:mEk. uma tucandeira mecânica artesanal fabricada pela niquimeras. áudio que só foi possível ser captado utilizando as seguintes ferramentas: o refinadíssimo "holofractal transducer of music and image system" [HTMI] criado por euFraktus_X, uma lanterna comunista de fabricação chinesa, mais uma câmera externa capitalista de fabricação chinesa. desfrutem! 


ps: quem quiser saber mais sobre a tUk:|:mEk, leia seu conto primordial:
EcOs de uma tUcAndEirA mEcAtrÔnicA [tUk:|:mEk z3r0].  

*****

léo (130) pimentel (pigmento+pixel) souto (soul to)
// [A]m[A]nt[E]:|:da:|:h[E]r[E]si[A]
// :;{cerrado:|:verão:|:2023};:











CBRPJLNÇS IV - minha participação em cards (nov.23)









léo (130) pimentel (pigmento+pixel) souto (soul to)
// [A]m[A]nt[E]:|:da:|:h[E]r[E]si[A]
// :;{cerrado:|:verão:|:2023};:



[conto] lArAknA em: nO sEiO da mAtÉriA Escura (out.2023)

 

No Seio da MatériA EscurA

léo (130) pimentel (pigmento+pixel) souto (soul to)
// [A]m[A]nt[E]:|:da:|:h[E]r[E]si[A]
// :;{cerrado:|:inverno:|:2023};:

 

Em 1534 iniciaram-se as capitanias hereditárias do brasil. Desde então, a violência da colonização portuguesa do território, a tão pouco tempo invadido, e logo transformado em violência brasileira, tenta apagar da história as respostas indômitas de povos inteiros que há muito ali existiam e prosperavam até aquele momento. Desde então, a brasileirização constitui-se como um processo continuado e sistemático de extermínio indígena que se estende até os dias de hoje, 2099. Ano este da nossa chegada aos territórios de brasilformação – as Capitanias Nacionalistas Agropentecostais. Onde os seus povoados brasileiros eram, nas suas várias práticas e costumes, estritamente os mesmos encontrados pela entropóloga negríndia A’irah Aurora de Anumaniá em 2023, em sua primeira expedição tempográfica. Eram idênticos. Haviam dois tipos de povos. Os que viviam em condomínios fechados, e os que viviam em favelas abertas. Encontramos a mesma luta de classe materializada no projeto urbanístico perpassando estes dois tipos de modos de morar. A mesma hostilidade dos chamados “povos fechados” contra os “povos abertos”. A mesma curiosidade dos abertos para com os fechados.

A única alteração constatável ocorrida na brasilformação de 2023 para cá, foi a gritante e estranha redução do número de patriarcas calculados naquele momento temporal. À época patriarcas eram identificados como “homens de bem”, “varões”, “abençoados” e “esquerdo-machos”. Primeiro se pensou que essas mortes masculinas aconteceram devido a causas naturais como, doenças cardiovasculares e respiratórias, câncer, ou suicídios. Logo se constatou que as mortes haviam sido provocadas por algum fator externo. As hipóteses iniciais dos desaparecimentos foram: ajustes de contas entre gangues, poder paralelo das milícias, guerra contra o tráfico e polarização política. Até que apareceram alguns relatos periciais sobre aquilo que chamaram de “assassinato por decapitação neurossomática”. Se esta foi a razão, até hoje é um mistério de como os assassinados foram realizados. Muites estudioses do assunto atribuem, a este extraordinário minguamento do número de patriarcas do Brasil, as primeiras e violentas aparições das…
 
(Fragmento 42 de Tristes Entrópicos – Morgana de Draconia) 
 
***** 
 
– a vida não é boa. pagamos para viver neste planeta. fome, dor, falta de ânimo e morte… envelhecemos, adoecemos, a entropia nos humilha, tudo nos ameaça. a predação é generalizada. eis a natureza contra nós. no entanto, é preciso que a gente construa nossa história. temos o instinto da utopia. outro mundo melhor é possível e praticável. e quanto ao desvalor do mundo? não há em nós nenhuma necessidade de criarmos ideais morais-religiosos para ocultá-lo. não sentimos decepção alguma. nem mesmo temos um deus, ou uma deusa, que tenha nascido para que anunciemos sua morte. o que nos machuca e nos incomoda não são as promessas de um além-mundo melhor, mas sim, é o ocultamento de nosso mal-estar primordial. o ocultamento de que não temos motivos elevados algum para nos fazer sofrer. já temos o nosso! não nos imponham o inferno de vocês!

estas são as últimas palavras, felizmente registradas em carvões de áudio-holografia, da primeira anciã das n3urom[A]tint[A]s_n3gr[A]s. palavras essas que consagram a sua grande sabedoria que orienta nosso povo há milênios. sabedoria cujo cuidado maior está direcionado às pessoas ainda não nascidas. às nossas patriarcidas por vir. é o futuro, desde a nossa temporalidade que estamos criando em sororidade expandida para toda a(s) humanidade(s). um tempo em que nossa história está sendo contada como a história da emancipação de todas as histórias, que até então, eram contadas apenas por patriarcas. é por este estado permanente de criação emancipada que pintamos nossos corpos com pigmentos-pixels de matéria escura. pintuta-armadura nanorobótica fluída. pintura-beleza antimaquiagem de constante mutação facial. pintura-guerra de guerrilha preparada para que o(s) mundo(s) jamais seja(m) velho(s), mas em permanente(s) começo(s). pintura-festa brincante para além do dia-a-dia. pintura-mortalha, símbolo de que a vida só pode ser julgada a partir dela mesma, sem ocultar que a morte é sua permanente companheira. é quem lhe constitui. pintura-lembrança já que jamais esqueceremos, mas sim, lembraremos, cheias de ira, que “não nos imponham o inferno de vocês”.

