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bem vindo e bem vinda. este é um labirinto herege: um desafio para medir a astúcia de quem me visita; um convite à exploração sem mapas e vista desarmada. aqui todas as direções se equivalem. as datas das postagens são irrelevantes. a novidade nada tem a ver com uma linha do tempo. sua estrutura é combinatória. pode começar de onde quiser. seja de uma imagem, de um texto, de um vídeo ou mesmo de uma música. há uma infinidade de escolhas, para iniciar a exploração, para explorar esse território e para finalizá-la. aproveite.

02 [(cor)respondência segunda] - o retorno do diabolus à marcia tiburi


02
[(cor)respondência segunda]


assim falou marcia: “a fotografia, não apenas como superfície que guarda uma memória, é ela mesma um gesto de memória”. 

marcia, hum... fotografia... mais um suporte de comunicação... o que ela é enquanto superfície? letargia? e enquanto gesto? brincadeira de estátua? penso que faríamos um bem danado à fotografia se a libertássemos da memória enquanto tempo da história. e assim, livre ela seria apenas forma de outro tipo de tempo. forma mochileira de invenção mítica, ou seja, de pensamento. desse modo a fotografia e sua mochila nos faria pensar (tempo profundo e transversal – revivente e anacrônico) e não apenas lembrar (tempo superfície e histórico – cansado e crônico). a memória sem matizes anacrônicas é algo pesado e ama respeitar as fronteiras. o pensamento não. no entanto, o crônico é necessário. pois é ele quem vai deixando o rastro de nossa revivência. fotografia mochileira e cigana. fotografia caminho e caminhante. fotografia processo vivo que já foi somente enquanto continua sendo. 


assim falou marcia: “a fotografia nos ensinou a ver”.

marcia, assim como nos des-ensinou a ver? o que vemos e o que não vemos? ostentação e descrição? um instante decisivo e arranjo teatral do fotografado? o dentro e o fora da cena? o olhar de quem fotografa e o olhar de quem vê a fotografia? detalhes invisíveis à atenção e o acaso previsível de algum fenômeno? referência e mediação? iconicidade e representação? ver e fazer ver? retenção de tempo para o movimento do olhar? visibilidade e vivenciabilidade? sim, é preciso um pensar crítico e atuante sobre uma possível pedagogia do olhar e do ocultar; sobre mais esta brincadeira de criança; sobre esta pedagogia industrial e de infantilização; sobre este dia a dia ilustrado que induz a um mesmo pensar (deixar de pensar sobre o mundo) e a um mesmo agir (pensar apenas sobre o ilustrado); sobre este reforço da normalidade. precisamos de um olho que pensa; de uma visão que não fetichize suas próteses; de um olho que desconstrua a realidade da fotografia em sua pretensa objetividade e veracidade. mesmo destas que compõem “nossas” memórias artificiais, como o facebook, por exemplo. 


assim falou marcia: “a vida digital dispensou o analógico que já tinha iniciado a dispensa do corporal”.

marcia, penso o corporal sempre como a nossa dimensão do vivido. do lado da fotografia, penso o corporal como sendo a dimensão dela que nos suga, enquanto a estamos vendo, para dentro de sua dimensão imagética. um ato de sucção que constrói os nossos sentidos. desse modo, tanto o incorpóreo do analógico e do digital, somente assim o são, enquanto puramente visual, ou seja, enquanto exigência de presença para mera visualidade; enquanto o visual não for realizado enquanto globalidade do sentir. do outro lado, a dispensa do corporal é de inteira responsabilidade nossa. nós somos quem estabelece os limites de nossa visualidade mesma. dois bons exemplos disso são: aquelas irritantes faixas amarelas nos chãos dos museus que nos impedem de lambermos as obras de arte, e aquela pressa que temos de pensar que já sabemos, pela simples olhadela, o que está presente numa fotografia. 


assim falou marcia: “enquanto a fotografia revela o inconsciente óptico, a filosofia revela nosso inconsciente conceitual”.

marcia, adorei esses dois tipos de inconsciências reveladas! ainda mais por me fazer pensar nessa “revelação” como sendo o resultado de um processo químico, como o da fotografia, e não um processo divino, como o da religião, ou um processo de desvelamento como o de aletheia, como o na filosofia tradicional. como você colocou, a filosofia torna-se química pura. também na medida em que dizemos que há uma química entre duas ou mais pessoas. você sugere que fotografar e filosofar tem este tipo de química profunda, mais do que a situação de que um ato serve de metáfora para o outro. você sugere que há um processo químico que revela nosso inconsciente conceitual! e este processo, poderíamos reconstruir da seguinte maneira: há, pelo menos um conceito latente registrado em nosso “filme” inconsciente que vem à tona por concentração ou diluição de algum agente (química entre alguém e aquilo que a faz pensar), temperatura (seu estado de humor), agitação (o corporal enquanto dimensão do vivido) e tempo (aquele cônico e anacrônico falado acima). para além da metáfora, um exemplo aplicado a você, marcia: o conceito “filosofia cinza” estava registrado em seu “filme” inconsciente erótico, onde seu corpo é um texto, que veio à tona por concentração do agente “evisceração”, da temperatura “melancolia”, da agitação “desvio e isomorfia” e tempo crônico da investigação e do anacrônico “do acaso da descoberta”. 

léo, amante da heresia 


estátua de sapho - praça pública em ilhéus | léo pimentel | out|2012

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quando falamos "eu penso que...", quem será que escondendo? a voz do pai? da mãe? dos/as professores/as? padres? policiais? da moral burguesa ou proletária? ou as idéias de alguém que já lemos? escutamos? ou...
 
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