[03] numa incorpórea exaltação do espaço
- notas sobre “neuromance” (1984) de william gibson
l[É]0:|:pim[E]NT[E]l;:;[A]m[A]nt[E]:|:d[A]:|:h[E]R[E]si[A] no calango hacker clube , inverno, 2015
§01. época de beleza ao alcance do bolso ao mesmo tempo
em que se despreza o corpo. amor pelo espelho que se pode comprar. amor
por tudo o que é visto refletido: amai o simulacro sobre todas as
coisas. a melhor sensação corporal é aquela sentida como transcendência
incorpórea: o inconsciente religioso é quem trabalha por traz de toda
tecnologia – inclusive a do dízimo.
§02. roupas de marca? isso é coisa do passado. a onda
agora é tatuar as marcas de corporações. como tatuagens de cadeia;
marcas de gangues que mostram a qual facção capitalista se pertence; o
que se ama consumir e ser consumidx.
§03. não há capitalismo sem suas zonas foras da lei. o
ilegal é onde sua economia mais prospera. é fora das leis que sua
expansão mais se realiza: escravidão, narcotráfico, exploração sexual,
lavagem de dinheiro, relação público e privado, indústria da guerra,
experimentos com animais, cobaias humanas…
§04. a barreira contra a velhice aconteceu, no entanto,
para a imortalidade falta um passo. na verdade, estamos a um palmo de
distância entre a burguesia eternamente jovem, e como tal, pensa que é
única, e a classe operária com seu prazo de validade ainda curto. para
quê estender a vida se a distribuição dos prazeres da vida é desigual?
§05. classe operária: seu alojamento é dado pela
companhia a qual pertence; seu hino é o da companhia a qual pertence;
seu funeral é a companhia a qual pertence que garante; por fim, é tua
vida a grande propriedade da companhia a qual pertence.
§06. a matriz tem a sua origem nos jogos eletrônicos
primitivos; nos primeiros programas gráficos e nos experimentos
militares com expansores cranianos: serviço hedonista obrigatório;
serviço de entretenimento obrigatório; serviço de distração obrigatória;
por fim, serviço de alienação obrigatória.
§07. imagens-contaminação: imagens propositadamente
criadas com grande capacidade de multiplicação que utiliza para isso a
qualidade dos conhecimentos de uma mente hospedeira. imagem letal para a
sabedoria e para o livre pensar.
§08. há muito que a história humana é comandada por
multinacionais. moldam povos inteiros. onipresentes, onipotentes,
imortais. impossível de serem eliminadas. assassinam-se algunsalgumas
executivxs-chaves de qualquer uma delas, logo surge um enxame de novxs
executivxs para substituir seus postos.
§09. digitalismo: era antropocêntrica onde se vive a
incorpórea exaltação dos espaços virtuais. qualquer hipótese de se
considerar viver fora de algum deles constitui-se um retrocesso, uma
queda vertiginosa no mais profundo e obscuro viver materialmente – o
degenerado e pervertido viver em carne e osso.
§10. matriz: a soma do duplo digital de todas as coisas, o grande espetáculo do todo imaterial. amém.
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obs: terceiro texto lido no clube de leitura e laboratório de ideias: cyberpunks e a ética pirata. ciclo #01: antiguidade cyberpunk - “neuromancer” (1984) de willian gibson
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