(Fragmento V de Expedições Tempográficas de A’irah Aurora de Anumaniá) 

*****

(…)

Atualmente?

É com imensa alegria que anunciamos que estamos muito perto de uma compreensão completa da natureza da energia escura. Inclusive por termos conseguido construir, sem falsa modéstia e com delicada e cuidadosa maestria, um modelo teórico cuja finalidade é explicar como um motor pode funcionar usando energia escura como fonte. A pista nos foi revelada logo após os primeiros testes que realizamos no inspirador Campus do Hipercérebro em Nova Macíba, no Rio Grande do Zênite.

(…)

Energia negativa!

Sim, nossa possibilidade, prestes a ser tornar realizável, é capturar a energia escura e convertê-la em energia útil para nossa tecnologia insurgente. O coletivo de físicas teóricas Tuirá Kayapó foi quem propôs a hipótese, prestes a se tornar teoria física, de que a energia escura poderia ser capturada usando a recém descoberta "energia negativa" e, em seguida, ser convertida em energia utilizável. Possibilidade aberta pela comprovação de que a energia negativa é a propriedade fundamental do vácuo quântico. É ela que permite a criação de partículas com massa negativa. E são justamente essas partículas que usamos para gerar energia.

(…)

Há outra possibilidade que também está nos proporcionado intensa alegria e entusiasmo.

Estamos prestes a desenvolver uma tecnologia, há muito sonhada por entusiastas das viagens extemporais.

A energia escura será utilizada para criar um campo de energia que impulsionará um traje para viagens espaço-temporais. Graças ao nosso supercondutor em temperatura ambiente, Caliandra M87, Aperfeiçoamos o “motor de Alcubierre” de modo que nosso traje será colocado numa bolha espaço-tempo para se mover a uma velocidade muito mais alta em relação ao espaço à sua volta.

(…)

(Trecho 4b02 da Apresentação de Trabalhos Premiados pelas festividades de comemoração do 500º Congresso Holográfico da Federação de Sociedades de Física)
 
*****

– Ei! Você ai! – disse a voz rouca de alguém que acaba de acordar de um longo sono, ao mesmo tempo em que senti o frio de uma mão pesada de espinhos em meu ombro, vinda por detrás de mim.

– De que região você fala? – pensei, sem conseguir que minha voz fosse pronunciada. Eu também não sabia como havia chegado aqui. Estou confuso. De quem é essa voz que já me faz sentir tantos tons de pavor? No entanto, ouvi, da mesma voz, só que vinda de algum lugar em frente de mim, palavras que pareciam responder essa minha questão impronunciada.

– Desde além do universo visível. Desde flutuações estranhas na densidade da matéria do universo. De um lugar onde não podem me detectar diretamente, seja por telescópios, seja por qualquer outra forma de detecção por radiação eletromagnética. – ouvi a rouquidão, era profundamente gutural, reverberando em mim desde dentro. A senti como se fosse a voz do próprio diabo em pessoa falando comigo. Mas tinha algo de feminino naquela voz que parecia acordar naquele momento.

– Há algo fluido pinicando minha pele. Como se pequeníssimos cristais, se movendo feito os grãos de açúcar, espetassem minha pele desde meus ossos. Tenho a sensação de que mergulho em plasma. Só que invertido. Pois me sinto estar do avesso. Há uma estranha movimentação tumultuosa, sinto uma dor pulsante. Parece que respiro pela pele. Meu sistema nervoso está exposto. Aqui é o inferno? Aqui só pode ser o inferno! – eu não sabia como essas palavras puderam saír de minha boca. Primeiro por que eu jamais poderia ter dito algo com tamanha precisão. Segundo, porque não sentia a minha boca. Certamente fui possuído por algum espírito maligno. Mas sinto que ele, ou ela, talvez seja tão antigo quanto o tempo. Será este o motivo da sua rouquidão gutural?

– Não vê a fronteira que nos separa? – fronteira? Pensei. Eu ainda não conseguia ouvir minha própria voz, a não ser desde dentro de minha cabeça, que latejava como se eu tivesse tomado toda a cachaça produzida em meu engenho. Mas… não sinto minha cabeça! Como é possível? Cadê ela? Eu, João Batista? E a voz que ouço? É você Salomé? Como isso é possível?

