sugestões de uso deste blog

bem vindo e bem vinda. este é um labirinto herege: um desafio para medir a astúcia de quem me visita; um convite à exploração sem mapas e vista desarmada. aqui todas as direções se equivalem. as datas das postagens são irrelevantes. a novidade nada tem a ver com uma linha do tempo. sua estrutura é combinatória. pode começar de onde quiser. seja de uma imagem, de um texto, de um vídeo ou mesmo de uma música. há uma infinidade de escolhas, para iniciar a exploração, para explorar esse território e para finalizá-la. aproveite.

Teses piratas sobre Julio Cabrera

 
1
A principal insuficiência de todo o vitalismo de até então - o de Cabrera incluído - é que a questão do valor da vida, pensada a partir da vinculação entre moralidade e condição hunama são tomadas apenas sobre sua habilitação regulativa (seja ela negativa ou positiva), mas não como vertigem que fascina mais do que os telhados por onde se caminha. Por isso aconteceu que o lado autofágico foi desenvolvido, em oposição ao vitalismo, pelo niilismo - mas apenas teleologicamente, pois o niilismo não conhece a aposta. Cabrera quer escolhas realmente distintas de qualquer situação que leve à idéias metafísicas, mas não toma a própria vivência como jogo do bicho. Ele considera, por isso, em sua Ética Negativa,  apenas a reflexão negativa como genuinamente mortal (“questões mortais”), ao passo que a aposta (caos, inércia, artifício) é tomada apenas em sua forma filosófica. Deixando de lado, o significado da atividade viciada em jogatina, de crítica da aposta em tempo real.
2
A questão de saber se à condição humana se vincula ao valor da vida não é uma questão de habilitação regulativa, mas uma questão de jogatina. É na aposta que o ser humano tem de comprovar o valor da vida, isto é, afirmação de algum vitalismo, afirmação de algum niilismo, ou a afirmação do caráter jubiloso do jogo. A disputa sobre vitalismos e niilismos que se isolam da jogatina é uma questão meramente per se.
3
A doutrina vitalista de que a vida é efeito de escolhas, de que a vida valorada são, portanto, efeitos perfeitamente fatuais e filosoficamente descritíveis, esquece que tudo aquilo que está em jogo são colocados precisamente pelos/as próprios/as jogadores/as e que a banca do jogo é ela própria o vazio. Ela acaba, por isso, necessariamente, por impedir que a própria intuição de jogatina é algo construído historicamente.
A consciência do jogar por qualquer valor, desvalor ou avalor da vida só pode ser tomada e radicalmente entendida enquanto intuição de jogatina.
4
Cabrera parte da crítica das éticas vigentes (afirmativas da vida), da não aceitação do valor positivo da vida, filosoficamente e num mundo prático. O seu trabalho consiste em restituir o desvalor da vida humana no plano do ser. Ele perde de vista que o reencontro com um novo começo - um segundo lançar de dados - ainda fica por fazer o principal. É que o fato do plano do ser se destaca de si próprio (tempo de jogatina) e se fixa, em um reino estrutural, não dinâmico, só se pode explicar precisamente pela distribuição universal e pela fragilidade da escolha nesse mesmo plano do ser: fixo e inseguro por tal. É esta mesma especificação do plano, portanto, que tem que ser primeiramente compreendido em sua intuição de jogatina constituída historicamente por meio da aposta constante. portanto, depois de, por exemplo, o/a apostador/a pelo direito de morrer estar descoberto como o segredo do suicida, é o primeiro que tem, de ser ele mesmo intuído a posteriori e praticado enquanto aposta.
5
Cabrera, não contente com a reflexão negativa, faz uso da provisória e sempre frágil recusa, mas não toma o valor da vida como aposta de um viciado/a em jogatina.
6
Cabrera resolve o plano do desvalor estrutural da vida humana. Mas o desvalor estrutural não é uma decisão perfeitamente fatual e filosoficamente descritível. Ele é o conjunto de dados lançados.
Cabrera, que está isento dessa crítica em partes, é, por isso, obrigado: 1. a registrar o suicídio como possibilidade fatual e moral da pessoa negativa enquanto idéia regulativa; 2, na pessoa negativa, por isso, a condição humana só pode ser enquanto “sobrevivente”, como consciente e lúcido “não-suicida”.
7
Cabrera não vê, por isso, que a lucidez de “não suicida” é mais uma regulação social e que o indivíduo “sobrevivente” que escolhe não morrer pertence a mesma determinada forma de sociedade da lucidez daquele indivíduo que pretende viver a qualquer custo.
8
Viver em sociedade é fundamentalmente aposta. Todas as idéias reguladoras que administram qualquer vitalismo e niilismo encontram seu princípio de insuficiência na prática da jogatina para com a vida e na intuição que daí se forma.
9
O máximo que a reflexão negativa consegue, isto é a habilitação negativa do desvalor da vida enquanto escolha, é viver suficientemente sem risco, perigo e aventura.
10
O ponto de vista do antigo vitalismo é a lucidez niilista; o ponto de vista do novo vitalismo é a jogatina, ou o vício de se jogar com a vida.
11
Os filósofos negativos têm apenas autofagido a vida de diferentes maneiras; a questão, porém, é apostá-la.

Comentários:

Postar um comentário

quando falamos "eu penso que...", quem será que escondendo? a voz do pai? da mãe? dos/as professores/as? padres? policiais? da moral burguesa ou proletária? ou as idéias de alguém que já lemos? escutamos? ou...
 
[A]m[A]nt[E]:|:d[A]:|:h[E]r[E]sIA © Copyright 2009 | Design By Gothic Darkness |