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bem vindo e bem vinda. este é um labirinto herege: um desafio para medir a astúcia de quem me visita; um convite à exploração sem mapas e vista desarmada. aqui todas as direções se equivalem. as datas das postagens são irrelevantes. a novidade nada tem a ver com uma linha do tempo. sua estrutura é combinatória. pode começar de onde quiser. seja de uma imagem, de um texto, de um vídeo ou mesmo de uma música. há uma infinidade de escolhas, para iniciar a exploração, para explorar esse território e para finalizá-la. aproveite.

o bEIjO qUEEr de mInhAs IdEIAs-ArAnhAs

pensar

aqui não tenho de onde começar se não da ideia de que todo pensar sempre é a tentativa de destruir a ordem de deus, seja a da produção (espetáculo, mercado, capital) seja a do desejo (única sexualidade, única libido, de estrutura forte, discriminante e centrada na materialidade do corpo eleito como normal).  desse modo o ‘pensar’ acontece como o ‘viver formas de vida’, de tal modo que nos obriga a re-pensar a criação (arque-genealogia) e a natureza (moral, política, epistemológica, etc.) dos conceitos; onde uma forma de vida necessita de um trecho da visão de outra(s) forma(s) para criar um horizonte/contexto/rede/ecossistema de organização vivencial/afetivo/intelectual. e, é exatamente na tentativa de apreender uma forma de vida em um de seus trechos de visão é que se pode transmitir pensamento, dialogar. fora disso o pensamento se encontra em toda parte, exceto no próprio pensar. 

pensarpolítica

há um “pensarpolítica”, não uma política do pensar ou um pensamento político. pensarpolítica é a forma dominante de uma forma de vida obrigatória onde o que ali se pensa não tem como função o pensar mesmo. é um pensar em práticas e com determinados códigos que entra no design do poder – como o pensar promovido pelos meios de comunicação de massa (“pensarás isto ou não pensarás nada”) e produzidos pelos meios de circulação e ensino do pensamento especializado das universidades (“pensarás isto ou não há o que pensar”). é um pensar que faz de todo pensamento, fala e discurso, tecnologias de normalização e controle das formas de vida – administração e gestão calculada do pensar como um regime-pensamento direcionado para a indiferenciação e para a neutralização. tecnocracia destinada a produzir pensares sem pensamentos. fora desse cálculo em administração e gestão, o que há é pensares anormais, pensares variantes, pensares queers – pois para estes, pensar é viver como forma(s) de vida(s) e travestismo(s) afirmativo(s) que reduplicam o ser como potência(s) política(s).

transpensar

transpensar é a insurgência do pensar sobre o pensarpolítica. é insurgência contra qualquer pensar totalizante da história, da realidade social, da cultura, da linguagem e dos fenômenos subjetivos. é insurgência contra as tendências que universalizam de imediato sua criação/invenção/composição de pensamentos. se o pensarpolítica quer se assegurar como lugar estrutural de desdramatização (ocultamento dos conflitos de interesse em todos os níveis), o transpensar se move com explosivos pronto para qualquer implosão. prontidão esta que se compõe como peculiares ironias de práticas artificiais (o artificial não é o oposto do natural, mas sim o mais natural do natural), desidentificação (transbordamento da identidade pelas suas margens), identificações estratégicas (desnaturalizar diferenças identitárias), desvios (mimese desviada, paródia, performance, margens) e desontologizações (liberar pontos fixos que interrompem a liquidez, o fluxo, a incerteza, o acaso, a aposta e a circulação do psíquico, do sexual, do pensar).   

transpensamento

um transpensamento é uma criação/invenção/composição desde um conflito reflexivo dramatizado (nada de melodrama) entre o sujeito deslocado da enunciação científica, com a multiplicidade de sujeitos possíveis que insurgem contra os saberes/vidas sujeitados/as. é um gesto à experimentação (crua e, muitas vezes, indigesta) e ao risco (dual e antagônico). é linha de fratura que desafia operando transfigurações. é variante e instaura outras ordens de materialidade, como por exemplo, uma linguagem/manifesto/ação queer que desmistifica conceitos, que desontologiza sujeitos da política, e nos alerta sobre a sobremitificação de mitos usados, tanto pela cultura “nativa” quanto pela cultura globalizada, para fins de oprimir corpos e ideias. não é preciso ser especialista, ou fazer parte de um grupo privilegiado, ou ainda, ter qualquer espécie de pacto social ou de gueto, para ser capaz em ter sucesso no deciframento de tal criação/invenção/composição. mas é preciso um determinado esforço reflexivo, um engajamento epistemológico. no entanto, é válido lembrar que um transpensamento não está condenado nem ao silêncio, nem ao calar-se forçadamente, mas sim a uma surdez voluntária que atua como violência da coisificação – preconceito cínico do fazer desaparecer. surdez esta que estigmatiza o transpensamento com uma resistência à “importação”, tratando-o como imigrante clandestino e ainda, reduzindo-o, antropológica e etnologicamente, à expressão de minorias exóticas e condenadas à circulação de guetos.  

três exemplos

[1] o famoso aforismo einsteniano ‘deus não joga dados’ (gott wuerfelt nicht) adquire, em português, um significado ainda mais profundo que o pretendido. einstein quis dizer que os ‘dados’, isto é, pedras de jogar, não são protótipos dos fenômenos da natureza, porque esta obedece a regras preestabelecidas. em português surge o segundo sentido de ‘dados’ como matéria-prima do conhecimento. menciono isto a título de curiosidade, como exemplo de uma ironia (quem sabe sabedoria?) espontânea da língua. – vilém flusser (“língua e realidade”, 2007)

[2] “a sexualidade é muito comparável às línguas. aprender outra sexualidade é como aprender outras línguas. e todo mundo pode falar as línguas que quiser. há apenas que aprendê-las, igual à sexualidade. qualquer um pode aprender as práticas da heterossexualidade, da homossexualidade, do masoquismo...” – paul b.preciado (“manifiesto contrasexual”, 2002)

[3] “in my language” (video) de amelia baggs: “the first part is in my "native language," and then the second part provides a translation, or at least an explanation. this is not a look-at-the-autie gawking freakshow as much as it is a statement about what gets considered thought, intelligence, personhood, language, and communication, and what does not.” (2007)


léo pimentel, amante da heresia, outono, 2015

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quando falamos "eu penso que...", quem será que escondendo? a voz do pai? da mãe? dos/as professores/as? padres? policiais? da moral burguesa ou proletária? ou as idéias de alguém que já lemos? escutamos? ou...
 
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