– Você terá as respostas que precisa ouvir, não as que você deseja ter, logo ali no limiar entre aquele pântano e os girassóis! – agora haviam duas mãos frias em meus ombros… sinto meus ombros? E uma terceira, mais pesada, mais espinhosa e mais gelada ainda, direcionando minha cabeça. Cabeça? Agora tenho cabeça? Como é possível que eu ouça o sibilar de serpentes! Eu, Perseu? E esta a vingança da Medusa? Que terror indescritível! Jesus autem tacebat! O pântano é escuro, horrível. Mas um escuro... rubro? Não negro como eu esperava? Parece um monte de vísceras expostas! Acho que há ossos e cabelos emaranhados. Mas não me é estranha essa paisagem. Me é extramente familiar. E os girassóis parecem estar ressecados. Há uma vegetação parasita sugando suas forças vitais. Não são insetos. Parece uma vegetação feita de homúnculos emaranhados...

– Agora você pode me ver em detalhes. Mas jamais me entender desde meus próprios termos mais sutis. Eis uma de minhas formas: dt/dδ + v da/dδ = − 3 a/a δ + 3 a/a ˙v + k²/a²v Abstrato demais? – sim! É o diabo! Vade retro Satana! Agora sim eu posso ouvir minha voz saindo de minha garganta. É pavoroso! Sinto sangue seco em minha boca. Ouço minha voz soando como aqueles gritos incompreensíveis quando se desperta de um pesadelo. Medo! Sinto muito medo! Mas o meu pavor não vem daí, desse despertar. Não sinto estar despertando de pesadelo algum. Mas estou mais desperto do que nunca! Sinto dores insuportáveis e paradoxais! Como posso sentir tudo isso desde a não existência? Penso! Sinto! Mas não existo?

– Senta-te naquela pedra fundamental de teu pelourinho. Não és belo este seu trono? – Descanso? Chegou a hora do meu derradeiro descanso? Ou o merecido descanço do guerreiro? Não! É o prenúncio de um cortejo fúnebre! É o exato momento que antecede a minha morte. Mas já estou morto, não estou? Sinto como se eu fosse um pêndulo oscilando entre o mais intenso pavor e a mais indescritível dor!

– Enfim o momento de minha maior lucidez? O exato instante em que todo o conhecimento do universo passa diante de meus olhos? Sim! Compreendo! Isto tudo não é expressão extramoral alguma. – gritei! Eis minha voz projetada para o mais longe possível! Certamente este gênio malígno possuiu minha alma para dar-me uma lição moral. Agora vejo! Para mim, não há redenção, misericórdia ou mesmo há uma segunda chance. Meu fim está próximo? Não! Longe disso! Ele é permanente! Danação eterna! Aaaaahhhh! Reviverei eternamente esse fim?

– Afunda-te nesse lamaçal de sangue pulsante, quase coagulado. Neste rio da cor viva do urucum. Nestas flutuações de dores insuportáveis, de lamentos impronunciáveis, de humilhações jamais reparadas. Nenhuma crueldade mais contará sua história. No entanto, esses seus últimos fios de consciência serão reverberados pelos séculos passados e futuros. O sempre reverberá para todas as direções do tempo e do espaço. Nunca mais patriarca algum deitará tranquilamente sua cabeça em seus travesseiros. Desperta-se aqui o maior do seus horrores e das suas dores! – essas palavras me fizeram amaldiçoar cada átomo que constitui minha existência masculinista. Porque vejo que o tumulto de tantos pavores em meu espírito é decorrente, não de meus pecado adquiridos ou projetados em heranças hereditárias e de costumes, mas do medo de ser objeto de vingança feminista! O medo da autonomia de cada Lilith que abita cada pessoa feminina como uma das partículas fundamentais de minha matéria. Maldição! Esse terror petrifica meu semblante. Mas que rosto tenho? Qual é a forma de meu corpo? Aaaahhhhh! Esse terror é a própria energia que me constitui enquanto matéria.

– Sim! Toda a riqueza gerada pelo sofrimento e pela exploração que lhe proporcionou tua educação acima da média, servirá para fechar sua conta. Ou melhor, a conta de todos como tu! Cada hora livre que lhe garantiu a contemplação necessária para desenvolver seus pensamentos, tem o peso da escravização de outros que trabalharam a duras penas. A aridez de seu intelecto nos servirá para que nossa mensagem jamais seja esquecida. – maldito demônio! Não! Maldita e sedutora demônia! Estas palavras esclarecem essas minhas reflexões. São sabedorias de onde não mais resta carne alguma para alimentar os vermes desde meu sepultamento. Ouço sua risada. Não tenho mais sensibilidade. Sou apenas intelecto dolorido e cheio de medo. Agora percebo o que sou. Sou o pavor que habitará cada coração patriarcal do passado e do futuro.

