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bem vindo e bem vinda. este é um labirinto herege: um desafio para medir a astúcia de quem me visita; um convite à exploração sem mapas e vista desarmada. aqui todas as direções se equivalem. as datas das postagens são irrelevantes. a novidade nada tem a ver com uma linha do tempo. sua estrutura é combinatória. pode começar de onde quiser. seja de uma imagem, de um texto, de um vídeo ou mesmo de uma música. há uma infinidade de escolhas, para iniciar a exploração, para explorar esse território e para finalizá-la. aproveite.

por uma política sem sonhos nem esperanças



léo pimentel – amante da heresia

§ 01. na política, tanto o sonho quanto a esperança, assemelham-se à vingança: em razão do sofrimento com relação ao sem-sentido da existência e à falta de direitos, renega-se o que se pode fazer agora louvando um futuro ou uma instituição; renega o presente, vingando-se do mal-estar tornando-o mentira, crendo que, com isso se é capaz de aboli-lo.  

§ 02. é a condição de um por vir triunfante que dá sentido a toda paralisia política. a espera pacífica de que não haverá de lutar para poder caminhar e poder acontecer. um caminhar ainda distante, pois antes se deve passar por projetos coletivos unificados – abstração e universalidade de si; subjetividade homogeneizada sem mais conflitos; perda da capacidade de escolher.

§ 03. o sonho e a esperança são a própria privação da capacidade de julgamento e de valoração do estar no mundo. posturas mendazes que destitui o estar no mundo de seu valor presente para forjar um mundo futuro crido como verdadeiro e que, por tal forja e destituição, passa-se a adotar qualquer valor que seja positivo apenas ao que lhe garante esperar.

§ 04. longa experiência trazida do ocultamento do mal-estar que se vive: deste mal-estar que é proibido, desprezado, maldito e sem direito à existência. ocultamento que se torna fórmula para a destruição, esquecimento, mau entendimento, estreitamento e mediocrização do que é preciso fazer desde já: o anseio por si que rompe com a passividade do niilismo de estado.

§ 05.  o niilismo de estado é o ocultamento de que a política é realizada por pessoas. é a expressão da política realizada por palavras sobre o papel e por teorias abstratas. é a própria possibilidade do adiamento perpétuo diante de qualquer situação. é a capacidade de inventar o maior número de dificuldades e distinções sobre um só conjunto de fatos. é a capacidade de encontrar casos reais inventar casos imaginários para causar embaraço as situações presentes.

§ 06. o sonho e a esperança na política não são expressões de irracionalidade, tão pouco uma invenção totalmente livre. são expressões de formas de vida diante suas limitações. são o resultado de um sintoma de estar no mundo. ideologia da paz, pacificação, paralisia voluntária como superação do medo e como afirmação do sentimento de impotência e de decaimento da situação presente. o que se visa é submeter o presente a um futuro que se vive apenas como potência.

§ 07. porque se conserva um sonho? para onde se é levado na promoção da esperança? apenas para garantir uma autoridade contra a perda do poder e da autoridade mesma. nada tem a ver com o saber, com a clareza e com a verdade. são encantamentos que metamorfoseiam, mascarando, a história, a experiência no tempo e nosso lugar diminuto no universo, com uma racionalidade que as tornam providenciais.

§ 08. simulação de liberação. finge-se que prosseguimos. antecipação mágica de resultados. extasia-se com a especulação. pré-ocupação permanente, adiamento indefinido e auto reprodução ao infinito. a se perder de vista. circulação pura dos sonhos – mais-valia do onírico. esperança como vestígio de algo que desapareceu – utopia. 

§ 09. sonho e esperança, eis dois dos nomes dados ao fim das utopias. sonhando e esperando, acha-se que, enfim, encontramos a fórmula. não que o sonhar e ter esperanças sejam outras realidades para se engajar, mas sim que ambos fundamentam uma única realidade estando aí para ficar. são aceitações silenciosas sobre a irreversibilidade do que aí está. impossibilidades de se pensar alternativas radicais.

§ 10. simples permanência no jogo e participação ativa na conservação do mesmo. ser e estar no funcionalismo público – estado como patrão e imaturidade auto-imposta. ser e estar no engajamento por políticas públicas – toda a ação como apologia auto-referencial de políticas indiferentes e indiferenciadas. ser e estar no engajamento de políticas afirmativas – confiar o poder a políticos com pretensão ao poder. ser e estar em excesso de positividade – a menor negatividade é aniquilada pelo consenso virtual.

§ 11.  os efeitos dos sonhos e das esperanças são efeitos midiáticos. fascinações pela repetição (rito) e pela reconstrução midiática (mito) numa constante reatualização patológica de um futuro no qual todos e todas serão atores e atrizes. atuação simultânea e cumplice para nos sentirmos em vida até lá. no entanto, um “até lá” carregado de sentimentalidade ingênua, de bajulações e de vaidades canônicas. 

§ 12. o futuro como uma armadilha preparada para que o presente se deixe apanhar por debilidade e insuficiência. acabou-se a presença crua, bruta e dura do presente. nada mais se sabe sobre tal. assim o futuro é instituído para somente ele ser compreendido, liberado, mimado e reconhecido. é o que me dá todas as possibilidades e garantias de me repetir ao infinito.

§ 13. os detalhes tornam-se apenas detalhes. confiança exacerbada em “grandes verdades”. desprezo completo pelas sabedorias próximas e pequenas da cotidianidade. aceitação incondicional por toda preferência unilateral por este ou aquele gênero ou valor. covardia no por à prova o que se vive. hábitos diários como produto de incontáveis preguiças.


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