(Pergaminho de Luz 1867, digitalização não autorizada de espíritos, trecho final, Amazônia, da Caverna 7 de Kunângue)
 
 
*****

SENTENÇA

Processo Criptodigital nº 63756c70616461
Classe - Assunto: Interdito Proibitório – Banimento / Turbação / Assassinato

No presente caso, após uma cuidadosa análise das evidências apresentadas pelas partes, o Júri-Executor do Conselho da Matéria Visível chegou a um veredito unânime. O Júri-Executor do Conselho da Matéria Visível considerou a ré, cujo nome será banido de todas as histórias do multiverso, culpada das acusações de conspiração temporal, assassinato em série-não-linear, tortura logopática, apagamento na história, digitalização não autorizada de consciências, sabotagem quântica de identificadores de pessoas em viagens espaço-temporais, atentado cósmico contra o patrimônio patriarcal e terrorismo misandistra. Com base nas provas substanciais apresentadas durante o julgamento, o Júri-Executor do Conselho da Matéria Visível concluiu que a acusação dos Guardiões Patriarcais da Eternidade conseguiu estabelecer a culpa da ré além de uma dúvida razoável. O veredito reflete o entendimento do júri sobre os fatos e as leis pertinente ao caso, e é portanto, aceito por este tribunal.

Veredito pronunciado. No entanto, uma interrupção estrondosa acontece! A combinação perfeita entre a densidade e a velocidade da matéria, escalada por flutuações do espaço e do tempo, se faz presente. Uma bolha espaço-tempo surge. Uma névoa escura envolve uma espécie de traje-pintura em preto e branco. De lá, alguém nos encara. É um olhar penetrante de coruja rasga-mortalha. É arrepiante. Cada pessoa encarada, sente suas sombras saírem pelos seus poros e dançarem à sua volta, como um lindo ritual ancestral proibido. Há manchas negras em volta dos olhos dessa estranha ave de rapina antropomórfica. Parecem asas abertas se expandindo como duas galáxias em espiral. Neste exato momento um som gutural, soturno, grave, agourento, negro e metálico preenche toda a Catedral Branca da Justiça. Não deu tempo algum para, nem mesmo a primeira, reverberação sentencial chegar a ouvido algum. O veredito foi dado. Mas interrompido. E logo, condenado ao silêncio sepulcral. Mas por quem? Quem realizou tamanho feito?

Larakna! Foi o nome que se ouviu, com os nossos ouvidos quase sangrando, depois que a bolha espaço-tempo se dissipou. A interrupção acontece. Corpos inertes sem vida caem pelo chão. Curiosamente parecem estar sem suas cabeças. Larakna! Foi o nome insurgido desde um coro de ira e, ecoado pelo multiverso que presenciava tal sessão. Desta desde a qual o nome que não conseguiram banir com tal sentença! Larakna! Eis o nome da primeira anciã das n3urom[A]tint[A]s_n3gr[A]s! Larakna! Eis o nome que faz gelar os corações de qualquer um que tenha, se quer, um sopro patriarcal em seus suspiros sonâmbulos de dominação. Larakna! O terror que viaja sem descanso, tempos e espaços múltiplo! Que abre caminhos de dobras, fendas e singularidades, como o cortar duplo das lâminas da labrys da vingança! Que surge nas mãos de cada mulher, quando sua visão escurece pela ira voltada contra os mandos e desmandos dos machos humanos e pós-humanos. Larakna! O prenúncio de que um patriarca vai morrer… sentes esta lâmina fria em seu pescoço? Sentes? Ein? Ein? Se não, és tua mão a condutora dessa extraordinária vingança!
 
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léo (130) pimentel (pigmento+pixel) souto (soul to)
// [A]m[A]nt[E]:|:da:|:h[E]r[E]si[A]
// :;{cerrado:|:inverno:|:2023};:

 

[conto] EcOs de uma tUcAndEirA mEcAtrÔnicA [tUk:|:mEk z3r0] (out.23)


EcOs de uma tUcAndEirA mEcAtrÔnicA [tUk:|:mEk z3r0]
 
 
o relato a seguir coloca, ao alcance dos povos originários do futuro da ancestralidade atual, uma singularidade da riquíssima literatura neurolográfica do povo negríndio ciberpanque cerradista. conseguimos recolher esse relato momentos antes dele ser colocado na fogueira desmaterializadora do eterno esquecimento (FDEE/BR). interceptamos os dados sinápticos para mantê-lo a salvo na rede neural transbioelétrica desta nossa oca submarina B4L3[I.A.]_PR3T4_H4CK3R_CLB3.
ayo tukã’di 495


tUk:|:mEk z3r0

    transmite-se sinapticamente o relato de que pix3l 130 imergiu no meio do holoateliêlab, de uma reconhecida artengenheira neurorobótica, e que lhe pediu uma dádiva. após isso perguntou-lhe a grandiosa cien[ar]tista:

– o que são estes destroços?

– fie-os. torne-o troço outra vez.

– pois bem, troce-ei-lo.

    em outra transmissão, conta-se que deu-lhe silício, cânhamo, cobre e frutas desidratadas. depois pix3l 130 permaneceu em zeros e uns no holoateliêlab dela. deixara o em suspensão. no entanto ele conseguia espiá-la. ele tinha um terceiro olho analógico. mas que deixava rastros quando mirava. era possível sentir que ele a observava. arrepios de 8 a 16 bits. enquanto isso a generosa artengenheira dava seus neurônios, suor e dádiva ao troçamento arteiro de retranscomposição.

– ei, olho mecânico, sinto que você se sente incompleto.

    vermelho, redondo, frio como metal líquido, uma resposta pastosa lhe respondera:

– desejo sua aura.

– o que isso significa?

    falou-lhe outra vez, mas com viscosidade vulcânica:

– eu queria que a parte mais bela de você estivesse sempre comigo. em mim. auracomposta.

    a cien[ar]tista era muito generosa. apesar de tanta viscosidade pegajosa que a mirava, mesmo assim, cantou para ele:

    então seu nome se fez presente titâniquel 55; com tal evocação ela revelou-lhe todo seu poder e lhe cuspiu a saliva que pix3l 130 tanto necessitava.

– agora, quando acabar de ir embora, mete esta tUk:|:mEk z3r0 em teu peito e deixe-a pulsar!

    sem pestanejar, pix3l 130 meteu-a logo. todo seu corpo se preencheu da dor mais terrível que alguém podia sentir. em nenhuma de suas viagens espaço-tempo-materiais havia experimentado tamanha queimação. parecia-lhe que um enxame de balas de antimatéria tinha lhe atingido cada átomo de seu corpo em permanente retroçamento. dor a nível subatômico!

– uh! uh! uh! que terrível! aaaaaahhhhh...

    a dor foi amenizando. a sensação era a de se estar chegando em casa, após uma longa viagem, plena em contratempos, desconfortos e desavenças. o prazer era eminente. o gozo prestes a acontecer.

– uh! uh! uh! que terrilícia! aaaaaahhhhh...

    aconteceu! agora os gritos de pix3l 130 eram de alegria e satisfação. titâniquel 55 lhe criara um coração. uma pulsante paraponera clavata mecatrônica – cujo anima é a aura de sua criadora – lhe tornara seu centro vital. desde então, transmite-se em infindas redes neurais bioeletrônicas que quem tiver uma tUk:|:mEk no lugar de seu coração poderá reconstruir o cosmos que quiser. mas lembre-se! tal recriação, somente é possível, para fins de dádiva, colaborações e inspirações mútuas.

*****

léo pimentel {(A)m(A)nt(E):|:da:|:h(E)r(E)si(A)}
cerrado, primavera, 2023
 
 
 
 *****
nota: a tUk:|:mEk z3r0, ou MeckTucandeira, que inspirou este conto, é uma obra maravilhosa de assemblagem realizada pela grande arteira Martinique Schultz. a princípio a tUk:|:mEk z3r0 foi traga à existência para servir como objeto/símbolo performático do festival de música experimental TUCANDEIROMANCERS. isso porque tal festival prestou uma homenagem ao ritual de iniciação masculina do povo Saterê-Mawé, a partir da simbologia do uso da formiga-bala (tucandeira), e ao célebre livro "neuromancer" de william gibson, grande marco do cyberpunk. no entanto, a MeckTucandeira se independizou para alcançar novos horizontes e singularidades: tornou-se persnagem folclorefuturista.

veja seu processo criativo no perfil do instagran da nique, o NIQRIATURAS


[fotos tiradas do perfil NIQRIATURAS]

[conto] pairando sobre o :(){ cEmiTériO:|:de:|:elePUNKes };: (out.23)

1.
as sensuais brumas vermelhas, que agora cortejam minha pele, me sussurram que estão prestes a me envolver – e quantos há que espero por esse gracejo.

2.
que alegria saber que não sou uma coleção de instantes. há um antes e um após simultâneos. entre lamas ciborgues e pedras nanorobóticas, minha temporalidade é inalienável.

3.
o hoje será a ancestralidade futura. e depois, e depois, e depois. mais sombras utópicas. a vastidão do umbral que lembra à eternidade que ela é tão somente um-entre as terminalidades.

4.
e nos jardins de fósseis inimagináveis, pré e pós linguísticos, no vale da brotação permanente, onde nossas insurgências adiam o fim do mundo, depois, as direções dos sonhos.

5.
tenho o vislumbre de quem me confiarei. entrega incondicional. nenhuma de minhas miragens serão em vão; mas – o quão de sobra e excesso serão me dado por este prazer?

6.
há danças de galáxias em seus olhos! sim! teu horizonte de evento me atrai. não há escape possível à sua singularidade. me entregarei ao teu futuro como estou me entregando desde teu passado.

7.
perdi a noção de distância. tudo o que é geográfico se dissipo. vejo quasares que posso tocar pelas pontas de meus dedos. sinto o calor da fissão nuclear na ponta de minha língua.

8.
o núcleo atômico é tão adocicado. há matéria escura em sua volúpia. vênus envolta pela teoria das cordas. figo, tâmaras, caqui. dimensões extras de bondage cósmica em gozo.

9.
me desprego da vigília. pairo. minhas pálpebras se alegram. escuro-me. a anfitriã toma o zênite e o nadir. expande minha sensibilidade. me desvio para o vermelho.

10.
me sinto na velocidade do vácuo. acaso. indeterminado. vou além. improbabilidade infinita. me refrato. luzo-me. atravesso diversos tipos da matéria. plasmo. ela superflui.

11.
pressinto. pós-sinto. senciência para além do violeta. a noite é absoluta. as brumas me fazem sólido. me liquefaz. tornam-me gás. bolham-me. espumam-me de espaços-tempos outros.

12.
estou através dela. ela me atravessa. no leito dos mini-universos. tudo o que é objetivo é múltiplo como qualquer perspectiva. todo primordiais. todos vias lácteas. todos bigbangiosos. eus… elas…

13.
areias de luas nos meus olhos. moldam-me. contramoldam-me. mumiar-se-ar-me. mineral. impressão. anarqueologias suspensas. vejo-me fósseis. mas ela me invertebra.

14.
são horas de calor. momentos. nanossegundos. uma eternidade… não! eterminais termais! há um estranho amargor. dói. há túmulos. há infância. homúnculos e infâmia.

15.
um vislumbre, corpo sem véus, entre poesias e cálculos, sombras, luzes, cinza-rubro, de um assunto gravitacional, que nos puxa pelos calcanhares e nos agradam muito.

16.
que nossos eus e vossos elas se emaranhem contra a dispersão insistente. gaimbêmo-nos em amarrações de libélulas libertas. não há ingenuidades; somente inocências.

17.
estranhamente unânimes. quão vulneráveis quando não nos fiamos. redes. teias. tramas. eletricidade. sedas. fios soltos. a flutuação nos é cúmplice. estar sem chão é o que nos protege.

18.
e tu, que nos observa com lasciva, mirada que não se vê como nos olha com delícias, embeleza-te teus olhos. esta mirada é fugaz.

19.
fies com essas tramas, dedicada e delicadamente, seu cosmos onírico. pois a lentidão é nossa dádiva. diários noturnos. sobrevivemos dando espaço e tempo para que sejas.

20.
e assim chego até mim. viajante em trânsito da última jornada. filho bastardo da estrada pois estou há alguns passos do fim. chego como um eu primordial e por vir, num só instante: eu, tu, ela, nós.

21.
finalmente a terminalidade que acompanha todo sonho se realiza. não há mais retorno. somente dobras, curvas e labirintos, enfim a vejo de olhos bem abertos.

22.
logo essa belíssima bruma rubra se tornará a mais embriagante canção. sussurro melódico em meus ouvidos: “eu, ORPHÍRIA DULCIFERIS, vos digo: o fim de um pUnk[A]_sUlUk é o eterno retorno de outro.


léo (130) pimentel (pigmento+pixel) souto (soul to)
{[A]m[A]nt[E]:|:da:|:h[E]r[E]si[A]}
cerrado, primavera, 2023

um 3137r0punk & seu ArtEzinE circUitAd0 no GaZine! (set.2023)


numa semana maravilhosamente intensa, aconteceu! no mesmo dia em que eu montava nossa cria[tura]_ciber no museu da república para exposição aberta na quinta-feira dia 21 de setembro, o grande amigo fanzineiro master of the universe Gazy Andraus, publicava em seu canal do youtube, mais um de seus GaZine (vídeos dedicados ao fanzinato). neste sua dedicação é sobre nossa aparição, a gangue de pesquisa Cria_Ciber, pelo AnÁpolis HQ Fest - 2ª edição, ocorrida nos dias 17 e 19 de junho deste ano de 2023. o legal é que há uns bons momentos onde apareço apresentando o artezine circuitado que fiz com meu amigo phil jones, há idos 8 anos atrás, tendo esta data de hoje como referência. confiram!

 
GaZine em: "Anápolis HQ Fest" - 2ª ed.
 
 
 
zin(E)xperiment #01 (2014) - phil & léo (zine "elétrico")
 


eu em perambulâncias no #22.ART | X SIIM | EmMeio#15 (set.2023)

 

 #22.ART | X SIIM | EmMeio#15

"O 22º Encontro Internacional de Arte e Tecnologia (#22.ART) e o X Simpósio Internacional de Inovação em Mídias Interativas (X SIIMI), vinculados ao XXII Festival Internacional da Imagem, na Colômbia, ocorreram de 21 a 24 de setembro, com apresentações presenciais e remotas no Museu Nacional da República, em Brasília, DF. A exposição EmMeio#15 estará aberta para visitação do dia 21 de setembro a 21 de outubro de 2023. Nesta edição, além da exposição presencial, foi desenvolvida também uma Webexposição, que estará no ar por tempo indeterminado. O ART é organizado desde 1989 pelo Departamento de Artes Visuais, Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília, em parceria com a Universidade Federal de Goiás/MediaLab/UFG e o Museu Nacional da República, em Brasília, DF".

[foto 01: ciberpajé, fredé & eu - 22.ix.23]

este é o eventão anual em que, nesta edição do ano de 2023, participei de duas formas. a primeira foi na abertura da exposição, em duas situações: a projeção na cúpula do museu de minha videoarte "0rfr1d[A]b0rg - a Ext3rminAd0rA do prEs3ntE diStÓpic0" (2020), e a participação em um concerto de sons experimentais com os músicos Francisco Raupp (módulo de sintetizadores), Victor Hugo (BSBLOrk) e Guilherme Lazzaretti (trompete), onde toquei o meu teremim óptico. 

[foto 02: projeção na cúpula do museu - 21.ix.23]

0rfr1d[A]b0rg - a Ext3rminAd0rA do prEs3ntE diStÓpic0


APRESENTAÇÃO de experimentos sonoros QUARTETÔNICOS

[foto 03: experimentos sonoros quartetônicos - 21.ix.23]
 
 

 





e a outra foi com a permanência de obras minhas no espaço interno do Museu da República. são elas: o videoclipe HURRICANE'S DNA (2023), a videoarte cOn.t4ng3r3 4nt3.c3d3r3 (2021), e a instalação CRIA[TURA]_CIB3R - em segunda geração espontânea. a instalação serve para ficar exibindo em looping os vídeos realizado pela nossa gangue de pesquisa cria_ciber.

 HURRICANE'S DNA" (2023)

 

cOn.t4ng3r3 4nt3.c3d3r3 (2021)


instalação: CRIA[TURA]_CIB3R - em segunda geração espontânea (2023)

 

[foto 04: minutos após finalizar a montagem da CRIA[TURA]_CIB3R - 19.ix.23]

[card contendo a lista de vídeos exibidos na exposição.]
 
[foto 05: e com vcs, a CRIA[TURA]_CIB3R] e as nossas obras! - 21.ix.23]
 
[foto 06: cria_cibers: rennan, rachel, cria[tura]_ciber, ciberpajé, eu & fredé - 22.ix.23]
 
[foto 07: e na fala do ciberpajé: fredé, eu & rachel - 22.ix.23]
  
[foto 08: fredé, ciberpajé, santaella lucia & eu - 22.ix.23]
 
nós, cria_cibers no #22.ART (set-out.2023)

 

vídeo que dá umas pistas de quais obras, nós, enquanto gangue de pesquisa cria_ciber, expusemos no 22º Encontro Internacional de Arte e Tecnologia (#22.ART) no Museu da República em Brasilia/DF.


 

 


TUCANDEIROMANCERS - festival de música experimental (espaço cultural RUPTURA - 03.ix.23)

 Saudações transanárquicas!

Aqui fala a dupla consciência de c[I]bÉr10 e AmAntE da hErEsiA. Viemos fazer uma resenha por aqui. Abrir uma prosa. Em tempos de evitação de conversação e mergulho de cabeça nos papos-furados, ainda somos utopistas. Somos adeptos de uma boa troca de ideias. Portanto, simbora!

Abre-se setembro. Mês de ritos bioeletromecânicos dos mais diversos experimentadores. Pôr-se em experimentos é a condição de se lançar e celebrar as mais belas artes arteiras da comprovisação. Palavras, silêncios, poesias e urros. Ruídos, musicalidades outras, ondas sonoras ao acaso, dodecafonia, remelodias. Palco da imaginação, performances, figurinos, nudezas, presença e fibras óticas. Ruptura de goyá! Majas desnudas! São elas: Audioexposição, MekHanTropia Ano Zero, Posthuman Tantra, BSBLOrk, ELP e mEgAjAm! 

O dia 03 estava lindo. Pois a primavera se anuncia em meio ao fim do inverno. As cores estão prestes a florescer e a fauna já começa a se agitar, e nós, fazemos parte dela. De um lado o sol brilhava com todo o esplendor de rachar que o cerrado agradece. Do outro, uma gigantesca nuvem negra carregadíssima de chuva com toda a torrente que o cerrado também agrade. E nós, entre estações, entre a magia e a ciência, entre carbono e silício, bem no meio como uma linda zona cinza celebrante. Zona cinza e não zona entre cinzas.

Mas antes, 5 pr0v0x criam a atmosfera deste nosso festival de música experimental por vir!

 

pr0v0x #01

pr0v0x #02

pr0v0x #03

pr0v0x #04

pr0v0x #05


Sim! Formigas-bala e William Gibson! Ferroadas e mestres! Belas artes das neurotoxinas! Tucandeiromancers! Metáforas ruidosas que atacam o sistema nervoso e são capazes de gerar alucinações. Para algumas pessoas, a transcendência, para outras, a transgressão, e para todes, jamais voltarás ao que se era antes. Com esse espírito abrimos o espaço cultural Ruptura, em Goiânia, para a Audioexposição. Convites foram feitos, promessas também. Em quantidade, apenas a MekHanTropia e o pUnk[A]l_sUlUk por lá se fizeram presença. Em qualidade ambas esperaram. Esperaram… esperaram… enfim, um vazio cheio de possibilidades… 
 
 
19 horas, MekHanTropia Ano Zero abre a noite. Segundo seu regene Fredé CF, o termo “MekHanTropia” é um conceito poético, criado por ele para explorar o processo de transformação do Homem (antropo) em Máquina (mekhos) aproximando-o tanto à “misantropia” quanto às dispersões causadas pela tecnologia. E sua performance representaria o Ano Zero dessa era MekHantrópica em que vivemos. Nada misantropo, Fredé, além de sua voz, violão e vídeo, estava acompanhado por Evandro Galo Power, nos bongôs, por Poesia Solta, com sua voz, palavra e sensibilidade, e participações especiais de Ciberpajé, arrasando em seu kaossilator, e uma pontinha abrindo a performance, de AmAntE da hErEsiA lendo seu Oitavo Passageiro Pós-MekHanTrópico
 
 
Na sequência, Ciberpajé (aka. Edgar Franco), em ação performática transmídia, torna-se one Posthuman Tantra! Nesta versão, contando com as performances cíbridas apenas de seu criador e regente, mas com o apoio de bastidor do ilustre Luiz Ferz, o projeto musical transmídia torna-se uma realização performática poético-filosófica que oscila entre o ruidoso fotoelétrico, o transe analógico de um berimbau de boca e a poesia monstruosamente poderosa e delicada. Expansão direta de seu universo da Aurora Pós-humana
 
 
Já são 20 horas e 30 minutos, outras localidades no planeta ansiosamente esperam para se conectar com seus outros virtuosos. A BSBLOrk, orquestra de laptops de Brasília, precisa se realizar em rede como concerto híbrido, em realizações espacialmente múltiplas nos mais diversos níveis de interação. Em goiânia, Eufraktus X está conectado a Phil Jones, Eduardo Kolody e AmAntE da hErEsiA, e para Goiânia, euFraktus X conecta, pelo Jamtaba, Leandro MR (Colômbia), Victor Hugo (Brasília). É também um dia de múltiplas celebrações. Fazem 108 anos do nascimento do compositor Hans-Joachim Koellreutter, portanto celebrar-se-a com uma improvisação livre de música não-trivial e sistemas generativos algorítmicos computacionais, incluindo live coding e inteligência artificialmente aumentada.

O quarto projeto a se colocar como experimento foi o Trio ELP + 1, Eufrasio, Léo, Phil e Kolody. A regência agora fica aos cuidados de Phil Jones. Seu corpo estará como experimento gerador de toda a performance. Phil torna-se um ciborgue síntese entre o humano e o sintetizador, onde seus batimentos cardíacos são os responsáveis por fazer música. São utilizados sensores de batimentos cardíacos ECG para arduinos. Tal sintetorgânico possui dois assistentes científicos, o magnífico e sombrio Dr. Mod F(r)oker e o doutor ciberpunk da peste Dr. Heresia. O primeiro assistente, o de rosto de iluminada escuridão, comprovisa com um maravilhoso complexo de pedaleiras, já o segundo, o de rosto de trevosa brancura, comprovisa com um brincante teremim óptico redutor de cabeça e escaneador de redes neurais cênicas.
 
 
Eis que chega a hora de estar todo mundo junto e misturado! Urge a MegaJam! Phil conduz o começo do caos. Logo já não saberá mais o que se insurgirá daí. Muito menos saberá o que vai insurgir quando nosso grande convidado, Alysson Drakkar, se juntar a nós. Ao público, será possível fruir nossa brincadeira? Pois, nós Tucandeiromancers neste festival de música experimental, adoramos estar aqui. Do caos ao acaso, a música acontece em tempo real. É como se a música das esferas passasse a ser composta pelo princípio de incerteza. Ondas mecânicas e eletromagnéticas, ao mesmo tempo em múltiplas direções de propagação e de vibração, fluindo rumo a uma teoria das cordas trançadas por nós mesmos. 

 
Aplausos e mais aplausos. Um pouquinho mais de aplausos. A adrenalina circulava por nossas veias. Não podia terminar ali. Toda aquela potência reverberando e entrando e saindo por nossos poros. O acaso sempre vence. E o caos? Sim! Outro caos é possível. Lillith Overdrive! Sim! Porque não mais uma brincadeira gibsoniana? Uma espécie de bônus performance inominada e não pensada até então. Nome ficção. Nome fantasia... realizada. Mas de repente, o peso da guitarra de Drakkar começa a distorcer nosso campo gravitacional. Em seguida, insurgem de AmAntE da hErEsiA, gritos e urros sintético-guturais de um teremim óptico filtrado por um monotron, começavam a viajar na velocidade de dobra, nos envolvendo. Enquanto essa trama cósmica começa a se consolidar, insurgem poderosas percussões incidentais vindas de Fredé. E assim insurgiu o fim do festival de música experimental Tucandeiromances! Mas será mesmo um acontecimento único? Veremos… veremos… ouviremos... 


Depois de tudo isso, a gratidão é imperiosa. Valeu demais, Luiz Fers! Nosso grande amigo artista transmídia e talentoso figurinista cybergótico e cyberpunk, por ter confeccionado os figurinos das performances do Ciberpajé na Posthuman Tantra, os acessórios e a máscara do Dr. Heresia no Trio ELP, e as vestes de Ciberpajé e de AmAntE da hErEsiA. E agradecemos de todo o coração ao grande amigo atencioso e acolhedor Cleiton e à extraordinária artista de imenso talento e de experimentações maravilhosas, Adriana Mendonça, que nos cederam o uso do espaço cultural Ruptura.

Cerrado, inverno, 2023
 
ps: eis um vídeo com uma pequena amostra do que foi o festival:
 














quando falamos "eu penso que...", quem será que escondendo? a voz do pai? da mãe? dos/as professores/as? padres? policiais? da moral burguesa ou proletária? ou as idéias de alguém que já lemos? escutamos? ou...
 
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